Menos de dois anos depois do
début consagrador do UFA, a Metro Goldwyn Mayer instala sua própria sala: Um
frêmito de emoção! “O METRO possui todos os aperfeiçoamentos das salas de
exibição da Broadway e Champs Elysées!”. As reportagens explicam como funciona
o ar condicionado, equipamento desconhecido do público: “um espectador que
entrar molhado de chuva ou suor, pode, sem perigo algum para a sua saúde,
assistir a toda uma sessão no METRO: a roupa e a pele secar-se-ão sem
resfriamento”.
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Cine Metro por dentro |
A entrada triunfal do Cine
METRO no circuito ofusca um pouco o UFA. Guilherme de Almeida escreve: “Um
novo, poderoso eixo vara a cidade de São Paulo, girando, centrípeto. Esticada, reta,
entre duas montanhas simbólicas de nossa grandeza”
O Jaraguá, a montanha
histórica que Deus fez; e o Martinelli, a montanha moderna que os homens
fizeram - a Avenida São João, centralizadora, atraente, magnética, vai chamando
a si a vida urbana, que a ela se gruda e com ela roda empolada toda de arranha-céus,
apinhada de autos e trens, inchada de pencas de gente, borbulhada de cachos de
luz... “E - síntese da vida de hoje, índice infalível do progresso desses tempos
- o cinema também para alí converge,escancarando as suas portas e imam para a
dócil limalha humana. O BROADWAY, o UFA e agora, hoje, esta noite, mais um: o
Cine METRO.” “Impressão geral recebida na tarde de hontem, durante o
cordialíssimo ‘cocktail’ oferecido à imprensa - o ‘Cine METRO’, como o metro,
base do sistema métrico, fixa também a base de novo sistema de construção
especializada. Um cinema padrão, puramente cinema. Em tudo; por tudo”.
O IPIRANGA é um monumento ao
cinema. Vivemos em
pleno fastígio cinematográfico. O filme que bate na tela e a sala de projeção estão em perfeita
harmonia, formam quase que uma coisa única, uma união consensual. O filme era uma parte do
espetáculo, a parte mais importante sem dúvida, mas não era tudo. O espetáculo começava já na
calçada, muito antes da plateia ser escurecida e é bastante provável que os frequentadores vissem apenas uma parte do que acontecia
no filme, livrando um olho para acompanhar a atmosfera de encantamento. Isto
acontecia entre nós porque o cinema se tornara o principal ponto de convivência
(convergência) social, o programa preferido e para o qual todos se arrumavam
com aprumo e gosto. Quando alguém diz que viu Seis Destinos, não vem á cabeça o
nome do diretor Julien Duvivier, mas sim uma constatação: “Ah, esteve no
IPIRANGA”. Estes templos, erigidos para adoração das divindades cinematográficas
provocam de acordo com lógica pragmática do sistema exibidor, um saudável
efeito psicológico nos frequentadores, algo como uma gratificação - vivenciar
por certo tempo ambientes de luxo, com mármores, veludos, espelhos, banheiros
deslumbrantes – que retempera a energia do paulistano para sua jornada semanal.
Na ausência de Francisco
Serrador, falecido em 1941, Julio Llorente se transforma no personagem
principal, recebendo os convidados que acorrem pressurosos para conhecer o
IPIRANGA. Liorente encarna à perfeição o mito do 881f-made-man, ele que havia
começado em funções subalternas num cinema de Serrador e fora subindo até
chegar à testa da mais poderosa empresa exibidora de São Paulo, que domina
amplamente o mercado com dezenas de salas espalhadas por todos os cantos da
cidade. Mas é justamente em frente ao IPIRANGA - cartão de visitas de
Serrador - que se instala um
empresário arrojado cujo nome estará em evidência daí por diante toda vez que
se falar de cinema. Paulo B. Sá Pinto está ligado ao MARABA e ao RITZ, caçulas
da Cinelândia. “O IPIRANGA é o cinema número 1 da cidade”. Nos primeiros anos
de funcionamento, apresenta durante duas semanas um filme da Fox; duas semanas
um da Warner, depois um da Paramount, outro da Universal, mais um da RKO,
voltando então ao início da ‘corrente’.
No topo da hierarquia cabe ao
IPIRANGA o que havia de mais prestigiooso nas Companhias distribuidoras,. A
segunda quota estava reservada ao ART-PALACIO e em seguida vinha o
BANDEIRANTES. Todos da Serrador. Pelo censo de 1940, São Pauto tem uma
população de 1.317.396 habitantes e a oferta de assentos nos cinemas da capital
se aproxima dos 100 mil (mais exatamente 95.754), ocupados por 19.526.224
espectadores. Tais números mostram que o paulistano vai aos cinemas com
assiduidade, uma frequência per capita de 15 ao ano. Nos cinco anos seguintes,
mais de 20 salas são inauguradas e o aumento de público é mesmo superior ao
crescimento demográfico. Ou seja, há um crescimento real de público, as pessoas
vão mais ao cinema, não se trata apenas de um incremento numérico.
A Cinelandia, que abriga as
principais salas - ARTPALACIO, AVENIDA, ÓPERA,BROADWAY, RITZ, IPIRANGA, METRO,
MARABA, BANDEIRANTES, PARATODOS, atrai a grande massa de público. Dentre as
dez salas de maior frequência em 1945, seis delas estão ali no Distrito República.
Bibliografia:
Simões Inimá – Salas de Cinema em São Paulo