domingo, 18 de dezembro de 2011

Cortiços de Santa Ifigênia

Prédio de Cortiço

Em 1893, como resposta as constantes reclamações tanto de particulares, dos políticos exigidos pelo incessante crescimento da cidade o intendente municipal designa uma comissão de especialistas para analisar as condições de higiene da “zona afetada pela febre amarela”. No relatório encaminhado ao Prefeito Cesário Ramalho da Silva os integrantes da Comissão de exame e inspecção das habitações operárias e cortiços no distrito de Santa Ifigênia apresentaram detalhes as más condições sanitárias de determinadas ruas e casa desse bairro. A situação de emergência autorizava-os a adentrar o espaço privado das habitações “em bem da higiene urbana”, pois, como enfatizavam os inspetores, a área construída “ponto vulnerável do sistema de defesa”. E mais reivindicavam em nome da higiene pública o poder e o dever das autoridades governamentais de “em certos casos suprimir garantias” e até “mandar demolir, retocar e reformar” sem obrigação, em certas circustâncias, de indenizar o proprietário.
E as primeiras observações foram: “Ai a depressão do terreno no interior dos quarteirões é uma bacia rodeada pelo aterro das ruas, cujo calçamento fica de ordinário mais alto do que a área dos quintais.
A drenagem superficial é assim imperfeitíssima sem o concurso de um bom serviço de esgoto
A umidade copiosa do terreno, não rato, forma nestes terrenos deprimidos, pequenas lagoas que as águas pluviais alimentam e que só desaparecem pela ação do calor solar.
Em mais de um ponto a drenagem é mesmo impossível por se achar o encanamento do esgoto em nível superior. Em outros sítios a carga adicional de água no tempo de chuva faz refluir da rede de esgoto matérias aí contidas ou retardadas, o que demonstra as condições desfavoráveis em que essa rede funciona”.
Em seus relatórios a comissão coordenada pelo engenheiro Luis Cesar do Amaral Gama e formada por seu colega Theodoro Sampaio e três médicos, utiliza expressões que conjugam noções técnicas e figuras de linguagem. Assim, se suas avaliações iniciam-se afirmando do ponto de vista técnico a necessidade impositiva de “uma plano de saneamento” de “manter em nível elevado a higiene {....} [e] cuidar da unidade urbana a habitação”
Várias são as denominações para designar essas moradias coletivas: ”habitações comuns, estalagens, cortiços, hotéis de 3ª ou 4ª ordem, casas de dormida, prédios transformados em hospedaria, vendas e tascas, quase todas com aposentos nos fundos para aluguel”.
Preocupados com as péssimas condições sanitárias dos cortiços e demais habitações coletivas dessa área bastante populosa e próxima ao “centro velho” da cidade, os inspetores percorreram casa a casa e anotaram minuciosamente em fichas os nomes dos proprietários e de seus respectivos inquilinos.

Bibliografia:
Os cortiços de Santa Ifigênia: sanitarismo e urbanização (1893) pág 21