quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

O Hotel Excelsior sob a ótica da arquitetura

A fachada do edifício do Hotel Excelsior enfatiza a volumetria adotada. O bloco inferior é marcado pelo uso de grandes pilares e de uma marquise que convidavam o público a entrar e usufruir tanto do cinema, como o hotel. No bloco horizontal foram utilizados grandes painéis envidraçados, pequenas sacadas e muitos elementos vazados. Estes elementos evidenciavam que as áreas comuns do hotel deveriam ter uma relação mais próxima com a cidade, emoldurando a linda vista da cidade e da Praça da República.
No bloco superior, predominantemente vertical, o ritmo contínuo das janelas se refere aos apartamentos do hotel.
Hotel Excelsior - Av Ipiranga - SP
O cinema foi o principal atrativo urbano deste projeto. Unir dois programas distintos era o desafio que norteava os arquitetos nos anos 40 e 50.
O Hotel Excelsior já passou por algumas pequenas reformas. A última em 2005, não desfigurou o conjunto arquitetônico e fez pequenas adequações ao uso atual do hotel. Foram adaptados dois apartamentos para deficientes físicos e as antigas copas deram lugar a suítes para uso dos motoristas das excursões que frequentam o hotel. Os apartamentos, segundo sua administração, mantêm vários elementos de época: as luminárias, os mármores dos banheiros; e os moveis que somente receberam um tratamento de patina e mantêm a linguagem da época.
Infelizmente, o Cine Ipiranga não apresenta o mesmo grau de conservação do hotel. As instalações beiram o abandono e não se verifica nenhuma intenção de preservação deste importante patrimônio.
As colunas de mármore receberam uma grossa camada de tinta e os móveis do lobby e da plateia estão em péssimo estado. Hoje há duas salas de projeção: uma para 1.200 lugares e outra para 300 lugares. A intenção dos administradores do hotel é transformar o cinema em Centro de Convenções. Porém, o locatário do cinema não compartilha da mesma opinião.
O arquiteto idealizador do Hotel Excelsior foi Rino Levi. Filho de imigrantes italianos, nasceu em 1901, em São Paulo.
Formou-se arquiteto na Itália e regressou ao Brasil em 1926 tendo marcado decisivamente a arquitetura paulistana pelo teor técnico de suas construções. Seus edifícios foram notados pelos detalhes construtivos, pelos esquemas funcionais e gráficos de circulação.
O projeto do Hotel Excelsior e do Cine Ipiranga é marcante pelo arrojo no uso correto, de materiais modernos e de técnicas construtivas, sobretudo na acústica do cinema.


Bibliografia: Monteiro – Ana Carla de Castro Alves – Os hotéis da Metrópole- O contexto histórico e urbano da cidade de São Paulo através da produção arquitetônica hoteleira (1940 – 1960)

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Hotéis de uso misto na cidade de São Paulo

Vamos analisar exemplares de hotéis que surgiram na cidade de São Paulo no período de 1940 a 1960. Em 1941, o projeto do arquiteto Rino Levi para o Hotel Excelsior e Cine Ipiranga, um dos primeiros hotéis de uso misto da cidade é, também, um importante projeto a romper a barreira dos 20 andares, e que tornou-se marca e referência de uma geração.
O final da nossa pesquisa ficou com outro marco da hotelaria paulistana que é o Hilton Hotel. Mesmo fora do período delimitado deste estudo, o Hilton foi o primeiro hotel de uma rede internacional a se instalar em São Paulo, foi também um dos últimos hotéis modernos a ser construído na região central da cidade. Na década de 70, o eixo econômico e financeiro já se deslocara para a Avenida Paulista e os novos hotéis para suas ruas paralelas.
Nossas fichas apresentam uma sistematização de dados obtidos relativo aos dezenove hotéis selecionados. Nossa seleção se deu através de pesquisa nas principais revistas especializadas e outras fontes primárias do período.
Acreditamos na importância de criar um único parâmetro de análise para possibilitar dados de comparação entre os exemplares selecionados.
Outro aspecto estudado foram os atrativos urbanos de cada projeto o que o destacava na cidade e que muitos foram inovadores na arquitetura paulistana. Por exemplo, foi feita uma apresentação do atual estado de conservação do edifício e análises feita a partir de nossas visitas.
Hotel Excelsior localizado na Av: Ipiranga, 770. Seu arquiteto foi Rino Levi inaugurado em 4 de agosto de 1941.
Hotel Excelsior - SP
O Edifício deste hotel tem volumetria sólida teve no início dos anos 40, um grande desafio para a época agregar um cinema de grande porte e um hotel de tamanho nunca visto na cidade. O edifício tinha dosi grandes volumes bem definidos. No bloco horizontal localizavam-se os acessos distintos ao cinema e ao hotel, a sala do cinema e as dependências do hotel destinadas ao público em geral restaurantes e salas de convenções. O hotel localizava-se no bloco vertical.
O hotel, possui 183 apartamentos, 10 suítes e 2 apartamentos para deficientes físicos. Além disso, há seis salões de convenções totalizando 800 lugares. O mais glamouroso dos salões tem o nome do seu arquiteto e foi anteriormente, um dos restaurantes do hotel. No antigo restaurante, onde uma pequena concha acústica ainda é mantida, as refeições eram feitas ao som de uma orquestra. De acordo com a sua atual administradora, o Excelsior foi o primeiro hotel de São Paulo a ter um bufê com mais de 50 opções.

Bibliografia: Monteiro – Ana Carla de Castro Alves – Os hotéis da Metrópole- O contexto histórico e urbano da cidade de São Paulo através da produção arquitetônica hoteleira (1940 – 1960)


quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Uso de obras artísticas na parte pública dos hotéis.

