domingo, 17 de junho de 2012

As comparações entre os três edifícios.


Edifício Renata Ferreira Sampaio

No ABC, o tema se antevê é o da curtaim-wall, ou das paredes externas envidraçadas, preenchendo o vão entre pilares e vigas. A fachada é definida pela malha estrutural, pilares e vigas de concreto armado, explicitados em sua modulação: somente modificada nos desiguais juntos à parede na transição das fachadas. De certa maneira, aquilo que é conhecido como lógica estrutural e espacial é rebatido didaticamente nas fachadas.
No Renata Sampaio Ferreira, por uma operação distinta, o que se vê é uma parede cortina composta por elementos vazados de concreto, a conformar um plano que protege a primeira pele constituída por esquadrias de madeira e vidro. Essa segunda parede se estrutura por meio de uma lógica modular própria, onde montantes verticais descarregam suas cargas sobre lajes prolongadas a partir de vigas de borda, de forma que suas armações relacionam-se à estrutura principal indiretamente, guardando ritmo e paginação própria.
Do ABC para o edifício Renata Sampaio, nota-se uma transformação significativa na linguagem de Bratke: seja por novas práticas estruturais e pormenores construtivos seja na busca de novos tratamentos plásticos que expressassem valores de caráter mais nacional, seja na procura de novas tipologias para edifícios verticais. Nas práticas construtivas procurou-se uma acomodação às condições da indústria nacional envolta num ideário tomado como paradigma, como os elementos vazados usados para sombrear a fachada tropical, para camuflar instalação de ar condicionado, para compor plasticamente uma fachada sul (elementos vazados recobrem paredes cegas de alvenaria). O edifício deixa de ser um monobloco, como no ABC, onde, comparecem os clássicos elementos de base, deslinhas desenvolvimento e coroamento, para separar a torre do embasamento; pela linha de sombra criada a partir  de seu “arranque” formal.
No fazer arquitetônico de Bratke é possível notar um processo pelo qual a linguagem tradicional vai se transformando numa novas linguagem . Os três aqui analisados nos permitem em parte constatar essa transformação: porém, as passagens não são tão diretas, imediatas. Os rastros entre um fazer, e outro se encontram ali. Entretanto, muitas vezes denotam caminhos distintos. As esquadrias desenhadas sempre pela mesma racionalidade exemplificam a familiaridade: apesar dos diferentes materiais, madeira e ferro, guardam em suas paginações, três linhas divisórias: que separam ventilação e iluminação. Por outro lado, nos raciocínios espaciais e estruturais as diferenças são marcantes: ora pelo programa, ora pela busca da formulação da ossatura independente em seu sentido mais original.


Bibliografia
: Edifícios Modernos e o Centro Histórico de São Paulo dificuldades de textura e forma- Alessandro José Castroviejo Ribeiro – Tese de doutorado