sábado, 26 de julho de 2014

A concorrência do Banco do Brasil com Bancos estrangeiros

A queixa dos estabelecimentos bancários (eminentemente, os nacionais) era integralmente justificável. O Banco do Brasil foi constituído, no âmbito de suas atividades comerciais, para competir em condições de igualdade com os bancos estrangeiros instalados no país.
Antigo Banco do Brasil 
Entretanto, o Banco do Brasil obtinha vantagens comparativas em relação aos bancos comerciais nacionais por duas razões principais: a primeira está ligada ao mercado de câmbio. A afluência de grande quantidade de recursos externos, vindos através das operações de subscrição de títulos governamentais, expandiu as operações ligadas aos negócios em moeda estrangeira, permitindo que o Banco auferisse grandes lucros nesse mercado. A segunda razão foi o aumento da confiança do público. Tendo o Banco do Brasil o respaldo do governo e agências espalhadas por várias regiões do país, os agentes econômicos tinham confiabilidade na solidez da instituição e, por esse motivo, preferiam realizar suas operações de depósitos e descontos neste estabelecimento bancário. Deste modo, o Banco do Brasil pôde, em pouco tempo, consolidar-se como o maior banco nacional. Em decorrência desses fatos, tem-se a hegemonia do Banco do Brasil, que exercendo uma dura concorrência com os demais bancos comercias, limitava o crescimento da incipiente rede bancária privada nacional.
É necessária a retomada da análise da Caixa de Conversão, no tocante a seus impactos sobre a expansão monetária e a flutuação geral de preços, no intuito de uma melhor compreensão dos reflexos do padrão-ouro sobre a economia nacional.
De modo geral, durante o estabelecimento do padrão-ouro, estruturado sobre os mecanismos da Caixa de Conversão, ocorreu uma grande expansão monetária em relação ao período anterior (a exceção se faz nos anos de 1908, 1913 e 1914). Os meios de pagamento, apesar de não seguirem um padrão de crescimento constante, apresentaram variações sempre positivas.
Os principais motivos para essa capacidade expansionista foram os constantes saldos positivos da balança comercial e as vultosas somas de recursos estrangeiros que entraram neste período. Deste modo, como as reservas que lastreavam a emissão da Caixa mantiveram sempre uma tendência de influxo, pôde-se aumentar a oferta monetária durante a maior parte de sua existência.
A curva de expansão de preços estava relacionada, até 1912, de certa forma, com a variação expansionista dos meios de pagamento. A partir de então, nota-se forte contração monetária com natural reflexo sobre o comportamento da inflação.
Faz-se importante a análise da condução da política fiscal (durante o período de conversibilidade) e suas consequências sobre a economia. O Governo de Afonso Pena (15/11/1906 a 14/06/1909) mescla políticas fiscais contracionistas e expansionistas. Esta última, instalada nos dois últimos anos de seu governo, foi continuada por seu sucessor, o Presidente Hermes da Fonseca.
A partir de 1908, os consecutivos déficits orçamentários foram financiados por divisas externas e pelo aporte de recursos bancários.
Várias obras identificam no déficit crônico do governo a razão do início do colapso financeiro interno. O deslanche da crise econômica doméstica, iniciada em 1913, associado ao revés ocorrido na economia mundial com o princípio da Primeira Guerra, culminou no fechamento da Caixa de Conversão em 1914.
Os bancos comerciais passaram a ser atores de destaque para o desencadeamento da crise econômica interna. Em fins de 1912, houve uma súbita retração do crédito. Este comportamento tinha origem no financiamento dos gastos excessivos do governo.