A atividade artística era crescente na cidade desde os anos 20 e a ausência de espaços específicos ocasionava uma grande improvisação de locais destinados à exposição dos grandes artistas. Novos espaços de exposição surgem, outros são improvisados em hotéis, livrarias, casas comerciais e até cinemas junto à área do triângulo central da cidade.
No final dos anos 40, com a criação dos Museus de Arte, o MASP foi inaugurado em 1947, à cidade assumiu sua veia artística e incorporou grandes obras de arte e seus novos edifícios.
A presença de escultores e pintores convidados a compor os novos projetos era marcante. A síntese das artes estava presente na produção hoteleira paulistana.
Hilton Hotel Av: Ipiranga - SP
A arquitetura, como arte-mãe agregava as demais formas artísticas do período. Destacavam-se neste aspecto os hotéis Comodoro e Jaraguá, ambos com importantes painéis de Potinari e Di Cavalcante, respectivamente.
Fato relevante foi o crescimento da indústria de móveis e equipamentos específicos. A fabricação de móveis deixava a escala artesanal ou a importação e ganhava a escala industrial nacional. À medida que os novos edifícios pontuavam no cenário paulistano, a indústria de móveis e decoração ganhava espaço na mídia e era valorizada pela sociedade. Era a valorização das artes decorativas, um importante fator que ocorreu no início do século na Europa e que neste período ganhou raízes na indústria paulistana.
Os hotéis estavam ligados ao processo de crescimento econômico e à expansão urbana da cidade e instalavam-se junto aos principais espaços e intervenções que ocorreram em meados do século XX.
Nesta fase, a maioria dos hotéis estava concentrada em duas áreas da cidade.
A primeira área, localizada no eixo Luz-República, era muito valorizada na cidade, sobretudo após a remodelação da Avenida Ipiranga tornando-se um grande boulevard. A segunda área, recém-inaugurada era a região da Praça da Bandeira – Av Nove de Julho, uma das mais importante ligações Norte-Sul da cidade.
Havia uma crescente exploração do lote urbano e da sua relação com as principais vias de acesso que surgiam na metrópole. O principal exemplo desta relação era o caso dos projetos de esquina. O lote urbano teve grande influência na configuração dos edifícios. De maneira audaciosa, muitos deles refletiram no partido arquitetônico adotado por suas edificações. Os hotéis São Paulo, Terminus, Inca, Brasilar, Esplendor, Othon, Jaraguá e Hilton ilustram esta relação do edifício com a cidade.


Bibliografia: Monteiro – Ana Carla de Castro Alves – Os hotéis da Metrópole- O contexto histórico e urbano da cidade de São Paulo através da produção arquitetônica hoteleira (1940 – 1960)

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Arquitetura moderna e industrialização na Metrópole

A adoção da arquitetura moderna e a industrialização possibilitaram a produção de elementos em grande escala, maior agilidade e menor tempo de obra, para uma cidade que buscava um crescimento rápido e lutava contra o tempo curto estas foram as respostas necessárias para sua escolha. Deste modo, a evolução dos novos hotéis que surgiram na cidade não demorou a mostrar novidades e, sobretudo, grandes inovações.
Conjunto Nacional - Av Paulista - SP
Sobre a volumetria dos hotéis, a maioria dos novos hotéis nos anos 40 e 50 romperam o gabarito dos 10 andares e utilizaram-se de fachadas despojadas e limpas de ornamentos.
Sobre as novas fachadas, como vários projetos produzidos naquele período, a lógica de volumes sobrepostos foi reforçada, exemplos diversos surgiram na cidade: o Conjunto Nacional, o Edifício Nações Unidas e o Banco Sul Americano eram exemplos de belas edificações na cidade. Não se tratavam mais os edifícios isolados na cidade, porém volumes integrados entre si e ao ambiente urbano.
A mudança das características estéticas dos hotéis tem, a nosso ver, dois momentos distintos na cidade de São Paulo. O primeiro, visível na menor parte dos projetos evidenciava edifícios de porte menor, menor gabarito e menor arrojo no programa e na estética de suas fachadas.
A segunda fase foi mais audaciosa. Os novos edifícios romperam as alturas dos demais e muitos se destacaram no skyline da cidade e muitos representaram um momento de arrojo tanto construtivo como estético.
Sobre o programa, este foi incrementado com a adoção de usos mistos e a adoção de novas tecnologias construtivas, o que possibilitava o melhor aproveitamento dos andares térreo e tipo, com soluções de plantas mais racionais e maior aproveitamento do espaço.
A relação público-privado foi expressa nas soluções dos novos projetos. O tratamento dado aos acessos principais e, em especial, ao pavimento térreo recebeu atenção dos arquitetos da época. Havia na fachada e nas plantas da maioria dos projetos analisados, duas grandes divisões a primeira um claro embasamento que reforçava uma área comum do projeto. Este elemento relacionava-se com a escala e o nível do pedestre. Era, em geral, onde estavam localizados os cinemas, lojas, restaurantes, e bares, e em muitos casos, o acesso do automóvel. Era como se o edifício convidasse a sociedade a conhecê-lo. Os primeiros andares eram permeáveis ao pedestre.


