domingo, 28 de dezembro de 2014

Nasce o “bolo de noiva” nacional

No contexto nacional, o impacto dos edifícios escalonados sobre a paisagem urbana levaria o escritor Mario de Andrade a chamar São Paulo de “cidade bolo de noiva”. Ele associava o desenho escalonado dos topos dos prédios paulistanos com a típica sobremesa das festas de casamento e criticava a mentalidade de seus cidadãos e gestores que não compreendiam as ideias do urbanismo moderno de Le Corbusier. Ideias que se mostravam, todavia, distantes dessa cidade que construiu seu sistema de circulação viária radio-concêntrica inspirada nas reformas de Haussmann – a partir da abertura de ruas retilíneas, demolições, alargamentos, correções de alinhamento e conjuntos contínuos de edifícios que ocupavam as diversas do lote de maneira a formar perspectivas – e ainda se utilizava dessa tipologia arquitetônica escalonada dos arranha-céus americanos do início do século XX.

No entanto, ignorando a critica do modernista, a proposta do escalonamento como possibilidade de aumentar as alturas dos edifícios já havia aparecido de maneira clara no artigo 145 do ato nº 663 de 1934.
Além da altura máxima permitida para as construções no alinhamento das vias públicas, poderão ser construídos pavimentos recuados desse alinhamento, desde que fiquem as partes mais altas dos recuos, dentro da linha que liga a intersecção do alinhamento oposto com a horizontal da guia do passeio ao ponto mais alto permitido no alinhamento das vias públicas, do prédio a construir.
Diversos outros dispositivos legais presentavam este recurso. O decreto lei nº 41, em seu artigo 4º, estabelecia os recuos mínimos necessários para a elevação do volume do edifício a partir de 39 metros de altura na Avenida Ipiranga até a cota de 52 metros de recuo deveria ser 2,5 metros, além dessa altura, o recuo passaria para 4,5 metros.
O artigo 11º do decreto lei nº75 estabelecia recuos laterais e frontais dos edifícios localizados ao longo da Avenida 9 de julho. Descreveria de maneira clara as possibilidades de construção altura ao longa da via .
No entanto, o dispositivo legal que alteraria de vez o perfil do Centro seria o decreto-lei n 92 de 1941, que estabeleceu o crescimento vertical com recuos para toda a zona central.
Acreditava-se que o uso dos recuos deixava o volume em evidência, incentivando assim o tratamento das diversas superfícies e não apenas na fachada principal.

Bibliografia: Costa, Sabrina Studart Fontenele – relações entre o traçado urbano e os edifício modernos no Centro de São Paulo (1938 / 1960) 

quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

O Código Novaiorquino na paisagem de São Paulo.

Dizia sobre o urbanismo paulistano Prestes Maia em 1945: “em matéria de urbanismo geral, iniciamos o zoneamento sistemático. Tarefa não fácil em uma cidade existente cheia de interesses criados e vícios de concreto armado, que só o tempo pode corrigir. Em diversas novas artérias centrais na impossibilidade e na desnecessidade de exigir uma uniformização absoluta de fachadas, à francesa, temos estabelecidas alturas “normais” além das quais os prédios só podem subir mediante recuos sucessivos.
São Paulo copiou Nova York
Aproximamo-nos das silhuetas norte –americanas após o zoning de 1916, e evitam-se os paredões laterais nus tão usados para pavorosos reclames”.
Esse código nova-iorquino , ao qual Prestes Maia se inspirou para determinar como seria São Paulo, foi estabelecido para controlar o crescimento vertical na cidade depois que um arranha-céu de 42 andares – Equitable Building (1915)- prejudicou a insolação e iluminação dos prédios vizinhos. Isso acarretou na diminuição do valor dos imóveis privados de luz.
Desta maneira, foram estabelecidos recuos sucessivos nos pavimentos superiores dos edifícios de maneira a restringir o percentual de ocupação dos lotes. No entanto, a lei de zoneamento de 1916 traça sobre cada terreno ou quadra da superfície de Manhattan um invólucro imaginário que define as alturas máximas permitidas para construção. A lei toma o (edifício) Wvolworth como norma: o processo da mera multiplicação pode avançar até determinada altura; a partir dela, o edifício deve se estreitar em relação à linha do terreno, seguindo certo ângulo, para não impedir a entrada de luz nas ruas. Portanto, se corresponder a 25% da área do terreno, uma torre pode alcançar alturas ilimitadas.
Acreditava-se que limitando o volume do edifício, a entrada de luz e ar nos edifício vizinhos seria garantida  e a quantidade de pessoas em seu interior diminuiria de maneira a também aliviar o trânsito na vizinhança.
A lei de 1916 apresentava uma proposta de paisagem urbana para a metrópole americana, uma vez que sugeria que a multiplicação do solo urbano deveria, ser realizada com um desenho específico e não mais em uma extrusão do desenho do lote em alturas ilimitadas.

Bibliografia: Costa, Sabrina Studart Fontenele – relações entre o traçado urbano e os edifício modernos no Centro de São Paulo (1938 / 1960)


segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

A Lei de Prestes Maia estabeleceu a altura dos edifícios no centro de São Paulo

O decreto lei nº 92 em seu artigo 5º estabelecia que a altura mínima dos edifícios seria de 39 metros, equivalente a onze pavimentos normais, inclusive térreo, na avenida São João ( no trecho entre a praça Antônio Prado e a rua Duque de Caxias) Largo do Paissandu, Praça Julio de Mesquita, Largo do Arouche, praça da República, abrangendo as ruas que contornam o edifício da Escola Normal, rua Vieira de Carvalho e avenida São Luiz.
Skyline Jardins
Enquanto que se estabeleceu que a altura mínima seria de 22 metros, equivalente a seis pavimentos normais, inclusive o térreo, foi para a avenida São João, entre a rua Duque de Caxias e a praça Marechal Deodoro, praça Marechal Deodoro , Avenida general Olimpio da Silveira, Praça Padre Péricles, largo da Sé, Largo São Francisco, Avenida Rangel Pestana, Largo da Concórdia e para os novos trechos da avenida de Irradiação. Tais definições demonstraram, todavia, que as alturas dos edifício ainda eram determinadas pela largura das vias. No entanto, a possibilidade de romper estes limites pré estabelecidos se dava pelo uso de recuos sucessivos ou pela construção de fachadas contínuas a partir do remembramento, dos lotes.
O escalonamento, já citado quando se tratou da avenida 9 de julho, foi um recurso adotado em diversos momentos da história de São Paulo e marcou o desenho do skyline da cidade.
Em texto de 1945, o prefeito  Prestes Maia explicava o uso dos recursos sucessivos existentes nas cidades americanas: “a forma piramidal em degraus pode favorecer o aspecto das ruas e conciliar a uniformização das fachadas com a movimentação do skyline”.
O artigo nº 121 do Código Arthur Saboya de 1929 foi o percursor deste dispositivo legal ao deixar em aberto a possibilidade de aumentar o número de pavimentos dos edifícios localizados em vias com menos de quinze metros, situados na zona central ou urbana, caso fossem recuados os edifícios do alinhamento e esses espaços livres fossem incorporados à via pública. Este parágrafo foi influenciado pelo Código de Construção  de Nova York, citado inclusive por Prestes Maia em seu texto sobre os Melhoramentos Urbanos de São Paulo.

