Todos os centros da Paulicéia, Ponciano Levino
Nos idos de 1700, heróico carcereiro escapou dali e sumiu da cidade de São Paulo de Piratininga. Na Vila de São Paulo, os pães eram feitos por padeiras. Sim, padeiras. Mulheres e suas escravas. Uma delas era Ângela, famosa na capital por seu gênio forte e por ser uma das melhores padeiras. Era tão famosa que uma viela perto da rua Quintino Bocaúva se chamava “Beco da Ângela Vieira”. Interessante também é que, quando a dama morreu, essa viela ficou conhecida como o “Beco da Defunta Ângela”
Em 1730, a segurança da cidade de São Paulo era fácil de fazer; bastava tomar conta de alguns desordeiros e bêbados na cadeia. No entanto, assim como para o emprego de carrasco, não havia candidatos para essa função. Estranho: nossos antepassados não gostavam de ser funcionário público... Conseguiu-se, enfim, na bacia das almas, um sujeito que topou o emprego de carcereiro e que, além de mal remunerado, recebia sempre atrasado o seu dinheiro. Chamava-se Antônio Machado – “um tipo valente e cumpridor dos seus deveres”, era o que dele então se dizia.
Na época, a varíola dizimava a população na capital e a cadeia não era um exemplo de higiene. (poucas coisas mudaram no sistema prisional com os séculos!). Uma noite, os presos fizeram um buraco na parede, por onde todos eles fugiram. Ficou o carcereiro sozinho pensando no castigo que as autoridades lhe dariam pela displicência. Poderia ser até enforcado.
Não pensou muito, porém: pelo mesmo buraco e pelo mesmo caminho, o heróico carcereiro escapou dali e sumiu da cidade de São Paulo de Piratininga.
Em 1739, os vereadores convocaram as padeiras para uma audiência. Havia muitas reclamações do tamanho do pão, que eram pequenos demais. Nos séculos seguintes, sempre se haveria de supor, como nós agora supomos que isso não é novidade em São Paulo. A discussão foi acirrada e as mulheres optaram por uma paralisação. Sim, uma greve. Pararam a fabricação do santo pão. Diante do impasse, prevaleceu ( como sempre a ditadura machista, própria dos hipéricos. Dado que ninguém se prontificava a fazer pão, os vereadores optaram pela violência: ou elas voltavam ao trabalho, ou pagariam multas e seriam presas e até mesmo torturadas. Diante das ameaças, as companheiras, em assembléia, decidiram pela “volta imediata ao trabalho”.