Bibliografia: Monteiro – Ana Carla de Castro Alves – Os hotéis da Metrópole- O contexto histórico e urbano da cidade de São Paulo através da produção arquitetônica hoteleira (1940 – 1960)

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Hotéis e seu tempo de investimento

Em São Paulo, a produção arquitetônica hoteleira era diferente da produção realizada no Rio de Janeiro e em outras capitais brasileiras. A influência da cultura e da cultura e da produção americana foi um dos fatores cruciais para a compreensão dos exemplares que iremos apresentar.
Hotel Boutique - Jardins - São Paulo
Como vimos os edifícios que surgiram na cidade apresentaram grandes semelhanças com os edifícios construídos nas grandes cidades americanas, principalmente Nova Iorque e Chicago. Em meados dos anos 50 o esforço de retomada do setor hoteleiro chegou redobrado à cidade de São Paulo em virtude da comemoração do IV Centenário.
Havia uma grande necessidade de novos hotéis na cidade e, para isto, a prefeitura aumentou os incentivos para a construção e inauguração dos mesmos. O principal incentivo foi a Lei nº 4281, de 3 de setembro de 1952, “Lei de incentivo à instalação hoteleira lançada pela comissão do IV Centenário, que percebe o déficit do setor prevendo a recepção de um número generoso de turistas por ocasião dos festejos.”
A lei dispõe sobre a isenção de impostos, até 1962, para os hotéis em construção ou que estivessem concluídos até 25 de janeiro de 1954. Era de grande importância que estes estivessem prontos para as comemorações do IV Centenário. A lei ainda previa algumas mudanças nos programas adotados até então. As mudanças visavam maior privacidade, conforto e sociabilidade com espaços comuns. Estes novos hotéis deveriam ter: quartos com sala de banho privativa na quantidade mínima de 50; vestíbulo; sala de espera; refeitório; sala de leitura;
Além disso, bar e salão de festas compatíveis com a natureza e dimensões do hotel.
Desta forma, a hotelaria e a construção dos novos hotéis foram modificados de modo a aumentar os lucros e a valorizar a indústria hoteleira crescente na cidade. O planejamento adequado garatia um retorno seguro aos investimentos iniciais e à crescente demanda da metrópole.
A industrialização crescente da cidade possibilitava conquistas valiosas na busca de maiores lucros nos projetos hoteleiros. O uso de elevadores, concreto armado, elementos pré-moldados, caixilhos pré-fabricados em grande escala, possibilitavam uma elevação de gabarito dos edifícios, consequentemente um melhor aproveitamento do lote e, sobretudo, uma redução do tempo de obra. Alguns destes itens eram reforçados pela propaganda da época como caráter de modernidade do projeto e do edifício.


Bibliografia: Monteiro – Ana Carla de Castro Alves – Os hotéis da Metrópole- O contexto histórico e urbano da cidade de São Paulo através da produção arquitetônica hoteleira (1940 – 1960)

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Os hotéis na década de 50.

A demanda pela produção hoteleira mostrou-se nos anos 50, uma temática que rompeu as pranchetas dos grandes arquitetos e encontrou nas pranchetas das Faculdades de Arquitetura um repertório vasto para o uso de novas técnicas e posturas estéticas.
Em 1951, Oscar Niemeyer realizou o projeto de um hotel em Diamantina, um exemplar arrojado da arquitetura moderna onde o uso de pilotis em forma de “V” representou uma inovação estrutural como também na concepção das fachadas. Ainda em 1951, Henrique Mindlin apresentou na Revista de Arquitetura e Engenharia o projeto de um hotel de luxo na Praia Vermelha, no Rio de Janeiro. A solução laminar adotada neste projeto seria novamente utilizada pelo arquiteto em projeto da mesma época para o Hotel Copan em São Paulo, projeto não realizado.
Edifício Copan no projeto original seria um Hotel
Em 1951, a bienal de São Paulo apresentou o projeto de um hotel para viajantes de Roberto Pinto Monteiro, aluno do 4º ano de arquitetura da Universidade de São Paulo. O Hotel em São José dos Campos com 80 quartos e instalações sanitárias exclusivas.
A revista Habitat, número 21, de 1955 apresentou um artigo sobre o projeto de um hotel elaborado pelos alunos da Faculdade de Arquitetura Mackenzie. O tema e o programa propostos pelo arquiteto Christiano Stocker das Neves evidenciaram uma grande preocupação com os novos temas da época: o automóvel, a tecnologia e os edifícios de grande porte.
Estes projetos, aliados aos que despontavam na cidade de São Paulo mostravam uma mudança na maneira de projetar e construir os novos hotéis das grandes cidades. Evidenciaram uma mudança de comportamentos e posturas sociais. O uso de programas mistos, preocupações urbanas e a escala urbana dos projetos evidenciam esta mudança.
Em São Paulo, a produção arquitetônica hoteleira era deferente da produção realizada no Rio de Janeiro e em outras capitais brasileiras. A influência da cultura e da produção americana foi um dos fatores cruciais para a compreensão dos exemplares que iremos apresentar.
Como vimos os edifícios que surgiram na cidade apresentaram grandes semelhanças com os edifícios construídos nas grandes cidades americanas, principalmente Nova Iorque e Chicago. Em meados dos anos 50 o esforço de retomada do setor hoteleiro chegou redobrado à cidade de São Paulo em virtude da comemoração dos IV Centenário.


Bibliografia: Monteiro – Ana Carla de Castro Alves – Os hotéis da Metrópole- O contexto histórico e urbano da cidade de São Paulo através da produção arquitetônica hoteleira (1940 – 1960)

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Grandes hotéis e a arquitetura moderna brasileira da década de 40.