Bibliografia: Costa, Sabrina Studart Fontenele – relações entre o traçado urbano e os edifício modernos no Centro de São Paulo (1938 / 1960)


segunda-feira, 24 de novembro de 2014

A verticalização dos lotes da Avenida Nove de Julho ocorreu nas décadas de 1950 e 1960.

Cerca de 69% dos edifícios com endereço na Avenida Nove de Julho foram construídos nesta época entre os anos de 1950 e 1960, intensificando ainda mais o contraste de ocupação entre os lotes ao longo da avenida e os lotes espalhados pelo interior do bairro, e, sobretudo, confirmando a vocação residencial pela avenida Nove de Julho, que ofereciam principalmente moradias baratas tanto para aluguel quanto para venda, voltada a um público empregado nas redondezas, constituídos por solteiros, novos casais e famílias pequenas.
Avenida 9 de julho , São Paulo,  em 1940 
A legislação estudada demonstrou que grande parte das ações do poder público sobre o Centro Novo ocorreu na gestão de Prestes maia. Alí estão registradas a abertura, largamento e ampliação das vias para execução de seu circuito viário. O ato nº 1574, de 15 de junho de 1939, aprovou o projeto de alargamento da rua Senador Queiroz ( em toda a sua extensão), enquanto os atos 1.576 e 1577 de 19 de junho de 1939, aprovaram a abertura das ruas que ligavam a Praça João Mendes à avenida Brigadeiro Luiz Antonio e a rua Major Quedinho à rua Santo Antônio, respectivamente. Próxima à Praça da República, o Decreto nº 239, de 21 de novembro de 1941, registrava as obras de melhoramentos urbanísticos na Avenida Rangel Pestana, nas proximidades da Praça da Sé, declarando inclusive de utilidade pública os imóveis ali localizados que fossem atingidos.
Além de priorizar a abertura de novas vias de ligação, a legislação de Prestes Maia buscava realizar obras de melhorias nos espaços públicos que se localizavam  ao longo do circuito expresso. O largo Paissandu deveria ser remodelado ( segundo Decreto Lei n° 46, de 25 de novembro de 1940), a Praça João Mendes deveria ser ampliada ( a partir da desapropriação dos imóveis situados  às ruas Irmãs Simpliciana, Onze de Agosto e Conde de Pinhal, segundo Decreto nº 252, de 14 de outubro de 1941. Além disto, a Lei nº 3633 de setembro de 1937, previa a construção do Paço Municipal na área do Carmo, a partir da desapropriação dos imóveis da região (Decreto nº 313, de 11 de abril de 1942). A ideia do Paço Municipal era antiga e fora objeto de concurso da prefeitura em 1921 e em 1939, já na gestão de Prestes Maia.
No entanto o projeto vencedor, de autoria do escritório Severo & Villares, nunca foi construído.
Em 1941, foi publicado o Decreto lei n° 92 que redefinia o perímetro da área central – incluindo as avenidas Ipiranga, entre as ruas São Luiz e Consolação, e 9 de julho, entre o prolongamento da rua São Luiz e o viaduto Martinho Prado – que aumentava a altura dos edifícios em função da largura igual ou superior a 12  até 18 metros; e 80 metros nas de largura igual ou superior  a 18 metros. Em alguns casos, o decreto lei estabelecia alturas para determinadas vias de zona central.


Bibliografia: Costa, Sabrina Studart Fontenele – relações entre o traçado urbano e os edifício modernos no Centro de São Paulo (1938 / 1960) 

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

A Avenida 9 de julho é importante vetor para o plano de avenidas

A Avenida 9 de julho mostra-se interessante pois é um importante vetor do sistema que compõe o Plano de Avenidas. Importante vetor também para o conjunto urbano. Ao longo da via a partir de dispositivos legais publicados. Seu percurso em direção ao vale do Rio Pinheiros foi possível a partir da construção do túnel Nove de Julho sob a avenida Paulista, de maneira facilitar a ligação da zona sul da cidade com o Centro.
Avenida Nove de Julho - São Paulo 
As obras para execução da avenida iniciaram-se com o ato nº 792, de 8 de fevereiro de 1935, que declarou de utilidade pública, para serem desapropriados, diversos prédios e respectivos terrenos altos na quadra compreendida entre a Praça da Bandeira, a avenida Anhangabaú e ruas Santo Antônio e João Adolfo. O Ato nº 1.506, de 17 de julho de 1938, determinava a desapropriação de imóveis para obras de ligação, regularização, embelezamento e reconstrução arquitetônica de trechos da avenida.
O Decreto lei nº  75, de 11 de fevereiro de 1941, regulamentou as construções ao longo da avenida 9 de julho e previa a divisão da via em quatro partes o trecho A (entre o largo da Memória e o Viaduto Martinho Prado) e B (entre o Viaduto Martinho Prado e a Praça Santos Dumont e a rua Ester) e D (entre a rua Ester e a rua Estados Unidos) teriam caráter residencial.
Existia um incentivo claro à verticalização ao longo da avenida no trecho referente à área central: limites máximos de 80 metros nos trechos A e B comparação aos 40 metros dos trechos C e D. Neste percurso, limites mínimos também estabelecidos.
Dois trechos da avenida teriam ainda tratamento especial: a área próxima ao Largo da Memória (objeto de melhoramentos urbanísticos declarados no Decreto nº 263 de 20 de novembro de 1941) e o viaduto projetado próximo à Avenida de Irradiação e suas ligações, escadarias e obras anexas.
Segundo o artigo 10, a altura mínima dos edifícios deveria ser de 29 metros no trecho A (correspondendo  em média a um pavimento térreo e sete pavimentos superiores) e de 22,50 metros no trecho B, correspondendo  normalmente a 1 pavimento térreo e 5 pavimentos superiores, enquanto os trechos C e D não apresentavam restrição.
Um escalonamento específico para os volumes desta via mostrava-se presente no artigo 11 deste decreto quando determina e torna claro a intenção da lei em determinar o desenho urbano.
Na avenida 9 de julho os coeficientes de altura eram bastante elevados: de 9 a 20 vezes a área do terreno.
A forma de apropriação desta legislação em termos de projeto foi a mais variada possível, mas em geral se percebe uma intenção de elevar a altura dos prédios pela execução de recuos escalonados. Poucos são os projetos que conseguem fugir desta regra, a exemplo do edifício Nove de Julho (1953).
O complexo contínuo desenhado por Eduardo Corona era constituído de três edifícios germinados (sem recuos laterais) e com térreo comercial ( que a lei “tolerava” no trecho C da avenida). Para evitar o escalonamento lateral, e, desta forma, obter um volume regular, foram adotados recuos laterais maiores do que os mínimos exigidos para os andares inferiores. Porém, apenas o primeiro edifício foi construído.

