Gráfico de origem francesa, Victor André Jules Martin, aprendeu as artes gráficas na Escola de Belas-Artes de Marselhesa. Veio para o Brasil aos 34 anos. Trazia uma carta de apresentação para o Visconde de Ouro Preto. Pouco demorou na Corte, Rio de Janeiro. Veio para São Paulo, onde por dois anos residiu, com a esposa e dois filhos, em Campo Largo de Sorocaba, na fazenda de um irmão, onde instalou a primeira máquina de algodão. Depois se mudou para a capital em 1870. A princípio, a sua gráfica não tinha nome. Porém, em 1875 recebeu a visita de D. Pedro II, e aí Jules resolveu dar-lhe o nome de "Imperial Litografia".
Mantinha uma litografia com gravuras que impressionava a todos, a “Imperial Lithografia a Vapor”, foi instalada na Rua Boa Vista, depois foi transferida para a Rua São Bento. Nas vitrines de seu negócio apresentava com originalidade impressionante as suas idéias. Havia no número 63 da Rua São Bento, parede e meia totalmente decorada com suas gravuras. Jules Martin será conhecido como autor e editor de estampas sobre a cidade.
Costumava, também, apoiar fotógrafos com a venda de fotografias, como ocorreu em 1876 ao expor fotografias tiradas por Walter Bradley. Outro fotografo ajudado telo gráfico foi Renouleau que se tornou seu genro. Apesar de todo este envolvimento com a imagem seu trabalho memorável foi a idéia de unir um lado e outro da cidade através de um viaduto metálico, o Viaduto do Chá. A maior construção metálica que a cidade já vira. Ligava o antigo centro da cidade com uma área nova em expansão para oeste, vencendo o vale do Anhangabaú. Até a implantação do viaduto o vale era uma depressão profunda a marcava a paisagem com plantações de chá, horta na Chácara do Chá e vegetação esparsa.
Apesar da vitória e da lucratividade gerada através da conclusão do Viaduto do Chá sua grande frustração foi sem dúvida não ter conseguido erguer as "Galerias de Cristal", importando uma forma de construção comercial que estava no auge na Europa.
Não podemos dizer que ele não lutou para realizar seu sonho. Em 12 de setembro de 1896 através da lei nº 275 consegue que a prefeitura de São Paulo o autorize a construir as “Galerias de Cristal”. Para tanto a Lei lhe facultava: Art.... 1º - Fica declarada de utilidade pública a desapropriação da área necessária á construção de duas galerias de 8m de largura, abetas no perímetro central da cidade, conforme a planta apresentada por Jules Martin, partindo uma galeria do Largo do Rosário com direção a uma nova rua projetada entre as ruas do Comércio e 15 de novembro e cruzamento outra galeria da Rua de São Bento á rua Quinze de Novembro, abertas ao trânsito durante todo dia e noite. Art...º 2- Fica concedido a Jules Martin, ou a quem suas vezes fizer autorização para proceder à construção das mencionadas galerias com isenção de impostos cuja cobrança está afeta á Câmara Municipal, durante cinco anos, a começar da data da conclusão das galerias.....
Parágrafo Único – Toda a despesa com as desapropriações correrão por conta de Jules Martin ou quem suas correrão por conta de Jules Martin ou quem suas vezes fizer.
Apresentou desenhos, de vista interior projetando a passagem com 14m de altura e cobertura abaulada em metal e vidro.
Foi desta mesma forma só que com concessão feita pelo estado que Jules Martin conseguiu colocar o sonho do viaduto de ferro que unia um lado e outro da cidade em pé. No entanto as “Galerias de Cristal”, não teriam o mesmo sucesso. Em 21 de julho de 1899, Jules Martin consegue autorização para construção de suas “Galerias de Cristal” por seção. Quem sabe com esta divisão a obra se tornaria mais barata, e por isso teria mais probabilidade de reunir capitais para se tornar realidade. A Resolução do prefeito municipal de número 87 concede a Jules Martin, prazo para apresentar plantas definitivas das Galerias de Crystal de dois anos para apresentar as plantas definitivas. O ato de número 83 de 19 de maio de 1900: Declara haver a Câmara concedido a prorrogação de dois anos requerida por Jules Martin, dos prazos constantes do contrato de 03 de novembro de 1899 para a construção das Galerias de Crystal. A lei de número 631 de 02 de abril de 1903: Prorroga até o fim do ano de 1904 o prazo concedido a Jules Martin para a construção de uma Galeria de Cristal. O que não aconteceu já que ele veio a falecer neste em 1906
Martin era um homem empreendedor e colocou sua arte para fazer o primeiro mapa da Província de São Paulo. Foi ele quem instalou, nesta capital, o primeiro motor a gás. Foi introdutor de muitas máquinas novas para incremento da indústria. Foi quem lançou a zincogravura. Foi o autor do projeto da estátua de José de Bonifácio “o Moço”, que está no Largo de São Francisco. Foi ainda autor de um projeto de estrada de ferro para São Sebastião, de que obteve privilégio, mas que não realizou por falta de capital. Foi vencedor de um projeto para a construção de um Teatro Municipal, ou Estadual, na Praça da República. Foi autor de um projeto para a construção da Estação da Luz, que, em grande parte, foi aproveitado. Enfim, o homem demonstrava sua inventividade.
Jules Martin faleceu em 18 de setembro de 1906 aos 74 anos, levando a satisfação de ter executado o seu sonho de unir um lado e outro da cidade e a frustração de não ter tido o mesmo sucesso com suas “Galerias de Crystal”.
Bibliografia:
http://www.abril.com.br/especial450/materias/viaduto
Boletim do Arquivo Municipal de São Paulo número 22
Leis e Actos do Município de São Paulo – 1896 a 1904