Importantes arquitetos contribuíram para a solução dos hotéis nas grandes cidades brasileiras. O que segue é um pequeno recorte que esclarece alguns aspectos deste percurso. O encontro da arquitetura moderna com a produção hoteleira foi um encontro tímido e no início muito restrito. Poucos eram os projetos de hotéis e poucos eram os arquitetos que se dedicavam aos projetos hoteleiros. No entanto, a partir dos anos 40, com o crescimento das cidades e a necessidade de modernização do setor, esta relação mudou e os projetos começaram a aparecer no cenário brasileiro sendo divulgados através de concursos e artigos das principais revistas da época.
Hotel Quitandia - Petrópolis -RJ
Em 1940, Oscar Niemeyer fez o projeto do Grande Hotel de Ouro Preto. Conforme descrição de Bruand: “tratava-se de construir, no centro da capital da antiga capitania de Minas Gerais, um edifício moderno, que correspondesse às necessidades do turismo”... Niemeyer mantinha a ideia de uma edificação francamente moderna não só pela técnica, como também pelos aspectos internos e externos...
Em 1944 foi a vez de Lúcio Costa apresentar o belíssimo Hotel do Parque São Clemente, em Nova Friburgo. O projeto como descreve novamente Bruand é: “uma obra marcante uma magnífica demonstração das possibilidades de uma arquitetura contemporânea livre de todo complexo ou preconceito em relação ao passado... o hotel Parque de São Clemente é integralmente moderno tanto no espírito quanto no tratamento”...
No mesmo ano, os irmãos Roberto apresentaram o projeto para a Colônia de Férias na Tijuca.
Do ponto de vista econômico, a década de 40 foi um momento de grande desenvolvimento da hotelaria brasileira. Naquela época foram construídos grandes hotéis/cassino como o Parque Balneário, em Santos, o Grande Hotel de Poços de Caldas, o Grande Hotel São Pedro, e o Quitandinha, em Petrópólis. Com a proibição do jogo em 1946, a hotelaria voltou a atender exclusivamente o setor de negócios e teve um crescimento pouco significativo até meados da década de 50.
A demanda pela produção hoteleira mostrou-se, nos anos 50, uma temática que rompeu as pranchetas dos grandes arquitetos e encontrou nas pranchetas das Faculdades de Arquitetura um repertório vasto para o uso de novas técnicas e posturas estéticas.
Em 1951, Oscar Niemayer realizou o projeto de um Hotel em Diamantina, um exemplar arrojado da arquitetura moderna onde o uso de pilotis em forma de “V” representou uma inovação estrutural como também na concepção das fachadas. Ainda em 1951, Henrique Mindlin apresentou na Revista Arquitetura e Engenharia o projeto de um hotel de luxo na Praia Vermelha, no Rio de Janeiro. A solução laminar adotada neste projeto seria novamente utilizada  pelo arquiteto em projeto da mesma época para o Hotel Copan em São Paulo, projeto não realizado.

Bibliografia: Monteiro – Ana Carla de Castro Alves – Os hotéis da Metrópole- O contexto histórico e urbano da cidade de São Paulo através da produção arquitetônica hoteleira (1940 – 1960)

terça-feira, 29 de outubro de 2013

Plano ao Fomento de Turismo do Estado de São Paulo

Havia, nos projetos hoteleiros, a procura pela valorização do especo urbano com acessos menos restritos modificando-se os espaços fechados e ampliando-se os espaços internos, integrando novas funções aos edifícios da cidade. A preocupação dos arquitetos recaía na influência que a forma do espaço criado podia ter na qualidade das interações humanas.
Os novos hotéis visavam à valorização das relações entre as pessoas e a cidade. Havia na cidade um frenético glamour social e cultural que deveria ser explorado.
As varias funções incorporadas em um mesmo edifício foram trabalhadas como o grande desafio da nova arquitetura.
Hotel Excelsior- Av Ipiranga -São Paulo
Aliado a nova arquitetura estava o grande desafio da cidade no período: a verticalização e o adensamento da região central. No livro de Rino Levi Arquitetura e Cidade a descrição do projeto do Hotel Excelsior sintetiza perfeitamente esta questão. “Para melhorar o prestígio da recém alarga Avenida Ipiranga, o projeto acomoda as demandas de programa do cliente às dimensões exíguas do lote, o que resultou numa alta concentração de área construída”.
O Hotel Metropolitano termo adotado pela revista Acrópole, em 1943 no artigo intitulado “Particularidades na construção de hotéis modernos”, teria de harmonizar-se com a vizinhança urbana, devendo se exprimir num corpo linearmente simples. A beleza estética da construção resultaria infalivelmente da coordenação do aspecto exterior com as necessidades internas.
O artigo evidencia o desejo de modernizar a cidade, abandonando o seu antigo aspecto provinciano. A intensa verticalização como enfatiza Anelli era direcionada à construção da cidade modernizada difundida pelo cinema com as imagens de Nova Iorque, Chicago e outros grandes centros urbanos.
São Paulo, a cidade que mais crescia na América Latina, não poderia ficar para trás.
Porém, acreditamos que para melhor compreendermos a importância dos hotéis em São Paulo julgamos relevante analisarmos, primeiramente, alguns aspectos desta tipologia arquitetônica nos anos 40 e 50 nas demais cidades brasileiras. Para isto, vamos procurar entender como este tema se desenvolveu e também analisar o aumento significativo do número de hotéis no período.

Bibliografia: Monteiro – Ana Carla de Castro Alves – Os hotéis da Metrópole- O contexto histórico e urbano da cidade de São Paulo através da produção arquitetônica hoteleira (1940 – 1960)

