Fachada do Edifício Califórnia |
Sobre a outra face do Edifício Califórnia, para a rua Dom
José de Barros, mais uma vez temos a tripartição da fachada em um embasamento
(galeria), o corpo do edifício e o coroamento, com os últimos andares recuados.
O tratamento da galeria permanece o mesmo, com os pilotis livres e a vedação
das vitrines toda em vidro afastada. Os brises em lâminas foram substituídos
por uma grelha quadriculada que salta do plano recuado de vidro. Os quatro
últimos pavimentos não foram escalonados como os da rua Barão e sim, recuados
por completo marcando um outro plano com mesmo tratamento plástico. Conectando
o corpo de escritórios e os andares recuados, um elemento escultural, recortado
no concreto como um diagrama de linhas de força, marca a paisagem.
Essa riqueza de detalhes foi perdida no projeto
executado. As alterações interferiram na composição final, criando um volume
mais simples e economicamente interessante para os empreendedores.
Nota-se que o projeto de 1953 encaminhado à prefeitura
pela Companhia Nacional de Investimentos previa a substituição dos brises e
peitoris por um tipo mais novo, um indicio das simplificações futuras. No
entanto, não houve grande interferência no projeto dos andares de escritório e na
distribuição das lojas. As alterações no piso da galeria estavam ligadas ao
tipo de material empregado no acabamento e na subdivisão de algumas salas
maiores, tornando-se menores e aumentando o número de lojas à venda. A mais
significativa mudança ficou por conta da eliminação dos pilares espacialmente
trabalhados por pilares cilíndricos regulares no piso da galeria. Mesmo
mantendo alguns desses exemplares, próximos às entradas, o percurso pela
galeria perdeu um de seus elementos compositivos mais marcantes, o que
empobreceu visualmente o conjunto.
A rampa de acesso ao cinema também ganhou contorno novos,
ficando mais estreita e longa, em um único patamar. O projeto anterior previa
dois patamares e uma rampa mais curta. De certa forma, a eliminação de uma das
lojas voltada para a Barão, aumentou o espaço da rampa e provocou uma
transformação no acesso à galeria. É interessante observar que o acesso pela
Barão possuiria praticamente o dobro da largura do acesso pela Dom José, o que
permitiria um ganho de área útil para a circulação da galeria e do cinema. Além
disso, a presença de uma rampa esguia recortando toda a lateral do lote criou
um elemento surpresa e distanciador para a apreciação do painel de Portinari.
Infelizmente, toda a espacialidade do percurso para o
cinema foi abalada coma substituição da rampa por uma escada, de mesma largura,
porém menor.
O painel teve suas dimensões reduzidas e a loja foi
novamente recolocada no ponto original. Com isso, a galeria perdeu visibilidade
pela rua mais movimentada do Centro Novo e, o acesso ao cinema perdeu, em
parte, o seu glamor.
Bibliografia:
Aleixo, Cynthia Augusta Poleto- Edifícios e Galerias Comerciais. Arquitetura e
Comércio na Cidade de São Paulo, anos 50 e 60. Tese de Mestrado- Escola de
Engenharia de São Carlos. Pág 176 a 181.