Festejos de N. S. do Rosário |
Era o festejo dos pretos devotos que não poucas vezes iam a excessos. João Amaro requereu, na sessão de cinco de janeiro de 1833, licença “para fazer danças de pretos no dia seis do corrente no Pateo do Rosário. Ordenando a edilidade que ele se dirigisse ao juiz de paz, “que lhe deferirá na conformidade das leis”. O juiz, realmente, deferirá de forma favorável aos devotos e a Câmara, sempre vigilante do bem comum, mandava o fiscal cobrar “as contas dos pretos de forma do artigo 8° das Posturas.
Por ocasião das solenidades que, antigamente, se efetuavam n igreja de Nossa Senhora do Rosário, em honra desta Santa, se realizavam também, em frente à mesma igreja, festejos populares, postando-se aí um numeroso bando de pretos africanos, que executavam com capricho, a célebre música denominada Tambaque,(espécie de Zé Pereira), cantando e dançando com as suas parceiras, que, adornadas de rodilha de pano branco na cabeça, pulseiras de prata, e de rosário de contas vermelhas e de ouro ao pescoço, pegavam no vestido e faziam requebrados, sendo por isso vitoriados com uma salva de palmas pela numerosa assistência; e, quando terminava a festa da igreja, os mesmos africanos acompanhavam, tocando quantos instrumentos esquisitos haviam, e cantando, o Rei e a Rainha, com a sua corte, composta de grande número de titulares e de damas, que se apresentavam muito bem vestidos. O Rei e a Rainha, logo que chegavam a casa, ofereciam aos titulares, que adotavam os títulos que então possuíam os antigos estadistas do tempo do império, e as damas, um suculento jantar, durante o qual trocavam-se amistosos brindes entre os convivas, mandando as majestades distribuir bebidas aos tocadores do mesmo Tambaque, e que ficavam na rua esperando a saída dos mesmos personagens, os quais, no meio de ensurdecedor barulho, voltavam para a igreja, a fim de tomarem parte na solene procissão de Nossa Senhora do Rosário. Os filhos menores de idade dos pretos africanos, acompanhados de suas mães, também assistiam as mesmas festas, apresentando-se bem vestidos, com um gorro de lã, feito de crochet, na cabeça, e trazendo, como adorno, ao pescoço um rosário de contas vermelhas e de ouro, com grande número de bugigangas, tais como dentes de onça, figas de guiné e de ouro, olho de cabra, pacova, etc..sendo que tudo isso era para livrar os pequenos filhos dos mesmos pretos africanos de algum mau olhado ou de outra qualquer feitiçaria.
Mas nem tudo eram festas. Havia também os cerimoniais fúnebres, tocados de reminiscências africanas e tolerados pela igreja até certo ponto. Esse certo ponto foi a vizinhança que se desenvolvia em torno da igreja. São Paulo crescia e os cidadãos que vinham morar para o largo do Rosário começaram a se inquietar com a cantoria dos negros pela noite a dentro quando morria um membro da irmandade.
Bibliografia:
Igrejas de São Paulo , Leonardo Arroyo, págs 208 e 209