terça-feira, 22 de outubro de 2013

As alterações no setor hoteleiro de São Paulo

Diferente do Rio de Janeiro, São Paulo não dispunha de atrativos turísticos capazes de assegurar o crescimento do setor hoteleiro. Era necessário então, criá-los. Os hotéis na cidade eram poucos e muitos não comportavam as novas demandas.
Antigo Hotel Jaraguá, Hoje Novotel
A metrópole modernizada em que se transformava São Paulo precisava ir além das indústrias e das melhorias urbanas. Era necessário que os outros setores, como o comércio e demais segmentos do setor terciário se expandissem. Cresceram as redes de ensino, os cursos profissionalizantes os serviços pessoais, emergindo estabelecimentos de luxo como hotéis, restaurantes, bares, salões de beleza, clubes, saunas e outros mias.
Impulsionada pelo grande potencial de desenvolvimento econômico e produtivo da cidade e aproveitando-se dos festejos do IV Centenário, a prefeitura incentivava iniciativas capazes de contribuir com a configuração de uma fisionomia metropolitana.
Além disso, a Comissão do IV Centenário fez um levantamento dos equipamentos disponíveis na cidade, para suprir as necessidades dos festejos. Foi verificada a ausência de um número suficiente de hotéis, equipamentos esportivos além de um local propício para acomodar o centro das comemorações.
Em 1944, a revista Acrópole apresentou um Plano de Fomento ao Turismo no Estado de São Paulo. Elaborado pela Divisão de Turismo e Diversões Públicas do Departamento Estadual de Imprensa e Propaganda o plano visou a melhoria deste potencial e seu melhor aproveitamento.
O plano enfatizava um maciço investimento em Propaganda do Turismo, e, sobretudo, na valorização do potencial econômico-cultural procurando criar novos atrativos para fomentar o setor hoteleiro. Os projetos propostos pelo Plano de Fomento estavam intimamente ligados às atividades culturais e às principais atrações da cidade. O Plano destinava-se a construção dos seguintes estabelecimentos: Grande Hotel das Monções e Teatro Leopoldo Fróes (localizado na Praça da República); Hotel das Bandeiras e Parque do Ibirapuera (no Parque do Ibirapuera); Hotel Anhanguera e Teatro Apolônia Pinto; Hotel Jaraguá e Teatro Ismênia Santos; Hotel Porto Feliz e Teatro Vasquez (no bairro da Luz) entre outros.
O Plano evidenciou a preocupação com novas demandas da cidade e do setor hoteleiro. Podemos observar a intenção clara de modernizar e de propor os hotéis relacionados a atividades de lazer e recreação, como parques urbanos e principalmente ligados ao teatro como elemento cultural proeminente naquele momento.


Bibliografia: Monteiro – Ana Carla de Castro Alves – Os hotéis da Metrópole- O contexto histórico e urbano da cidade de São Paulo através da produção arquitetônica hoteleira (1940 – 1960)

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

O IV Centenário da Cidade de São Paulo

No início da década de 50 a cidade de São Paulo se deparou com um grande desafio : às comemorações do IV Centenário de São Paulo.
Edifício Copan - Obra de Niemeyer
Fruto de um complexo projeto que envolveu setores da sociedade, a comissão organizadora dos festejos era composta por membros representativos da força econômica e por representantes da classe intelectual como jornalistas, escritores e professores universitários.
A cidade se preparava para comemorar seu IV Centenário e deveria se consolidar como a “locomotiva da Nação”, termo frequente nas divulgações do período. A festa projetava-se como louvação e afirmação dos significados almejados por São Paulo diante do país. Havia claramente a procura a cada esquina, de um registro de uma metrópole que não parava de crescer, registro de uma cidade em franca modernização. As constantes obras, os novos edifícios e, enfaticamente, os novos projetos hoteleiros confirmavam o crescimento exagerado da cidade.
Para compreensão deste momento podemos utilizar o exemplo do edifício do Hotel Marian, que foi construído em apenas nove meses, como nos relatou seu atual administrador. Um marco para a sua época. Neste período a indústria e o comércio eram os poderios econômicos da cidade e não poderiam ficar dissociados dos eventos comemorativos.
Os hotéis inaugurados evidenciavam claramente esta preocupação. Para Lofego, o setor privado era aquele que procurava se filiar à ideia de modernização e progresso da cidade, mostrando as edificações modernas ou produtos de última geração, representação de novos tempos.
O IV Centenário trouxe uma história de superação e avanço tecnológico disponível aos paulistanos.
Vale a pena lembrar que a construção do Parque do Ibirapuera foi à demonstração da nova identidade a ser seguida. O projeto do Parque indicava o futuro promissor que encantava a todos. Os edifícios projetados por Niemeyer vestiram a cidade com obras modernistas de profunda singularidade, perspectiva esta que deveria se expandir aos demais edifícios projetados na cidade naquele período.
“A missão civilizadora presente voltada para o futuro, para a aspirada metrópole dos arquitetos modernistas, e de toda a sociedade paulistana,... implantou-se em São Paulo de forma reveladora”. Arruda

 Bibliografia: Monteiro – Ana Carla de Castro Alves – Os hotéis da Metrópole- O contexto histórico e urbano da cidade de São Paulo através da produção arquitetônica hoteleira (1940 – 1960)


segunda-feira, 7 de outubro de 2013

A moderna sociedade Paulistana

A cidade de São Paulo, no pós guerra, década de 40, revelou-se um solo favorável onde diferentes correntes migratórias encontravam condições  para expansão e ocupação do espaço urbano. O ano de 1945 é um momento terminal do primeiro modernismo. “Trata-se da cultura no pós-guerra toma como referência o ano de 1945, considerado como o momento terminal do pós primeiro modernismo, muito embora rupturas e até redirecionamentos de perspectivas viessem se impondo desde os anos vinte e, fortemente nos trinta”.
O papel das Bienais e dos novos Museus que surgiram na cidade teve caráter decisivo para a promoção das novas linguagens.
Vale do Anhangabaú 1940
Os primeiros grandes investidores da arquitetura hoteleira eram os ricos imigrantes que observavam na emergente indústria, no crescimento da produção imobiliária, crescente demanda na falta de oferta do setor hoteleiro e, sobretudo, nos incentivos fiscais da prefeitura, um fomento para a construção de novos hotéis na cidade.
Imigrantes como Buchard, Crespi e Maluf viram, na indústria hoteleira dos anos 40, um lacuna que deveria ser preenchida em breve, sobretudo devido às comemorações do IV centenário.
Os imigrantes também foram responsáveis pela propagação da arquitetura moderna nos novos projetos. Muitos destes investidores eram grandes entusiastas do estilo qu despontava na Europa desde o início do século e que era fortemente vinculado a um movimento de ruptura com o passado agrário.
“Além da experiência empresarial, a cultura cosmopolita dessa imigração introduz um número de artistas e professores de arte e música... a linguagem moderna fazia parte do universo cultural desses empreendedores.”
O Movimento Moderno em Arquitetura que levava em conta a presença das “massas” urbanas defende, nos anos quarenta, a criação de um novo “modo de vida”.
Os tempos eram novos e arquitetura também deveria ser.


