A respeito do urbanismo e da habitação é interessante notar a posição assumida pela Comissão. Ela não prescreve o “arrasa quarteirão”, a expulsão, a exclusão e a segregação do pobre para valorizar o centro da cidade. A Comissão propõe reformas e condena a ação dos proprietários que exploram com aluguéis exorbitantes os trabalhadores pobres da cidade.
Em relação à imigração, as informações das fichas mostram o núcleo da cidade, a região mais populosa da capital, dominada pela presença de estrangeiros. O imigrante amalgamou-se à paisagem do centro nos fins do século XIX, e a tendência até as primeiras décadas do século XX, e a tendência até as primeiras décadas do século XX ainda foi o crescimento da população estrangeira. Por outro lado, estranha-se a pequena presença de brasileiros, assim como a ausência dos contingentes de ex-escravos numa sociedade recentemente saída da escravidão.
Quanto à pobreza, a análise das fichas revelou a sua presença marcante. As descrições das condições dos cubículos, suas dimensões em metros cúbicos, a distribuição dos espaços: A área livre, o cômodo de dormir, a latrina sem abrigo e utilizada por vários indivíduos, o tanque, quando existia, para lavar a roupa e se lavar etc. demonstram as condições de vida da população pobre. Ao lado da construção cheia de vícios e improvisos, a falta de asseio é potencializada pela falta de esgoto e de água. O trabalhador pagava mais para morar pior, a moradia era cara e mal construída. A exploração dos proprietários é mostrada no aluguel por metro cúbico: quanto menor, mais elevado o seu valor. Para enfrentar a miséria esboça-se uma rede de proteção, de acolhimento e abrigo e á cidade. Essa rede manifesta-se na concentração de nacionalidade em algumas ruas e em alguns cortiços do distrito. Embora não tenham o peso que se podia imaginar, os pequenos negócios aparecem ligados à habitação. O que revela o duplo uso do espaço, como moradia e local de trabalho.
Hoje a rua Santa Ifigênia é um pólo do comércio de equipamentos eletrônicos. Ao intenso movimento comercial mistura-se, também, o tráfico de drogas e as redes de meretrício que cunharam o nome Cracolândia para a região numa explícita alusão à droga crack, qua a domina. Nela transitam os novos imigrantes que aportam à cidade de São Paulo, não mais italianos, espanhóis ou portugueses, mas nigerianos, bolivianos, coreanos e chineses. A recuperação das áreas mais degradas e violentas da região tem se mostrado difícil e as marcas, pobreza e miséria, do antigo distrito de Santa Efigênia permanecem.
Bibliografia:
Os cortiços de Santa Ifigênia: sanitarismo e urbanização (1893)