sábado, 12 de março de 2011

Rua Santa Ifigênia entre a igreja e o viaduto

 

Todos os centros da Paulicéia – Ponciano Levino

A rua Santa Ifigênia foi aberta em 1809 e abrigava uma das mais antigas capelas da capital, a de Nossa Senhora da Conceição de Santa Ifigênia, construída nas primeiras décadas do século XVIII. Alguns autores afirmam que a primeira missa nessa capela foi celebrada em janeiro de 1795;outros garantem que aconteceu seis anos depois, em 1801.santa_ifigenia

A torre da igreja era dotada de um conjunto de grandes sinos que soavam por qualquer motivo, para anunciar mortes, enterros, missas, batizados, incêndios, enchentes ou a chegada de algum bispo, príncipe ou nobre de menor calibre. Os sinos perturbavam tanto a ordem pública que, em 1835, um vereador pediu certa parcimônia, tanto no número de manifestações como na intensidade do ruídos; afinal, os pobres cristãos da Vila de Piratininga precisavam descansar.

O projeto de construção do Viaduto Santa Ifigênia data do final do século XIX, quase ao mesmo tempo em que se inaugurava o Viaduto do Chá. Algumas autoridades acharam uma ideia interessante ligar o largo da Santa Ifigênia com o de São Bento. O assunto foi para a Câmara Municipal e lá apesar das intermináveis discussões, adormeceu por longos anos. Por fim, o prefeito Antônio da Silva Prado sancionou, em 30 de abril de 1908, uma lei determinado a construção do melhoramento. Assim, em 26 de julho de 1913, a obra foi entregue, estabelecendo a ligação do centro histórico com a nova cidade em desenvolvimento.

Uma coisa chamava a outra. Com a inauguração, a região mudou radicalmente e, em seguida, surgiram os grandes edifícios no seu entorno. Décadas passaram até a chegada do metrô, e o viaduto retomou a antiga importância.

Uma das principais referências do viaduto é o soar dos sinos do relógio do Mosteiro de São Bento a cada quarto de hora, desde 1772, quando a torre era uma novidade na pequena cidade. Ainda hoje, lava-se a alma ao ingressar na igreja do mosteiro e ouvir ali os cantos gregorianos dos monges beneditinos.

A fama nacional da Rua Santa Ifigênia não pode ser esquecida, local da eletrônica e hoje da informática. A partir de 1980, encontra-se nela desde um simples fio até o computador de última geração. Tudo se acha na Santa Ifigênia. Seu movimento chega a ser impressionante; milhares de pessoas encontrando-se nos vários quarteirões. Quando chega a noite, tudo acaba como que por encanto, num grande silêncio de lojas e no grande barulho produzidos por prostitutas decadentes e viciados em crack.

terça-feira, 8 de março de 2011

Rua Amaral Gurgel

Todos os Centros da Paulicéia – Ponciano Levino

Quem passa nos baixos do Elevado Costa e Silva, o famoso Minhocão, entende por eu “aquilo” é conhecido como uma das maiores agressões arquitetônicas da capital paulista. Em vários trechos por onde ele vai como uma grande ave cinzenta e triste, a decadência e o empobrecimento acampam como moradores incômodos. Exemplo clássico disso e de suas consequências desastrosas é a rua Amaral Gurgel, que nos anos 1950 era uma via pública ligando a rua da Consolação ao Centro e ao Largo do Arouche e seus lindos e chiques e, claro, extintos cinemas. Amaral Gurgel com Marq. Itú

Com o nascimento do Minhocão nos primeiros anos de 1970, foi decretada a morte da Amaral Gurgel e de sua vizinhança. Aos poucos, os moradores foram expulsos, dando lugar a cortiços e a velhos prédios abandonado e em péssimo estado, lentamente transformados em sub-habitações. Tipos estranhos se abrigaram nas largas sobras do elevado. São prostitutas, mendigos, jovens bandidos e os esquecidos e os esquecidos pela sorte, todos pequenas vítimas da grande cidade.

Triste destino, o da Amaral Gurgel. Outrora charmosa, é hoje patê do trágico circuito de ruas onde crianças de São Paulo consomem drogas. Não é preciso grande esforço para achar, entre o cinzento das colunas, um menino cheirando cola, fumando baseado de maconha ou uma pedra de crack.

Enquanto isso, nos baixos do imenso viaduto que obre, a rua Amaral Gurgel foi recebendo o que lhe era ofertado: dos governos, o esquecimento; da população, o medo; e dos comerciantes, os anônimos frequentadores de pequenos bares e boates com caras suspeitas.Impera aí um caos arquitetônico que faz mal aos olhos dos transeuntes.

Manuel Joaquim do Amaral Gurgel, patrono da rua, nasceu em São Paulo, em 08 de setembro de 1797. Fez o curso primário, frequentou a aula de latim do professor André da Silva Gomes, tendo por companheiros de estudos Vicente Pires da Mota, João Crispiniano Soares, Joaquim Inácio Ramalho, Ildefonso Xavier Ferreira, Rafael Tobias de Aguiar e outros que mais tarde surgiriam no cenário político do País. Sentindo propensão para o estudo eclesiástico, matriculou-se no curso de Teologia recém instalado no Convento das Carmelitas. Em 1814, estudou no curso de Filosofia sob a direção de Frei Francisco de Mont Alverne. Estudou Francês com o Engenheiro Marechal Pedro Muller. Mais tarde foi nomeado para reger a cadeira de História Eclesiástica em São Paulo, e para substituir o professor de Exegética, o Cônego Antônio Pais de Camargo. Em 1816, foi ordenado Presbítero pelo Bispo D. Mateus. Tomou parte ativa na aclamação de Pedro I, em 07 de setembro de 1822. Tornou-se famoso na reação contra a "Bernarda de Francisco Ignácio". Enfrentou pela imprensa, Frei Antônio de Santa Gertrudes, um dos mais apaixonados pela causa anti-andradista. Por ser um dos propugnadores de Guarda-Cívica, organizada para defesa das liberdades públicas, foi exilado de São Paulo para o Rio de Janeiro. Fez parte do Governo e do Conselho Geral da Província. Formou-se em Direito pela Faculdade de São Paulo, foi nomeado lente e diretor da mesma Faculdade. Como jornalista, fundou o "Observador da Galerias", jornal esse chamado em seguida "O Observador Paulistano". Foi deputado, conselheiro de Estado, comendador da Ordem de Cristo, orador, grande jurisconsulto, e interinamente presidente da Província. Produziu várias obras tais como: Memória Apologética a Pedro I, Reflexões a propósito do celibato clerical, Noticia biográfica do General José Arouche de Toledo Rondon, Oração Fúnebre e grande cópia de outros trabalhos. Faleceu em São Paulo, Capital, em 15 de novembro de 1864.