Bibliografia: Monteiro – Ana Carla de Castro Alves – Os hotéis da Metrópole- O contexto histórico e urbano da cidade de São Paulo através da produção arquitetônica hoteleira (1940 – 1960)

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

“São Paulo não para em uma fotografia, move-se num filme”.

A modernização gerada pela industrialização e pelos avanços tecnológicos germinou na cidade, como afirma Maria Arminda, um verdadeiro rompimento com o passado.
A arquitetura moderna será um importante elo entre a revolução industrial e a ruptura com o passado. Novas técnicas, novos materiais enfatizaram na cidade a ruptura tão desejada. O valor ético da nova arquitetura supera seu valor estético.
A afirmação do progresso estava fortemente vinculada a uma separação severa com o passado e a uma visão soberana do futuro.
Painel de Di Cavalcanti no Hotel Jaraguá
No imaginário da época o passado real foi destruído e ao mesmo tempo, outro, heroico, simbólico, ainda que simulacro do que existiu, foi construído.
A História passa a ser a segurança necessária para as novas gerações. Por isso foi necessário recriá-la. O controle sobre o passado era fundamental. Naquele período a figura heroica dos Bandeirantes foi enaltecida na cidade. A ruptura com o passado ocasionou a substituição das antigas classes dominantes e uma grande mobilidade de classes. A presença do operariado se fez notar na metrópole.
A cultura, conforme descreve Arminda Arruda, desfrutou desta ruptura. Ocorria na cidade a substituição dos antigos mecenas. Lofego admite que as atividades da cultura no ideário dos anos 40/50 tinham o propósito de produzir uma intensa vibração cívica, uma unidade que até então não existia na cidade. Eram presentes na cidade painéis e obras que expressavam as mudanças sociais ocorridas e a valorização do passado heroico do paulista. A arquitetura hoteleira com a presença dos painéis de Di Cavalcanti, que definia a obra de arte como sendo uma síntese, no Hotel Jaraguá e Portinari no Hotel Comodoro eram um importante meio para a propagação desta nova fase cultural e social da cidade.
A sociedade paulistana passou a exigir projetos que respondessem aos novos anseios dos anos 50. O automóvel, o tempo, a máquina, o lazer se tornaram temáticas importantes e deveria ser respondidos em um só edifício. As tipologias edificadas pelos arquitetos modernos eram o anseio desta sociedade. Segundo Fernando Viegas, arquiteto idealizador do Conjunto Nacional, o arquiteto atuava com grande responsabilidade inédita no uso de técnicas para a construção de espaços para o convívio social. Tinha o respaldo de uma sociedade que acreditava na arquitetura como uma atividade de interesse público como manifestação cultural.
Segundo artigo da Revista Acrópole, a zona central da cidade encontrava-se em “plena fase de remodelação, conta com numerosos edifícios altos, de arquitetura moderna que caracterizam a metrópole progressista que é São Paulo”.


Bibliografia: Monteiro – Ana Carla de Castro Alves – Os hotéis da Metrópole- O contexto histórico e urbano da cidade de São Paulo através da produção arquitetônica hoteleira (1940 – 1960)

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

São Paulo se americaniza rapidamente nos anos 40 e 50.

A especulação imobiliária gerou o uso intensivo do solo e a proliferação dos grandes edifícios na cidade. Foi o momento em que os aranha-céus se espalharam na malha urbana. Neste momento nos deparamos com o imaginário americano assimilado pelos ideais que norteavam o crescimento da cidade e a relação construtiva com a ideia de progresso avanço e superação.

A metrópole adquiriu um caráter de transitoriedade muito elevado, evidenciando em uma sociedade sem raízes massificada e sem memória. A falta de raízes da sociedade cafeeira perante o surgimento de uma metrópole complexa do dia para a noite lançou, a necessidade da assimilação de fragmentos das organizações metropolitanas europeias e, sobretudo com o final da II Guerra.
A imagem americana de supremacia industrial e soberania mundial surgiram na cidade de São Paulo como importante referência a ser seguida. A imagem dos aranha-céus das cidades americanas foi difundida e assimilada na cidade em transformação.
Um dos primeiros edifícios a superar a marca dos vinte andares depois do Martinelli, foi o Hotel Excelsior. O edifício marcou o skyline da Avenida Ipiranga. Para a hotelaria paulistana surgiu como um projeto inovador pelo uso de novos materiais pelo programa misto arrojado e, sobretudo, pela nova relação de um edifício com a cidade.
A semelhança de São Paulo com as cidades americanas era visível São Paulo era semelhante a Chicago e a outras cidades americanas era visível naquele momento, os edifícios e o planejamento urbano tinham grande similaridade à produção americana. O código de Obras Arthur Saboya foi claramente ionfluenciado pelo Bulding Code de Nova York.
O crescimento de São Paulo lembra “Chicago sul-americana” onde ruas estreitas, edifícios altos, centro congestionado, capital do progresso, metrópole moderna eram as novas imagens assimiladas pela sociedade paulistana.
Nos anos 40 as semelhanças eram impressionantes e quase unânimes nos relatos dos americanos que, visitavam a cidade.
As referências aos padrões americanos nos anos 40, sobretudo as ideologias centradas na questão do aranha-céus, eram visíveis. A influência estética americana nos projetos dos hotéis Othon e São Paulo foi significativa. Ambos de autoria do arquiteto Dacio A. de Moraes, tem o reforço do embasamento marcado por uma delicada cobertura. O ritmo das janelas e suas molduras também se assemelham ao padrão americano e o destaque a parte superior do edifício reforçam as semelhanças.

