Todos os Centros da Paulicéia – Ponciano Levino
Quem passa nos baixos do Elevado Costa e Silva, o famoso Minhocão, entende por eu “aquilo” é conhecido como uma das maiores agressões arquitetônicas da capital paulista. Em vários trechos por onde ele vai como uma grande ave cinzenta e triste, a decadência e o empobrecimento acampam como moradores incômodos. Exemplo clássico disso e de suas consequências desastrosas é a rua Amaral Gurgel, que nos anos 1950 era uma via pública ligando a rua da Consolação ao Centro e ao Largo do Arouche e seus lindos e chiques e, claro, extintos cinemas.
Com o nascimento do Minhocão nos primeiros anos de 1970, foi decretada a morte da Amaral Gurgel e de sua vizinhança. Aos poucos, os moradores foram expulsos, dando lugar a cortiços e a velhos prédios abandonado e em péssimo estado, lentamente transformados em sub-habitações. Tipos estranhos se abrigaram nas largas sobras do elevado. São prostitutas, mendigos, jovens bandidos e os esquecidos e os esquecidos pela sorte, todos pequenas vítimas da grande cidade.
Triste destino, o da Amaral Gurgel. Outrora charmosa, é hoje patê do trágico circuito de ruas onde crianças de São Paulo consomem drogas. Não é preciso grande esforço para achar, entre o cinzento das colunas, um menino cheirando cola, fumando baseado de maconha ou uma pedra de crack.
Enquanto isso, nos baixos do imenso viaduto que obre, a rua Amaral Gurgel foi recebendo o que lhe era ofertado: dos governos, o esquecimento; da população, o medo; e dos comerciantes, os anônimos frequentadores de pequenos bares e boates com caras suspeitas.Impera aí um caos arquitetônico que faz mal aos olhos dos transeuntes.
Manuel Joaquim do Amaral Gurgel, patrono da rua, nasceu em São Paulo, em 08 de setembro de 1797. Fez o curso primário, frequentou a aula de latim do professor André da Silva Gomes, tendo por companheiros de estudos Vicente Pires da Mota, João Crispiniano Soares, Joaquim Inácio Ramalho, Ildefonso Xavier Ferreira, Rafael Tobias de Aguiar e outros que mais tarde surgiriam no cenário político do País. Sentindo propensão para o estudo eclesiástico, matriculou-se no curso de Teologia recém instalado no Convento das Carmelitas. Em 1814, estudou no curso de Filosofia sob a direção de Frei Francisco de Mont Alverne. Estudou Francês com o Engenheiro Marechal Pedro Muller. Mais tarde foi nomeado para reger a cadeira de História Eclesiástica em São Paulo, e para substituir o professor de Exegética, o Cônego Antônio Pais de Camargo. Em 1816, foi ordenado Presbítero pelo Bispo D. Mateus. Tomou parte ativa na aclamação de Pedro I, em 07 de setembro de 1822. Tornou-se famoso na reação contra a "Bernarda de Francisco Ignácio". Enfrentou pela imprensa, Frei Antônio de Santa Gertrudes, um dos mais apaixonados pela causa anti-andradista. Por ser um dos propugnadores de Guarda-Cívica, organizada para defesa das liberdades públicas, foi exilado de São Paulo para o Rio de Janeiro. Fez parte do Governo e do Conselho Geral da Província. Formou-se em Direito pela Faculdade de São Paulo, foi nomeado lente e diretor da mesma Faculdade. Como jornalista, fundou o "Observador da Galerias", jornal esse chamado em seguida "O Observador Paulistano". Foi deputado, conselheiro de Estado, comendador da Ordem de Cristo, orador, grande jurisconsulto, e interinamente presidente da Província. Produziu várias obras tais como: Memória Apologética a Pedro I, Reflexões a propósito do celibato clerical, Noticia biográfica do General José Arouche de Toledo Rondon, Oração Fúnebre e grande cópia de outros trabalhos. Faleceu em São Paulo, Capital, em 15 de novembro de 1864.
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