quinta-feira, 7 de junho de 2012

Os Edifícios ABC e Renata Sampaio Ferreirra


Edifício Renata Sampaio Ferreira

Os edifícios ABC (1949) e Renata Sampaio Ferreira (1956) ilustram bem a trajetória do arquiteto Bratke rumo à consolidação de sua linguagem moderna, racionalista e pautada na construção de uma brasilidade até certo ponto programática. Que pode ser identificada nos desenhos de componentes construtivos e objetos diversos adaptados às nossas condições materiais e mão de obra (Camargo, 2000, p.151). Além de procurar, como outros um vocabulários que expressasse um caráter nacional, por uma herança ibérica, pelas imposições do clima, pelo enfático uso de elementos vazados. Os dois edifícios possuem gabaritos definidos pela mesma legislação; que estipulava a altura dos prédios em função da largura da rua. A diferença de altura entre ambos deve-se às dimensões dos lotes e ao fato de que no Renata Sampaio uma torre de serviços encontra-se solta de seu embasamento. Solução incomum naquele momento (Segawa 1997, p 192).
Nas esquinas os três edifícios revelam soluções formais bem distintas. A parede côncava do ABC reporta-se aos dois panos do Jaçatuba, contidas na grande concavidão da fachada principal: é particularmente interessante a elipse sugerida pelo coroamento de ambos à semelhança dos arremates barrocos. Daí desprende-se, além da clara referência mútua, duas outras leituras: uma retirada das condições de desenho se para as esquinas, presente na legislação, que “sugeria” chanfros ou saliências convexas e menos frequentes côncavas e, outra, que se aloja na origem de uma questão puramente formal e arquitetônica. Se essa análise estende-se ao Renata Sampaio, nota-se que os procedimentos de mesma natureza são ali também executados: pela grande empena. Entre o Renata Sampaio e os outros dois edifícios é visível um maior distanciamento quanto ao arranjo volumétrico, a implantação e do desenho da esquina. A legislação, embora semelhante à do ABC , foi interpretada de maneira diferente, sobretudo porque entrava em cena uma nova questão arquitetônica; a torre solta de seu embasamento. Essa nova tipologia, em gestação nos anos 50, centralizou algumas decisões importantes, no sentido de fazê-la mais expressiva. O fato do edifício se encontrar recuado do alinhamento na Rua Major Sertório é um recurso facilitado pela dimensões do lote e uma decisão para acrescentar altura à torre. Outra decisão relevante foi a de se eleger o recuo lateral, na Rua Araujo, com referência para o alinhamento da torre, e na mesma lógica determinar a ortogonalidade com a face principal do embasamento voltada para a Araujo. Essas operações provocaram duas consequências formais: um imperceptível desvio na divisa frontal do lote e a grande parede chanfrada na esquina; no mesmo sentido do pequeno chanfro deixado na calçada para atender à legislação. De qualquer maneira, essa solução atípica de esquina causa um estranhamento em relação ao desenho adotado nas esquinas do ABC e Jaçatuba.


Bibliografia: Edificios Modernos e o Centro Histórico de São Paulo dificuldades de Textura e forma. Autor: Alessandro José Castroviejo Ribeiro - Tese de Doutorado.

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