Bibliografia: Monteiro – Ana Carla de Castro Alves – Os hotéis da Metrópole- O contexto histórico e urbano da cidade de São Paulo através da produção arquitetônica hoteleira (1940 – 1960)

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Automóveis, hotéis e o Plano de Avenidas do embelezador Prestes Maia

Ao falar do crescimento do número de automóveis na vida urbana da metrópole não poderíamos deixar de mencionar a importância do Plano de Avenidas para a expansão da cidade nos anos 40/50 e a sua contribuição para a expansão do setor hoteleiro.
O Plano de Avenidas elegia o sistema viário como o direcionador do crescimento da cidade. O Plano, embasado na criação de vias perimetrais e radiais, tornou a cidade um organismo fluído e, sobretudo vivo. A cidade de São Paulo, no século XX acumulou uma grande quantidade de planos urbanísticos, no entanto a grande dificuldade  de implantação destes planos foi que estes tiveram que se confrontar com a cidade existente.
Trecho inicial da Av: Nove de Julho
A cidade se contrapunha à estagnação dos séculos anteriores. Avenidas como a Ipiranga e Nove de Julho. É deste período a conclusão da avenida Nove de Julho e o alargamento do perímetro de irradiação concebido para desafogar o centro: Senador Queiroz, São Luiz, Ipiranga, o prolongamento das avenidas Paulista e Pacaembu e o alargamento da Avenida São João.
As avenidas Ipiranga e Nove de Julho receberam incentivos de desenvolvimento e tornaram-se polos atrativos na nova malha urbana, enaltecida pelo automóvel.
A maioria dos hotéis que se instalaram na cidade, nos anos 50, estava localizado nos eixos da Avenida Ipiranga e Nove de Julho.
No eixo da Avenida Ipiranga destacamos os hotéis: Excelsior, Marabá, Terminus, Copan e Hilton. No eixo Nove de Julho o destaque recai sobre os hotéis: São Paulo, Cambridge e Paris.
O Plano de Avenidas, além de concretizar a abertura e o alargamento de dezenas de avenidas ocasionou a demolição de um grande número de construções, gerando uma escalada nos preços dos terrenos em seu entorno. Neste contexto a especulação imobiliária foi um fator que não pode ser desprezado na construção de novos edifícios. A intenção era clara: modernizar. Prestes Maia era um apaixonado pelo embelezamento da cidade e interessou-se em dar a São Paulo a dimensão que acreditava ser digna de sua importância no quadro nacional.


Bibliografia: Monteiro – Ana Carla de Castro Alves – Os hotéis da Metrópole- O contexto histórico e urbano da cidade de São Paulo através da produção arquitetônica hoteleira (1940 – 1960)

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

As inovações de São Paulo nos anos 40

Para compreendermos as mudanças que surgiram na cidade dos anos 40 e a influência na construção dos novos hotéis, precisamos compreender alguns aspectos urbanos que despontaram na cidade com a transformação desta em metrópole.
Hotel Excelsior
O primeiro aspecto a ser analisado como já salientamos ao estudarmos as décadas de 20 e 30, foi à introdução da iluminação pública noturna na rotina paulistana. A energia elétrica possibilitou o uso da cidade por um período maior e novas atividades e costumes foram adotados pela sociedade. O costume de frequentar cinemas e teatros, o hábito de encontros em restaurantes e bares e a vida boêmia ganharam novos espaços e adeptos.
Outra inovação urbana importante, naquele momento em que a industrialização era presente e a entrada do automóvel inevitável, foi a perda da importância da rua como ponto de encontro da sociedade paulistana.
Assim, nos deparamos com uma sociedade de massa alucinada por novos produtos e serviços. É necessário enfatizarmos que esta mesma sociedade, como qualquer outra, necessitava de pontos de encontros, fossem eles cívicos, religiosos ou culturais. No entanto, não cabia mais à rua este papel. Na era metropolitana a rua foi tomada por automóveis que circulavam em elevadas velocidades.
A cidade, ao nosso ver, necessitava de novas edificações que simbolizassem seu crescimento populacional e espacial. Espaços estes que assumissem o papel de centro aglutinador das massas que as ruas e praças, no passado, exerciam. A demanda por novos serviços e a industrialização em grande escala favorecia o surgimento de novos edifícios, As galerias comerciais os edifícios-conjunto e outros projetos de uso misto como os hotéis aqui estudados eram a resposta a esta crescente demanda metropolitana. Os principais exemplos que vamos estudar são os hotéis: Excelsior, Marabá onde há a fusão de um hotel e salas de cinemas. O hotel Jaraguá com um programa mais audacioso unindo um hotel, um jornal e uma rádio. Os projetos não, construídos, do hotel Tropical e Copan aliavam um hotel a um centro comercial.