Bibliografia: Costa, Sabrina Studart Fontenele – relações entre o traçado urbano e os edifício modernos no Centro de São Paulo (1938 / 1960)


sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Prestes Maia não se esqueceu de reformar o Vale do Anhangabaú.

A região do Vale do Anhangabaú também foi objeto de atenção especial do prefeito Prestes Maia. Tendo sido Objeto de estudo e proposta apresentada em seu Plano de Avenidas. Naquela área, se localizaria o tronco do sistema Y do grande eixo norte-sul da cidade que foi adotado na  terceira versão do Perímetro de Irradiação.
Vale do Anhangabaú - SP 
As vias 23 de maio (antiga Avenida Itororó) e 9 de julho (antiga avenida Anhangabaú) originariam este sistema Y que deveria passar em desnível sob o anel central.
As duas vias foram construídas como vias de fundo de vale. Com a execução deste sistema, o Parque do Anhangabaú, assumiu a função de eixo viário, e não mais de um parque, como fora sugerido em diversas propostas históricas.
A ligação com a avenida Tiradentes, no sentido norte, criou uma avenida ampla e expressa de grande relevância na circulação norte-sul.
A pesquisa dos dispositivos legais demonstrou como as obras naquela via foram executadas rapidamente a partir de 1940.
O decreto nº 374 declarou de utilidade pública os imóveis necessários à ampliação do Parque Anhangabaú, a regularização de seu cruzamento com a avenida 9 de julho, com a recomposição urbanística do lugar. O decreto nº 389 de 17 de dezembro de 1943 aprovou o plano de concordância dos alinhamentos das ruas Anhangabaú e Pedro Lessa; o decreto nº 47, de 17 de dezembro de 1943, ampliou o projeto de abertura da Avenida Anhangabaú, no trecho entre o Largo do Riachuelo e a rua do Paraíso; enquanto o decreto nº 477, de 17 de dezembro de 1943, aprovou o prolongamento da avenida entre a Praça Rodrigues de Abreu e a rua Curitiba
Os melhoramento urbanos foram propostos em diversos pontos da avenida, especialmente em seu cruzamento com a avenida Nove de Julho onde também foi proposta recomposição urbanística do local e obras complementares (publicado no Decreto nº 374, de 18 de dezembro de 1942). Enquanto que o Decreto-Lei nº 105, de 18 de julho de 1941, tratava do alargamento da rua Anhangabaú entre a Praça do Correio e a rua Florêncio de Abreu, decretando também de utilidade pública os imóveis localizados no caminho.

Bibliografia: Costa, Sabrina Studart Fontenele – relações entre o traçado urbano e os edifício modernos no Centro de São Paulo (1938 / 1960)


domingo, 26 de outubro de 2014

O Perímetro de Irradiação fazia parte dos “Melhoramentos Urbanos”.

A versão final executada do Perímetro de Irradiação – e apresentada na publicação “Melhoramentos” (Maia, 1945) – tem esta via alargada e ampliada em sua extensão. Em se tratando de uma das principais vias do circuito, o prefeito Prestes Maia publicou algumas leis que se relacionavam diretamente a sua construção como paisagem urbana e estimulou a transformação da antiga rua em um dos principais cartões-postais dos “melhoramentos urbanos” daquela gestão.
O Ato nº 1470, de 14 de setembro de 1938, em seu artigo primeiro aprova o alargamento das ruas Ipiranga, juntamente com a São Luiz e Vieira de Carvalho, e o prolongamento da rua Epitácio Pessoa. Assim, a nova proposta do circuito foi colocada em execução, com detalhes técnicos do acabamento registrados no Decreto Lei nº 163, de 1940, que determinava a pavimentação em lajes de concreto. O dispositivo legal trazia detalhes desde o preparo do terreno, a espessura dosagem do concreto, localização dos pontos de luz e arborização.
Rua Xavier de Toledo - SP
O Decreto lei nº 41, de 3 de agosto de 1940, regulamentava as construções ao longo da Av: Ipiranga e estabelecia que a altura mínima deveria ser de 39 metros, podendo ser maior- em casos especiais, até 135 metros, desde que seguisse recuados escalonados estabelecidos pela lei, descrito em seu artigo 4º 50% entre as cotas 39 e 52 metros, 40% entre as cotas 62 e 75 metros e 30% acima da cota 75 metros. Esse decreto incentivava diretamente a verticalização ao longo do eixo viário, inclusive impondo aumento nos impostos prediais ou territoriais àqueles prédios que não tivessem alcançados esta altura mínima. Esta cobrança deveria ser realizada a partir do ano de 1950.
Algumas medidas legais incentivaram a verticalização ainda em outras grandes vias. Nas ruas Barão de Itapetininga, Xavier de Toledo, 7 de abril, Conselheiro Crispiniano, 24 de maio e para as praças Ramos de Azevedo e República, o ato n 1.366, de 19 de fevereiro de 1938, modificou a altura mínima para 10 pavimentos, excluindo térreo; com a possibilidade de atingir maiores alturas desde que não ultrapassassem o limite de 50 metros e obedecessem os recuos escalonados impostos pelo Ato nº 633, de 1934. No artigo 145 deste segundo ato dizia: “Além da altura máxima permitida para as construções no alinhamento das vias públicas, poderão ser construídos pavimentos recuados desse alinhamento, desde que fiquem as partes mais altas dos recuos, dentro da linha que liga a intersecção do alinhamento oposto com a horizontal da guia do passeio ao ponto mais alto permitindo no alinhamento das vias públicas, do prédio a construir”.