Bibliografia:Chavantes   Ana Paula – A Consolidação do Setor Bancário em São Paulo na Década de 20 – fev 2004


domingo, 20 de julho de 2014

Queda de braço entre metalistas e expansionistas

Antes de apreciarmos os reflexos do padrão-ouro na economia, e, em particular nos bancos comerciais, faz-se necessário registrar que durante o planejamento dos aspectos operacionais da Caixa ocorreram duros embates entre os próprios metalistas. Denominados por NEUHAUS como metalistas ortodoxos e expansionistas, estes dois grupos tinham opiniões divergentes sobre o valor da paridade cambial a ser estabelecido para o funcionamento da Caixa de Conversão.
Os adeptos do metalismo partiam de um único paradigma: a conversibilidade da moeda a uma taxa de câmbio fixa. Porém, os partidários da ortodoxia (representados pelo ex-Ministro da Fazenda, Leopoldo Bulhões) entendiam que para a instalação do padrão-ouro haveria a necessidade da continuação da política deflacionista iniciada por Murtinho, até que a taxa cambial alcançasse o patamar de 27 pence por mil-réis (nivelando-a ao ano de 1846). Tal grupo argumentava que se a Caixa de Conversão adotasse a taxa de câmbio corrente de mercado (16 pence por mil-réis, em sua opinião ainda muito desvalorizada), haveria o risco de uma expansão monetária descontrolada, e conseqüentemente, uma desestabilização cambial.
Por outro lado, os expansionistas liderados pelo novo ocupante da pasta da Fazenda, David Campista (15/11/1906-14/06/1909) (nomeado pelo recém empossado Presidente da República, Afonso Pena), acreditavam que a taxa de câmbio pleiteada pelos ortodoxos seria impraticável e defendiam o estabelecimento do padrão-ouro com a paridade de 15 pence por mil-réis. Acreditavam, os expansionistas, que o aumento do meio circulante seria gradual e não desestabilizaria as variáveis macroeconômicas em questão.
Na queda de braço entre ortodoxos e expansionistas, os últimos conseguiram impor a conversibilidade dentro do nível cambial por eles preconizado, pois receberam o apoio da maior parte dos segmentos produtivos do país, que, por sua vez, estava sendo sufocada pelo arrocho monetário promovido por sucessivos governos desde 1898. O fato foi que, com a implantação da Caixa, houve, num primeiro momento, uma expansão do meio circulante, acompanhada, de modo geral, por um aumento no nível de preços, porém, com a manutenção de um equilíbrio cambial até 1913.
No tocante aos grandes ganhos dos bancos estrangeiros instalados no país, que tinham grande mobilidade entre o mercado europeu e brasileiro, pode-se inferir que, ao assumirem a função de underwritters em larga escala, estes agentes passaram a ampliar consideravelmente sua margem de lucro. A melhoria das condições em que trabalhavam só foi possível após o estabelecimento de uma taxa de câmbio fixada pela Caixa de Conversão. Numa economia, onde a taxa cambial oscilava abruptamente, era impossível que os bancos no Brasil pudessem alavancar recursos na Europa para atender à demanda de seus clientes. É que não havia garantia de que o retorno do dinheiro se fizesse à mesma taxa cambial.
Em relação aos grandes lucros auferidos pelo Banco do Brasil sob a égide do padrão ouro, devesse relatar as palavras do Boletim da Associação Comercial do Rio de Janeiro em 21 de maio de 1908, como parte ilustrativa dos acontecimentos no sistema bancário: “A organização dada ao Banco do Brasil obedecia a uma orientação peculiar e certamente muito diversa da que está sendo executada”. Qual a verdadeira causa não é difícil de descobrir. Isto é devido à criação recente da Caixa de Conversão, de
que não cogitava o governo passado quando planejou a reforma do Banco do Brasil (em 1905). Ora, o que daí decorre é um inconveniente sério, que não podemos deixar de insistir. O Banco do Brasil em suas operações entra em concorrência com outros bancos particulares que operam em depósitos e descontos levando, aliás, sobre eles, enorme vantagem. “Sua clientela será forçosamente muito maior em virtude da presunção de que o Governo responde por todo o capital do mesmo banco e não somente pela parte que ali tem empregada como acionista comum”.


Bibliografia:Chavantes   Ana Paula – A Consolidação do Setor Bancário em São Paulo na Década de 20 – fev 2004