sábado, 13 de abril de 2013

A Cinelandia ficava no Distrito República


Menos de dois anos depois do début consagrador do UFA, a Metro Goldwyn Mayer instala sua própria sala: Um frêmito de emoção! “O METRO possui todos os aperfeiçoamentos das salas de exibição da Broadway e Champs Elysées!”. As reportagens explicam como funciona o ar condicionado, equipamento desconhecido do público: “um espectador que entrar molhado de chuva ou suor, pode, sem perigo algum para a sua saúde, assistir a toda uma sessão no METRO: a roupa e a pele secar-se-ão sem resfriamento”. 
Cine Metro por dentro
A entrada triunfal do Cine METRO no circuito ofusca um pouco o UFA. Guilherme de Almeida escreve: “Um novo, poderoso eixo vara a cidade de São Paulo, girando, centrípeto. Esticada, reta, entre duas montanhas simbólicas de nossa grandeza” 
O Jaraguá, a montanha histórica que Deus fez; e o Martinelli, a montanha moderna que os homens fizeram - a Avenida São João, centralizadora, atraente, magnética, vai chamando a si a vida urbana, que a ela se gruda e com ela roda empolada toda de arranha-céus, apinhada de autos e trens, inchada de pencas de gente, borbulhada de cachos de luz... “E - síntese da vida de hoje, índice infalível do progresso desses tempos - o cinema também para alí converge,escancarando as suas portas e imam para a dócil limalha humana. O BROADWAY, o UFA e agora, hoje, esta noite, mais um: o Cine METRO.” “Impressão geral recebida na tarde de hontem, durante o cordialíssimo ‘cocktail’ oferecido à imprensa - o ‘Cine METRO’, como o metro, base do sistema métrico, fixa também a base de novo sistema de construção especializada. Um cinema padrão, puramente cinema. Em tudo; por tudo”.
O IPIRANGA é um monumento ao cinema.  Vivemos em pleno fastígio cinematográfico. O filme que bate na tela e a sala de projeção estão em perfeita harmonia, formam quase que uma coisa única, uma união consensual. O filme era uma parte do espetáculo, a parte mais importante sem dúvida, mas não era tudo. O espetáculo começava já na calçada, muito antes da plateia ser escurecida e é bastante provável que os frequentadores vissem apenas uma parte do que acontecia no filme, livrando um olho para acompanhar a atmosfera de encantamento. Isto acontecia entre nós porque o cinema se tornara o principal ponto de convivência (convergência) social, o programa preferido e para o qual todos se arrumavam com aprumo e gosto. Quando alguém diz que viu Seis Destinos, não vem á cabeça o nome do diretor Julien Duvivier, mas sim uma constatação: “Ah, esteve no IPIRANGA”. Estes templos, erigidos para adoração das divindades cinematográficas provocam de acordo com lógica pragmática do sistema exibidor, um saudável efeito psicológico nos frequentadores, algo como uma gratificação - vivenciar por certo tempo ambientes de luxo, com mármores, veludos, espelhos, banheiros deslumbrantes – que retempera a energia do paulistano para sua jornada semanal.
Na ausência de Francisco Serrador, falecido em 1941, Julio Llorente se transforma no personagem principal, recebendo os convidados que acorrem pressurosos para conhecer o IPIRANGA. Liorente encarna à perfeição o mito do 881f-made-man, ele que havia começado em funções subalternas num cinema de Serrador e fora subindo até chegar à testa da mais poderosa empresa exibidora de São Paulo, que domina amplamente o mercado com dezenas de salas espalhadas por todos os cantos da cidade. Mas é justamente em frente ao IPIRANGA - cartão de visitas de
Serrador - que se instala um empresário arrojado cujo nome estará em evidência daí por diante toda vez que se falar de cinema. Paulo B. Sá Pinto está ligado ao MARABA e ao RITZ, caçulas da Cinelândia. “O IPIRANGA é o cinema número 1 da cidade”. Nos primeiros anos de funcionamento, apresenta durante duas semanas um filme da Fox; duas semanas um da Warner, depois um da Paramount, outro da Universal, mais um da RKO, voltando então ao início da ‘corrente’.
No topo da hierarquia cabe ao IPIRANGA o que havia de mais prestigiooso nas Companhias distribuidoras,. A segunda quota estava reservada ao ART-PALACIO e em seguida vinha o BANDEIRANTES. Todos da Serrador. Pelo censo de 1940, São Pauto tem uma população de 1.317.396 habitantes e a oferta de assentos nos cinemas da capital se aproxima dos 100 mil (mais exatamente 95.754), ocupados por 19.526.224 espectadores. Tais números mostram que o paulistano vai aos cinemas com assiduidade, uma frequência per capita de 15 ao ano. Nos cinco anos seguintes, mais de 20 salas são inauguradas e o aumento de público é mesmo superior ao crescimento demográfico. Ou seja, há um crescimento real de público, as pessoas vão mais ao cinema, não se trata apenas de um incremento numérico.
A Cinelandia, que abriga as principais salas - ARTPALACIO, AVENIDA, ÓPERA,BROADWAY, RITZ, IPIRANGA, METRO, MARABA, BANDEIRANTES, PARATODOS, atrai a grande massa de público. Dentre as dez salas de maior frequência em 1945, seis delas estão ali no Distrito República.