Bibliografia: Costa, Sabrina Studart Fontenele – relações entre o traçado urbano e os edifício modernos no Centro de São Paulo (1938 / 1960) 

domingo, 12 de outubro de 2014

Os cofres municipais cheios para as obras de Prestes Maia

O novo prefeito recebeu uma máquina estatal substancialmente modernizada e de arrecadação multiplicada (...) Com o aumento da arrecadação e o congelamento das despesas com o funcionalismo, a prefeitura contava com saldos substanciais: 20 mil contos de reis em 1938, 30 mil em 1939, 45 mil em 1941, 55 mil em 1942 e 65 mil no ano seguinte. Acrescente-se a isso as dotações orçamentárias do Departamento de Obras, que somaram quase 250mil contos entre 1939 e 1945.
Com centenas de milhares de contos disponibilizados para obras e desapropriações, sem necessidade de emissões ou empréstimos, estava aberto o caminho para a remodelação de São Paulo.
Vista aérea da Pça da República
Com a implantação das grandes vias pela cidade, o prefeito Prestes Maia adotou uma série de medidas que buscava adequar a escala das construções às novas avenidas – uma possível tentativa de conciliar a imagem de uma cidade com ares modernos com o desenvolvimento econômico do período a partir do estímulo à verticalização.
As obras para criação do Perímetro de Irradiação tomaram conta da cidade logo após a posse de Prestes Maia. Em pesquisa aos Anais da Câmara Municipal de São Paulo, foram encontrados diversos dispositivos legais relativos à abertura e alargamento de vias e espaços públicos e à desapropriação de imóveis para execução destas obras.
Observou-se uma concomitância entre as leis que autorizava a execução de obras de melhorias e as que davam instruções sobre as construções ao longo das novas vias. Apresentava-se como uma tentativa de organizar o espaço urbano por meio de uma legislação que impunha regras e estímulos à iniciativa privada.
Um dos principais espaços de transformação da gestão de Prestes Maia foi a avenida Ipiranga. A versão inicial do Perímetro de Irradiação, presente na publicação o de 1930, apresentava a rua Tymbiras como artéria de ligação entre o quadrante leste do anel envoltório e a Praça da República. Ainda no levantamento SARA- Brasil de 1930, verifica-se a presença da rua Ipiranga e sua continuidade com a rua Epitácio Pessoa.

Bibliografia: Costa, Sabrina Studart Fontenele – relações entre o traçado urbano e os edifício modernos no Centro de São Paulo (1938 / 1960)


domingo, 28 de setembro de 2014

Mudando o traçado do centro novo da cidade. Construindo uma nova cidade.

Ainda no início do século XX, implantaram-se os primeiros edifícios altos da região do Centro Novo. Dentre eles, estavam o Hotel Esplanada (1920-1923) com sete pavimentos no Vale do Anhangabaú, e o Prédio Glória, próximo a rua Barão de Itapetininga. Em 1936, foi desapropriada a Chácara Sousa Queiroz, na rua São Luiz, para a construção da Biblioteca Municipal.
Shopping Ligth - Rua Xavier de Toledo
Outra intervenção do período foi a abertura da rua Marconi por uma operação privada. “Os herdeiros de Walter Seng, resolveram criar, em um grande terreno entre as ruas Sete de Abril e Barão de Itapetininga, ponto mais valorizado do centro novo, uma via que atraísse os usos comerciais mais prestigiosos da cidade”.
Para esta nova via, assim como para a rua Xavier de Toledo, o ato nº 1.366, de 19 de fevereiro de 1938, em seu artigo segundo, determinava que as fachadas deveriam se subordinar às linhas arquitetônicas. Sendo que na rua Xavier de Toledo, assim como na avenida São João, Rua D. José de Barros, Barão de Itapetininga e Conceição, não era possível construir com menos de quatro pavimentos, conforme escrito nas diretrizes do Código Arthur Saboya. Iniciava-se, assim, um período de forte incentivo à verticalização.
Segundo Castello branco (1989), a partir de 1938, a construção de terrenos da rua Marconi seguiu ritmo acelerado, estando em 1943 todos os lotes ocupados. O edifício São Manoel (1937), localizado à rua Marconi, nº 138, esquina coma rua Barão de Itapetininga, foi o primeiro edifício construído nessa rua. Projetado pelo arquiteto francês Jacques Pilon, tinha quatorze pavimentos. Além deste, os edifícios Francisco Coutinho (1938), Anhumas (1938) e Ernesto Ramos (1940) foram projeto e construção de Pilon em parceria com o engenheiro Francisco Matarazzo Neto., que funcionou de 1934 a 1940. Nesse período, a Pilmat realizou quatorze obras; quatro edifícios residenciais, oito comerciais e de serviço, uma residência e a obra da Biblioteca Municipal de São Paulo.
Em 1940, Pilon fundou seu escritório individual que no período de funcionamento, entre 1940 e 1962 realizou 187 projetos.
Em poucos anos, pos principais empreendimentos imobiliários e comerciais da cidade iriam acontecer nesta região da cidade que passava por fortes transformações espaciais derivadas das obras de execução do Perímetro de Irradiação do Plano de Avenidas. Tendo como enfoque principal a questão viária, este Plano propôs uma nova organização para a cidade.
Com a abertura das novas vias, o Centro Novo ganhou destaque maior na dinâmica urbana e a área transformou-se em foco de interesse para novas construções. Prestes Maia se utilizou desta ideia para induzir o desenho da paisagem urbana desta área ao modificar a legislação existente.


Bibliografia: Costa, Sabrina Studart Fontenele – relações entre o traçado urbano e os edifício modernos no Centro de São Paulo (1938 / 1960) 

domingo, 14 de setembro de 2014

A expansão da cidade no século XIX

Benedito Lima Toledo explica que a expansão da cidade na última década do século XIX caracterizou-se pelo arruamento e loteamento das antigas chácaras, sem um plano geral que disciplinasse essa forma de ocupação do solo. Porém, entre os anos de 1880 e 1890, foram realizados novos loteamentos na região oeste, como a Vila Buarque, Santa Cecília, Higienópolis e Av: Paulista.
Pça da República - São Paulo - sec.XX
Com a inauguração do viaduto do Chá, os novos bairros se tornaram acessíveis por linha de bonde de tração animal que, anos depois, seriam substituídos por bondes elétricos.
O mapa de 1897 apresenta essas novas ruas abertas por conta do loteamento da Vl Buarque. Realizado nos terrenos da antiga Chácara do general Arouche de Toledo, o loteamento foi realizado no início do século XX. Segundo Benedito Lima Toledo, “em 1905, o bairro estava extensamente construído, tomado por residências de notável homogeneidade. As casas eram, no geral, térreas, germinadas, com porão e construídas no alinhamento da rua”.
O mapa já apresentava a Escola Normal implantada nas proximidades da então Praça da República. A região foi bastante valorizada depois da construção do viaduto do Chá. Ainda na gestão de Antônio da Silva Prado (1889 – 1911), passou por uma série de obras de grande importância na integração entre o Centro Novo e o Centro Velho, a saber:
A)   Ajardinamento da Pra da República que ganhava vida após a construção da Escola Normal e tornou-se centro de lazer – famílias ricas que moravam nas redondezas costumavam passear por ali;
B)   Remodelação do Largo de Paissandu e do Largo do Arouche;
C)   Construção do teatro Municipal (1903 – 1911) – que se transformaria em um símbolo desta passagem;
D)   Início das obras do Viaduto de Santa Ifigênia (1910) que fortaleceria as ligações entre o Centro Velho e o Centro Novo.
Em 1911, durante a administração do Barão de Duprat, criação de um espaço público qualificado numa área até então desvalorizada demonstrava o nício do deslocamento de uma polaridade na região central do Centro Velho para o Centro Novo.
Neste momento o setor oeste da cidade passou a atrair mais empreendimentos voltados ao comércio. Prova disto é a consolidação da Rua Barão de Itapetininga pelo comércio de luxo da cidade.

