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Edifício Renata Sampaio Ferreira |
Os edifícios ABC (1949) e Renata Sampaio Ferreira (1956)
ilustram bem a trajetória do arquiteto Bratke rumo à consolidação de sua
linguagem moderna, racionalista e pautada na construção de uma brasilidade até
certo ponto programática. Que pode ser identificada nos desenhos de componentes
construtivos e objetos diversos adaptados às nossas condições materiais e mão
de obra (Camargo, 2000, p.151). Além de procurar, como outros um vocabulários
que expressasse um caráter nacional, por uma herança ibérica, pelas imposições
do clima, pelo enfático uso de elementos vazados. Os dois edifícios possuem
gabaritos definidos pela mesma legislação; que estipulava a altura dos prédios
em função da largura da rua. A diferença de altura entre ambos deve-se às
dimensões dos lotes e ao fato de que no Renata Sampaio uma torre de serviços
encontra-se solta de seu embasamento. Solução incomum naquele momento (Segawa
1997, p 192).
Nas esquinas os três edifícios revelam soluções formais
bem distintas. A parede côncava do ABC reporta-se aos dois panos do Jaçatuba,
contidas na grande concavidão da fachada principal: é particularmente
interessante a elipse sugerida pelo coroamento de ambos à semelhança dos
arremates barrocos. Daí desprende-se, além da clara referência mútua, duas
outras leituras: uma retirada das condições de desenho se para as esquinas,
presente na legislação, que “sugeria” chanfros ou saliências convexas e menos
frequentes côncavas e, outra, que se aloja na origem de uma questão puramente
formal e arquitetônica. Se essa análise estende-se ao Renata Sampaio, nota-se
que os procedimentos de mesma natureza são ali também executados: pela grande
empena. Entre o Renata Sampaio e os outros dois edifícios é visível um maior
distanciamento quanto ao arranjo volumétrico, a implantação e do desenho da
esquina. A legislação, embora semelhante à do ABC , foi interpretada de maneira
diferente, sobretudo porque entrava em cena uma nova questão arquitetônica; a
torre solta de seu embasamento. Essa nova tipologia, em gestação nos anos 50,
centralizou algumas decisões importantes, no sentido de fazê-la mais
expressiva. O fato do edifício se encontrar recuado do alinhamento na Rua Major
Sertório é um recurso facilitado pela dimensões do lote e uma decisão para
acrescentar altura à torre. Outra decisão relevante foi a de se eleger o recuo
lateral, na Rua Araujo, com referência para o alinhamento da torre, e na mesma
lógica determinar a ortogonalidade com a face principal do embasamento voltada
para a Araujo. Essas operações provocaram duas consequências formais: um
imperceptível desvio na divisa frontal do lote e a grande parede chanfrada na
esquina; no mesmo sentido do pequeno chanfro deixado na calçada para atender à
legislação. De qualquer maneira, essa solução atípica de esquina causa um
estranhamento em relação ao desenho adotado nas esquinas do ABC e Jaçatuba.Bibliografia: Edificios Modernos e o Centro Histórico de São Paulo dificuldades de Textura e forma. Autor: Alessandro José Castroviejo Ribeiro - Tese de Doutorado.