Bibliografia: Simões Inimá – Salas de Cinema em São Paulo

domingo, 7 de abril de 2013

Os cinemas do distrito República


O TABARIS,era um cinema só para homens,na rua Formosa, vizinho ao Frontão Nacional, templo da pelota, especializa-se nestes programas. Os títulos dos filmes
são bastante sugestivos: Ginecologia e Obstetrícia, Rasputh e As Mulheres, geralmente películas antigas em que se faziam enxertos de cenas apimentadas. Em 1935, a Platea publica o anúncio: “cine TABARIS, rua Formosa, 18-A. Hoje, a partir das 14 horas, sessões corridas com a exibição do grandioso filme do gênem ‘só para adultos’: Vício e Perversidada Magníficas cenas de forte realismo e nú artístico: PROHIBIDO para menores e senhoritas”.
O UFA ficava no Largo do Arouche nos arredores, onde já se concentram hotéis luxuosos, leiterias, casas de chá, lojas modernas e cinemas. O UFA-PALACE, por
exemplo.
Com o UFA-PALACE, Rino Levi introduz uma 
arquitetura onde a luz é a principal elemento
O UFA-PALACE está à altura do progresso de São Paulo, dirá mais uma vez o cronista da época. Sua edificação expressa nova maneira de conceber uma sala
de cinema, pelo menos aqui entre nós. O projeto de Rino Levi está alerta a uma infinidade de detalhes. A visibilidade do espectador deverá ser perfeita de todos os pontos, observando sempre que uma linha dos olhos até o limite da tela não pode ser interceptada por nada, pela cabeça de ninguém. São feitos estudos de acústica, iluminação,ventilação, acessos, qualidade de projeção, resultando num conjunto funcional e confortável.
A construção, sob responsabilidade da Sociedade Constructora Brasileira Ltda., é iniciada em 15 de maio de 1936 e concluída ao final de outubro. São 3.139 lugares, divididos entre a plateia (1.860 poltronas) e o balcão (1.279). Completando, um pequeno palco para representações e uma plataforma móvel. As paredes, de acordo com a descrição da Revista Po Iytechnica, eram de cor palha com leve matiz ouro, obtida com reboco de cimento penteado, um reboco composto de grãos de quartzo e madrepérola, pó de mármore, mica, cimento branco e pequena dose de tinta em pó.
A descrição do Correio Paulistano era mais entusiastica: “O UFA-PALACIO, o novo cinema de São Paulo, parece que saiu de algum livro de WeIIs. As suas linhas lisas e moderníssimas, o seu sistema de iluminação que, não fazendo sombra nos rostos, torna todo mundo mais bonito e mais jovem. As duas cores escolhidas para a decoração, o creme e o brique, tudo numa harmonia deliciosa torna o UFA uma sala de diversão como antes só fora vista nos próprios filmes. A sessão de hontem, dedicada ao mundo oficial, à imprensa e a um grande número de convidados, foi iniciada com um trecho de Carlos Gomes e causou impressão esplendida, não só como música, como a orchestra brotando do solo, para em seguida desaparecer, logo terminada a música”.
Nos dias que antecederam a inauguração,jornal cuidou de promover um concurso para saber qual filme alemão deveria ser exibido na abertura da sala, alimentando as expectativas com fotos dos diretores da UFA que deveriam chegar a bordo de um dingivel.
O vencedor, na preferéncia dos leitores1 foi Boccaclo, projetado na sessão de estreia.
Num momento em que o cinema americano ocupa a maioria das telas em São Paulo (e no resto do mundo), parece paradoxal que não sejam empresas americanas a investir na construção de cinemas, seguindo o exemplo da Paramount, e sim a UFA, empresa estatal alemã. Não deve ser desconsiderada a disputa diplomática que se desenrola a nível internacional, onde o cinema á arma valiosa para angariar simpatias. Ironicamente, a Inauguração do belíssimo e funcional UFA PALACE ocorre no mesmo dia em que as manchetes dos jornais paulistanos noticiam a entrada de Franco em
Madri, bombardeada pela aviação nazista. Mas acima das questões ideológicas, o UFA deslumbrava por igual a todos os seus frequentadores.
Foi um salto qualitativo na construção das salas e definiu de vez a localização da Cinelândia paulistana, território de contornos flutuantes, mas que sempre inclui a Avenida São João, o Largo Paissandu, o Santa Efigênia, a Avenida Ipiranga. 

Bibliografia : Simões, Inamá - Salas de Cinema em São Paulo