Bibliografia: Costa, Sabrina Studart Fontenele – relações entre o traçado urbano e os edifício modernos no Centro de São Paulo (1938 / 1960)


domingo, 7 de setembro de 2014

As Mudanças no Centro Novo da cidade de São Paulo

Foi a partir da reforma do Código Arthur Saboya ocorrido através do ato nº 663, de 10 de agosto de 1934 que a cidade debordou dos estreitos limites do sítio urbano primitivo, onde por três séculos se havia enclausurado e cujo raio não ia além de um quilômetro da Pra da Sé. Seus tentáculos avançaram, em poucas décadas até a distancias de 5 a 10km do tradicional Triângulo, englobando na área urbana velhos e isolados subúrbios, como a Freguesia do Ó, Penha, Ipiranga e Pinheiros.
Rua: Barão de Itapetininga começo do sec. XX
No início dos anos de 1930, o foco dos investimentos imobiliários foi a região localizada a oeste do Vale do Anhangabaú.
A área mudou seu perfil urbano de maneira intensa em poucas décadas e abrigou diversos arranha-céus em seu terreno.
A região ficava na direção dos caminhos que levavam às cidades mais produtivas no interior: Itú, Sorocaba e Campinas. A partir do século XIX, a região foi ocupada por chácaras pertencentes às diversas famílias com vínculos à produção de café. O mapa da cidade de São Paulo de 1800 -1874 apresenta claramente essa demarcação.
Nas várzeas oeste do Anhangabaú, região conhecida como Morro do Chá ficava a Chácara do Barão de Itapetininga. Ao seu lado, onde seria aberta a rua São Luis, localizava-se a Chácara do Barão de Souza Queiroz; abaixo da rua da Consolação se localizava a Chácara Martinho da Silva Prado; enquanto na região da futura Vila Buarque estava a Chácara do Marechal Arouche.
Além das chácaras, era marcante a presença de um espaço público- que daria origem à Praça da República inicialmente denominada Campos dos Curros, que depois passaria a Praça dos Curros. O nome remete às touradas que ocorriam frequentemente no local.
Já no final do século XIX, grande parte das chácaras começou a ser loteada dando lugar aos terrenos livres para implantação dos primeiros prédios. O mapa de 1877 já mostrava a Praça dos Curros com o nome de Largo Sete de Abril e as novas vias abertas na região do Morro do Chá: ruas Conselheiro Crispiniano, 24 de maio, Barão de Itapetininga e Xavier de Toledo. Com a morte do Barão de Itapetininga e Xavier de Toledo. Com a morte do Barão de Itapetininga, em 1876, a região foi loteada e deu origem a esses novos logradouros.
Também a Chácara do Barão de Souza Queiroz foi dividida após a sua morte, em 1897, e deu origem a uma divisão de terreno.


Bibliografia: Costa, Sabrina Studart Fontenele – relações entre o traçado urbano e os edifício modernos no Centro de São Paulo (1938 / 1960) 

domingo, 31 de agosto de 2014

O Centro alcança as alturas com seus Arranha Céus

O estimulo inicial à construção em altura podia ser sentido de maneira mais forte na região de atividades comerciais mais intensas do centro, contes. Conhecida oficialmente como Triângulo Comercial, e outros logradouros de grande importância: rua Marechal Deodoro, Capitão Salomão, Quintino Bocaiuva, Largo da Sé, rua da Boa Vista, rua e largo de São Bento, avenida São João, rua Líbero Badaró, Dr Falcão, Dom José de Barros, Antonio de Godoy, Xavier de Toledo, Barão de Itapetininga e Conceição.
Avenida São João em 1970
O artigo 151º deixava claro que as edificações construídas nesta região especifica do centro não poderiam ter menos que quatro pavimentos, sem contar o embasamento.
A permissão para construção com menos pavimentos seria dada quando verificada a presença de fundações e estruturas que resistissem no futuro aos pavimentos restantes. Nas ruas Barão de Itapetininga, Xavier de Toledo, 7 de abril, Conselheiro Crispiniano, 24 de Maio; da praça Ramos de Azevedo e na Praça da República, a altura máxima dos prédios era de cinquenta metros e o número de andares, seria, no máximo, de dez, exclusive os térreos ( lojas, Térreo e embasamento). Nas demais vias, a altura máxima era de 80 metros.
Ficava ainda em aberto a possibilidade de aumentar o número de pavimentos dos edifícios localizados em vias com menos de quinze metros, situados na zona central ou urbana, caso fossem recuados os edifícios do alinhamento e esses espaços livres fossem incorporados à via pública. Esta seria uma ferramenta presente erm muitas outras leis. A autorização seria dada para construções menores e por isto, mais baratas – na condição de possibilitar seu aumento de andares anos depois. Também deveria ser disfarçado este caráter provisório. Alguns artigos deixavam claro, inclusive, o prazo final para o acabamento das construções em altura.


Bibliografia: Costa, Sabrina Studart Fontenele – relações entre o traçado urbano e os edifício modernos no Centro de São Paulo (1938 / 1960) 

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Os primeiros edifícios altos foram obra de Ramos de Azevedo

A intervenção impulsionou o aparecimento dos primeiros edifícios altos na via. Entre eles, destacam-se os hotéis Central e Britania (1918), obra de Ramos de Azevedo, além do antigo Cinema central (1917). Apesar das alturas dessas edificações, não serem diferentes de muitos edifícios já existentes na região do Centro velho, equivalentes a seis andares, seu destaque ocorria pelo contraste com o entorno imediato. Porém, poucos anos mais tarde, com a construção dos edifícios dos Correios no lote vizinho, esta relação seria alterada. Anos mais tarde, ao longo dessa via, foram implantados os edifícios Martinelli e o Altino Arantes, marcantes arranha-céus da cidade.
Percebe-se claramente que grande parte dos edifícios altos deste momento quase todos no centro Velho – se implantou em logradouros que passaram por recentes intervenções. Acredita-se que isto está diretamente vinculado ao fato da legislação do momento relacionar a altura dos edifícios com a largura das vias, mas sem uma preocupação específica em controlar os gabaritos máximos dos edifícios.
Em 1920, a lei nº 2332 foi anunciada como Padrão Municipal da cidade e estabelecida as alturas máximas permitidas  na zona central em função das larguras das ruas. O artigo 67 era claro.
Já em 1929, um conjunto de leis relacionadas à construção civil na cidade foi sistematizado em um Código de Construção que ganhou o nome do engenheiro responsável: Arthur Saboya. Tal Código ( Lei nº 3.427, de 19 de novembro de 1929), publicado na gestão do prefeito Pires do Rio, visava \grupar diversas regras lançadas anteriormente e direcionar outras ações.
Apresentava alguns itens que se relacionavam diretamente com o surgimento dos primeiros aranha-céus na cidade. O código de 1929, assim, iniciava-se apresentando em seu artigo 4º a divisão do município de São Paulo em quatro diferentes zonas: - primeira zona ou central
                               - segunda zona ou urbana
                               - terceira zona ou suburbana
                               - quarta zona ou rural
Os critérios para construção na cidade eram os mesmos de 1920, em função da largura das ruas, e mesmo as alturas iniciais eram iguais àquelas anteriores, mas desta vez, se impunha uma altura mínima nas ruas menores, conforme apresentado no art. 118º.
Nos edifícios, construídos no alinhamento das vias públicas  da zona Central, a altura será: - no mínimo, de cinco metros;
                    - no mínimo, de duas vezes a largura da rua, quando esta for de menos de nove metros;
                    - de duas vezes e meia, quando a largura da rua for de nove a doze metros;
                    - de três vezes, quando a largura da rua for mais de 12 metros.

Bibliografia: Costa, Sabrina Studart Fontenele – relações entre o traçado urbano e os edifício modernos no Centro de São Paulo (1938 / 1960)


quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Edifício Sampaio Moreia foi o primeiro arranha-céu de São Paulo

Conhecido como o primeiro arranha-céu da cidade, o edifício Sampaio Moreira (1913-1924) foi também construído na Rua Líbero Badaró. É um prédio de quatorze andares com estrutura de concreto armado projetado por Cristiano Stocker das Neves. O edifício foi projetado para realizar uma composição com os demais edifícios do Vale do Anhangabaú, entre os quais os dois pavilhões construídos anos antes e projetados por Samuel das Neves, pai de Cristiano . Implantava-se ainda nesta via o Palacete Médice (1912) e o Palacete Riachuelo (1925-28), ambos com oito andares. Anos mais tarde, na mesma rua, seria implantado o edifício
Vista aérea do Vale do Anhangabaú
Martinelli, um dos primeiros arranha-céus da cidade. Perpendicular à obra da rua Libero Badaró, a avenida São João passou por um forte processo de remodelação que reforçou sua vocação para ser um dos principais boulevardes paulistano. A via, que até meados do século XIX se mostrava bastante insignificante ganhou destaque quando foi ampliada e consolidou-se como acesso aos novos bairros da região oeste.
O alargamento do primeiro trecho desta via aconteceu em 1913-14, durante a gestão do Barão de Duprat como prefeito de São Paulo.
A avenida foi estendida por vário quilômetros, alargada para 30 metros e aplainada em alguns trechos – esta última medida inclusive tornava a travessia do Anhangabaú mais fácil.
Além disso, “(...) a São João foi objeto de legislação especial de 1912, obrigando as construções a adotar um padrão de bulevar ”, blocos edificados contínuos, continuidade especial das fachadas, chanfros e tratamentos especiais nas esquinas . Gabaritos fixos não foram estabelecidos, mas essas medidas garantiam certa homogeneidade volumétrica.

Bibliografia: Costa, Sabrina Studart Fontenele – relações entre o traçado urbano e os edifício modernos no Centro de São Paulo (1938 / 1960)


segunda-feira, 11 de agosto de 2014

São Paulo construiu um edifício por hora no começo do século XX

Em 1920, as estatísticas registraram 1.875 novas construções que evoluíram para 3.922, em 1930. Isto significa quase um novo edifício por hora. O crescimento da cidade era possível graças ao avanço econômico do Estado, o desenvolvimento da função comercial e a preeminência politico-administrativa  da cidade.
Prédios antigos e modernos de São Paulo 
Este quadro incentivava a execução de obras de melhorias urbanas no Centro Velho de maneira a criar espaços urbanizados a prazíveis. Na gestão de Antonio Prado (1889-1911), o Triangulo Histórico passou por uma remodelação que provocou o novo alinhamento nas ruas XV de novembro, Alvares Penteado, Quintino Bocaiúva e rua da Fundição ( rua Floriano Peixoto).
Na rua XV de Novembro, caracterizada como principal área de comércio e serviços da cidade, era marcante a agitação de pessoas que ocupavam as calçadas e ruas.
O alargamento da via foi possibilitado pela demolição de antigos imóveis e a liberação de terrenos onde foram implantados novos edifícios com uma feição arquitetônica mais europeizada. Entre eles, destaca-se o London River Plate Bank (1912), com onze andares.
Outra via que se relaciona diretamente à história dos primeiros arranha-céus de São Paulo é a rua Líbero Badaró. Sua renovação aconteceu por conta dos planos de melhoramentos para a região do Anhangabaú, baseados no Plano Bouvard. A rua também foi alargada passando dos tradicionais sete metros para dezoito metros – e, recebeu novas construções baseadas numa legislação que impunha uma hegemonia no conjunto arquitetônico. O alargamento da via aconteceu entre os anos de 1911 e 1914, concomitantemente ao alargamento da rua São João e a abertura da futura Praça Patriarca.
Aliado à questão segregadora, o projeto de remodelação do Anhangabaú tinha também como principal objetivo a melhoria da circulação na área central. E o alargamento da Líbero Badaró aparecia como a melhor alternativa para isso, ampliando a capacidade viária da colina central sem precisar realizar custosas desapropriações na zona do triângulo.
Para sua ampliação, foram demolidos os imóveis do lado para da rua. Estas obras de ampliação modificaram completamente seu perfil urbano. A rua antes conhecida por ser um espaço de prostíbulos e cortiços, sofreu uma forte intervenção e tornou-se uma das mais belas vias de São Paulo. Os novos prédios construídos praticamente em um mesmo período – deveriam seguir um padrão estabelecido de alturas e ornamentação.
Assim, foi estabelecida uma harmonia arquitetônica que se diferenciava do restante da cidade.


Bibliografia: Costa, Sabrina Studart Fontenele – relações entre o traçado urbano e os edifício modernos no Centro de São Paulo (1938 / 1960) 

sábado, 2 de agosto de 2014

História dos primeiros arranha céus de São Paulo

Na década de 1930, Oswald de Andrade já antevia um processo de mudança com o registro de constates transformações no centro de São Paulo. Os primeiros arranha céus foram construídos na região mais antiga da cidade, em lotes antes ocupados pelo casario colonial.
Muitos desses implantaram-se próximos à praça da Sé, que passava por um forte processo de transformação ainda nas primeiras décadas do século XX.
Praça da Sé- SP começo do século XX
Em 1912, a antiga Catedral foi demolida para a construção de um novo templo. A alteração de sua praça já estava prevista no “Plano Bouvarde”, mas as desapropriações dos imóveis só foram efetivamente realizadas na década de 1910. Com a demolição dos edifícios antigos, duas vias desapareceram, as ruas Esperança e Marechal Deodoro. As novas construções apresentavam uma feição bem diferente das casas coloniais originais. Buscava se implantar uma paisagem condizente com o desenvolvimento econômico pelo qual passava a cidade naquele momento. Assim, as novas edificações buscavam adquirir um caráter europeu, incentivado inclusive pelo poder municipal através de leis que estimulavam a formação de belos conjuntos arquitetônicos.
Nesse contexto, ainda na década de 1920, foi construído um dos mais importantes edifícios da época no entorno da Praça da Sé: o Palacete Santa Helena, concluído em 1925, com sete andares.
Este se mostrava bastante interessante, tanto por sados no edifício, uma fachada marcante ricamente ornamentada, quanto pelo papel que assumiu na vida cultural da cidade ao abrigar um grupo de jovens artistas que ali se reunia: o Grupo Santa Helena.
Formado por imigrantes de origem humilde que se reuniam nos ateliês instalados no edifício, ficaram famosos pela sua produção artística.
Em seu entorno, na Rua Direita, também foi construído, em 1913 o edifício Guinle, com 32 metros de altura que chamava atenção pelo contraste com os edifícios vizinhos.
Mesmo com a construção desses primeiros edifícios com alturas acima do padrão, no primeiro quartel do século XX, São Paulo ainda se caracterizava como uma cidade horizontal com alguns prédios excepcionais de seis e sete andares que rompiam os limites verticais e alteravam a escala na região central.


Bibliografia: Costa, Sabrina Studart Fontenele – relações entre o traçado urbano e os edifício modernos no Centro de São Paulo (1938 / 1960) 

sábado, 26 de julho de 2014

A concorrência do Banco do Brasil com Bancos estrangeiros

A queixa dos estabelecimentos bancários (eminentemente, os nacionais) era integralmente justificável. O Banco do Brasil foi constituído, no âmbito de suas atividades comerciais, para competir em condições de igualdade com os bancos estrangeiros instalados no país.
Antigo Banco do Brasil 
Entretanto, o Banco do Brasil obtinha vantagens comparativas em relação aos bancos comerciais nacionais por duas razões principais: a primeira está ligada ao mercado de câmbio. A afluência de grande quantidade de recursos externos, vindos através das operações de subscrição de títulos governamentais, expandiu as operações ligadas aos negócios em moeda estrangeira, permitindo que o Banco auferisse grandes lucros nesse mercado. A segunda razão foi o aumento da confiança do público. Tendo o Banco do Brasil o respaldo do governo e agências espalhadas por várias regiões do país, os agentes econômicos tinham confiabilidade na solidez da instituição e, por esse motivo, preferiam realizar suas operações de depósitos e descontos neste estabelecimento bancário. Deste modo, o Banco do Brasil pôde, em pouco tempo, consolidar-se como o maior banco nacional. Em decorrência desses fatos, tem-se a hegemonia do Banco do Brasil, que exercendo uma dura concorrência com os demais bancos comercias, limitava o crescimento da incipiente rede bancária privada nacional.
É necessária a retomada da análise da Caixa de Conversão, no tocante a seus impactos sobre a expansão monetária e a flutuação geral de preços, no intuito de uma melhor compreensão dos reflexos do padrão-ouro sobre a economia nacional.
De modo geral, durante o estabelecimento do padrão-ouro, estruturado sobre os mecanismos da Caixa de Conversão, ocorreu uma grande expansão monetária em relação ao período anterior (a exceção se faz nos anos de 1908, 1913 e 1914). Os meios de pagamento, apesar de não seguirem um padrão de crescimento constante, apresentaram variações sempre positivas.
Os principais motivos para essa capacidade expansionista foram os constantes saldos positivos da balança comercial e as vultosas somas de recursos estrangeiros que entraram neste período. Deste modo, como as reservas que lastreavam a emissão da Caixa mantiveram sempre uma tendência de influxo, pôde-se aumentar a oferta monetária durante a maior parte de sua existência.
A curva de expansão de preços estava relacionada, até 1912, de certa forma, com a variação expansionista dos meios de pagamento. A partir de então, nota-se forte contração monetária com natural reflexo sobre o comportamento da inflação.
Faz-se importante a análise da condução da política fiscal (durante o período de conversibilidade) e suas consequências sobre a economia. O Governo de Afonso Pena (15/11/1906 a 14/06/1909) mescla políticas fiscais contracionistas e expansionistas. Esta última, instalada nos dois últimos anos de seu governo, foi continuada por seu sucessor, o Presidente Hermes da Fonseca.
A partir de 1908, os consecutivos déficits orçamentários foram financiados por divisas externas e pelo aporte de recursos bancários.
Várias obras identificam no déficit crônico do governo a razão do início do colapso financeiro interno. O deslanche da crise econômica doméstica, iniciada em 1913, associado ao revés ocorrido na economia mundial com o princípio da Primeira Guerra, culminou no fechamento da Caixa de Conversão em 1914.
Os bancos comerciais passaram a ser atores de destaque para o desencadeamento da crise econômica interna. Em fins de 1912, houve uma súbita retração do crédito. Este comportamento tinha origem no financiamento dos gastos excessivos do governo.

Bibliografia:Chavantes   Ana Paula – A Consolidação do Setor Bancário em São Paulo na Década de 20 – fev 2004


domingo, 20 de julho de 2014

Queda de braço entre metalistas e expansionistas

Antes de apreciarmos os reflexos do padrão-ouro na economia, e, em particular nos bancos comerciais, faz-se necessário registrar que durante o planejamento dos aspectos operacionais da Caixa ocorreram duros embates entre os próprios metalistas. Denominados por NEUHAUS como metalistas ortodoxos e expansionistas, estes dois grupos tinham opiniões divergentes sobre o valor da paridade cambial a ser estabelecido para o funcionamento da Caixa de Conversão.
Os adeptos do metalismo partiam de um único paradigma: a conversibilidade da moeda a uma taxa de câmbio fixa. Porém, os partidários da ortodoxia (representados pelo ex-Ministro da Fazenda, Leopoldo Bulhões) entendiam que para a instalação do padrão-ouro haveria a necessidade da continuação da política deflacionista iniciada por Murtinho, até que a taxa cambial alcançasse o patamar de 27 pence por mil-réis (nivelando-a ao ano de 1846). Tal grupo argumentava que se a Caixa de Conversão adotasse a taxa de câmbio corrente de mercado (16 pence por mil-réis, em sua opinião ainda muito desvalorizada), haveria o risco de uma expansão monetária descontrolada, e conseqüentemente, uma desestabilização cambial.
Por outro lado, os expansionistas liderados pelo novo ocupante da pasta da Fazenda, David Campista (15/11/1906-14/06/1909) (nomeado pelo recém empossado Presidente da República, Afonso Pena), acreditavam que a taxa de câmbio pleiteada pelos ortodoxos seria impraticável e defendiam o estabelecimento do padrão-ouro com a paridade de 15 pence por mil-réis. Acreditavam, os expansionistas, que o aumento do meio circulante seria gradual e não desestabilizaria as variáveis macroeconômicas em questão.
Na queda de braço entre ortodoxos e expansionistas, os últimos conseguiram impor a conversibilidade dentro do nível cambial por eles preconizado, pois receberam o apoio da maior parte dos segmentos produtivos do país, que, por sua vez, estava sendo sufocada pelo arrocho monetário promovido por sucessivos governos desde 1898. O fato foi que, com a implantação da Caixa, houve, num primeiro momento, uma expansão do meio circulante, acompanhada, de modo geral, por um aumento no nível de preços, porém, com a manutenção de um equilíbrio cambial até 1913.
No tocante aos grandes ganhos dos bancos estrangeiros instalados no país, que tinham grande mobilidade entre o mercado europeu e brasileiro, pode-se inferir que, ao assumirem a função de underwritters em larga escala, estes agentes passaram a ampliar consideravelmente sua margem de lucro. A melhoria das condições em que trabalhavam só foi possível após o estabelecimento de uma taxa de câmbio fixada pela Caixa de Conversão. Numa economia, onde a taxa cambial oscilava abruptamente, era impossível que os bancos no Brasil pudessem alavancar recursos na Europa para atender à demanda de seus clientes. É que não havia garantia de que o retorno do dinheiro se fizesse à mesma taxa cambial.
Em relação aos grandes lucros auferidos pelo Banco do Brasil sob a égide do padrão ouro, devesse relatar as palavras do Boletim da Associação Comercial do Rio de Janeiro em 21 de maio de 1908, como parte ilustrativa dos acontecimentos no sistema bancário: “A organização dada ao Banco do Brasil obedecia a uma orientação peculiar e certamente muito diversa da que está sendo executada”. Qual a verdadeira causa não é difícil de descobrir. Isto é devido à criação recente da Caixa de Conversão, de
que não cogitava o governo passado quando planejou a reforma do Banco do Brasil (em 1905). Ora, o que daí decorre é um inconveniente sério, que não podemos deixar de insistir. O Banco do Brasil em suas operações entra em concorrência com outros bancos particulares que operam em depósitos e descontos levando, aliás, sobre eles, enorme vantagem. “Sua clientela será forçosamente muito maior em virtude da presunção de que o Governo responde por todo o capital do mesmo banco e não somente pela parte que ali tem empregada como acionista comum”.


Bibliografia:Chavantes   Ana Paula – A Consolidação do Setor Bancário em São Paulo na Década de 20 – fev 2004

domingo, 13 de julho de 2014

Padrão ouro e os ciclos das crises.

Numa percepção mais minuciosa, pode-se verificar que Murtinho havia preparado o terreno, com o equilíbrio das variáveis macroeconômicas, para a implantação do padrão-ouro. Quando a Caixa de Conversão, órgão ligado ao Tesouro, é implantada, cria-se uma situação atípica na economia. Em primeiro lugar, adota-se o padrão-ouro sem que haja no país a presença de um Banco Central , órgão essencial para dar continuidade ao novo sistema monetário, e que teria dupla função: a de “guardião” do
padrão-ouro (através da manipulação da taxa de redesconto) e o de “emprestador de última instância”.

Em segundo lugar, coexistiam duas moedas circulando na economia- uma conversível (as notas emitidas pela Caixa de Conversão) e outra inconversível (as notas emitidas pelo Tesouro) - configurando um sistema insustentável. Deste modo, estamos diante de um regime de padrão-ouro com características heterodoxas.
Portanto, não é factível generalizar-se os impactos do regime do padrão-ouro clássico sobre os bancos comerciais no Brasil. A ausência de um Banco Central contribuiria para agravar a instabilidade do padrão-ouro no Brasil durante os ciclos de crise. Além do mais, a inexistência de cooperação dos Bancos Centrais dos países desenvolvidos diminuía a margem de manobra operacional dos países periféricos para manter a conversibilidade. EICHENGREEN menciona que outro fator desestabilizador do regime de conversibilidade nos países periféricos consistia na vulnerabilidade externa face às flutuações em seus termos de troca, dada a especialização destes países na produção e exportação de uma pequena diversidade de produtos primários. Este problema em particular, aliado aos efeitos desestabilizadores causados por mudanças nos fluxos de capitais internacionais faziam com que os impactos nas contas correntes e de capital se reforçassem mutuamente.
Ao mesmo tempo, para a análise dos efeitos do padrão-ouro nos bancos comerciais, é de extrema importância a descrição da conjuntura cambial e monetária vigente no país antes do estabelecimento da Caixa de Conversão no país.
Em 1906, a taxa de câmbio estava superapreciada. A austera política monetária de Murtinho, a crescente entrada de capital estrangeiro e a grande expansão das exportações de borracha do início de século XX foram os fatores que levaram a esta grande valorização da moeda nacional. Chama atenção, a discordância de alguns autores a respeito dos motivos que levaram o Governo a implantar a Caixa de Conversão.
Segundo LEVY “a implantação da Caixa de Conversão foi decorrência de uma política econômica visando o favorecimento da classe dos cafeicultores. A superapreciação cambial prejudicava o crescimento da atividade cafeeira de exportação. Em vista das circunstâncias descritas, os cafeicultores de Minas Gerais e do Rio de Janeiro liderados por São Paulo passaram a reivindicar uma política de valorização do preço internacional do café, através da retenção dos estoques excedentes.
Forma-se, então, o chamado “Convênio de Taubaté”, que estabelece como prioridade a tomada de empréstimos externos para dar curso à nova política com apoio do Estado. A União usa como mecanismo, em 1906, para a implantação da nova estratégia, a criação da Caixa de Conversão, que num primeiro momento tinha como objetivo a desvalorização cambial até que se atingisse uma taxa cambial de estabilização51.
Por outro lado, sob a ótica de FRITSCH, a adoção do padrão-ouro foi um mecanismo com vistas à estabilização cambial, e ao contrário do que a historiografia tradicional afirma, não foi um instrumento cuja concepção foi formulada para atender os interesses coorporativos dos cafeicultores.
Segundo o autor, a Caixa de Conversão “era um mecanismo capaz de trazer a estabilidade monetária doméstica e ao mesmo tempo, restaurar o equilíbrio a Balança de Pagamentos (...) e a afirmativa de que a adoção ocasional do padrão-ouro foi motivada pela intenção de proteger os interesses setoriais da cafeicultura parece ser uma simplificação grosseira”.
Partimos da premissa que as apreciações de ambos os pesquisadores são complementares e, portanto, adicionam elementos igualmente relevantes para a elucidação das razões que motivaram o governo a adotar o mecanismo da Caixa de Conversa, uma vez que o implemento da estabilização cambial e monetária era premissa necessária para que, de fato, ocorresse um aumento na entrada de recursos externos, pleiteada pelos cafeicultores.

Bibliografia:Chavantes   Ana Paula – A Consolidação do Setor Bancário em São Paulo na Década de 20 – fev 2004