Bibliografia: Monteiro – Ana Carla de Castro Alves – Os hotéis da Metrópole- O contexto histórico e urbano da cidade de São Paulo através da produção arquitetônica hoteleira (1940 – 1960)

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

São Paulo dos anos 40

Os anos 40 foram o início de uma nova era. A cidade abandonou os padrões estéticos europeus e adotou construções audaciosas, fundamentadas na verticalização e privilegiadas pela crescente indústria local e por um novo olhar. O olhar para o moderno.
Os anos 40 marcaram, no Brasil, o período final da ditadura imposta por Getúlio Vargas. Foi um momento de abertura política, de grande crescimento da indústria nacional e de modernização, tanto na economia, como na sociedade brasileira. Com o fim do Estado Novo, o processo de rearticulação da vida democrática, como salienta Feldman, trouxe de volta a disputa política – partidária e a constituição de órgão público mais abrangente e preocupado com as questões urbanas emergentes. Havia no país uma nova mentalidade positivista que impulsionava a um futuro promissor.
Os bondes faziam a ligação dos bairros da cidade
Em São Paulo, com a retomada da abertura política, havia a possibilidade de dar ao país uma resposta à derrota política sofrida em 1932. A vitória agora, se dava com outras armas e com outros combatentes. A indústria, o crescimento alucinante da cidade e o poderio econômico dos novos mecenas ricos imigrantes, destacavam a cidade das demais e a colocavam no topo nacional.
Nos anos 50 havia uma cidade à espera da ousadia e do arrojo de alguns homens que a despertassem para o necessário voo. Esta nova mentalidade seria muito utilizada pela mídia da época e por acadêmicos paulistanos como uma doutrina a ser seguida e uma espécie de mola propulsora de novos avanços.
A era pós Vargas trouxe aos arquitetos paulistas dois novos clientes: o burguês e o operário
A sociedade paulistana nos anos que seguiram após a abertura política e, sobretudo ao período do IV Centenário se apoiou no seu promissor futuro e se tornou o centro germinador de ideias e símbolos.
São Paulo, em meados do século XX, era uma cidade em franco crescimento. Segundo dados da revista Acrópole de 1952, “São Paulo, em 1940, possuía cerca de 1.326.261 habitantes e, em 1950, 2.227.512 habitantes”.  Do ponto de vista espacial,. A cidade cresceu de maneira assustadora: em 1930 era cerca de 130 quilômetros quadrados; em 1954 ultrapassava os 400 quilômetros quadrados. Desta forma, a cidade se tornou solo fértil para diversas transformações. No entanto, não podemos atribuir somente ao crescimento populacional ou espacial transformação de São Paulo em metrópole. Segundo Meyer, São Paulo tornou-se metrópole não apenas pelas dimensões assumidas, mas também pelos novos problemas sociais, pelo conforto com novos temas urbanos e, sobretudo, por uma nova sociedade, mais urbanizada e com grande poder econômico. O quadro da arquitetura paulista começou a alterar-se, tendendo a um pensamento coletivo voltado a modernidade.

Bibliografia: Monteiro, Ana Carla de Castro Alves – Os hotéis da Metrópole – O contexto histórico e urbano da cidade de São Paulo através da produção arquitetônica hoteleira (1940 – 1960)


quinta-feira, 22 de agosto de 2013

O declínio do hotel Esplanada

A ausência de grandes estabelecimentos que levaram à criação do Esplanada ou do Terminus faz contraponto à situação similar ao final da década de 1950. Alterações da dinâmica da cidade de São Paulo, mudança de escala urbana, novos parâmetros para o segmento de hotelaria são alguns dos muitos fatores a avaliar.
O Esplanada tornou-se Edifício Ermínio de Moraes


Novos empreendimentos surgem na década de 1950 como o Othon Palace Hotel, ativo até a década de 2000, adotando padrões diferenciados do modelo do “grande hotel” palaciano. Outros hotéis, abertos na década anterior como o Excelsior, voltados para o segmento de negócios marcam o período, constituindo uma grande mancha de concentração nas proximidades das Avenidas Ipiranga e São João.

O Esplanada continua até a década de 1950 em atividade. E, parece relevante apontar, sem sinais de declínio. É ali que parte das personalidades convidadas para os festejos do IV Centenário são hospedadas. Mas o empreendimento não terá maior sobrevida encerrando as atividades em dezembro de 1957. Talvez, por desinteresse de seus controladores, em especial considerando a situação das empresas Crespi.

Sobre o período final, nota na imprensa (OESP, 30.12,1987, p.28), referenciando os 30 anos do encerramento de atividades, é caso único na crônica confusa do Esplanada. Breve traz depoimentos de funcionários e clientes e o de um importante cronista social importante: José Tavares de Miranda.

Voltemos àquele momento. Sabe-se que, em agosto de 1958, o edifício já estava sob o controle do Banco Mercantil de São Paulo S.A., quando é apresentada proposta dessa casa bancária à Camara Municipal para uso como nova sede (OESP, 7.8.1959, p.4).
O empresário José Ermírio de Moraes comprou o prédio em 1963 e reformou o seu interior, com o objetivo de ali abrigar os escritórios centrais do grupo Votorantim. (...) Em 1965, a Votorantim transferiu seus escritórios para o local, rebatizado como edifício Ermírio de Moraes. (DOSP, 6.11.2012, p.II-Seção II).
O edifício, contudo, apresentou uma história recente algo conturbada quanto à sua destinação.

Em abril de 2011, registra a imprensa (FSP, 28.4.2011, p.C-3) que a empresa oferecera à prefeitura o edifício, havendo possibilidade de receber a Secretaria Municipal de Planejamento, Orçamento e Gestão. A negociação seria realizada na forma de desapropriação amigável com custo estimado de R$ 40 milhões.

Mais de um ano depois, em 5 de novembro de 2012, assinavam empresa e o governo do estado termo de transferência do “edificio Ermirio de Moraes”, sede do grupo empresarial Votorantim. (DOSP, 6.11.2012, p.II-Seção II). A transferência teria valor menor: R$ 32,5 milhões. Previa-se para abril de 2013 a ocupação pela Secretaria de Agricultura e Abastecimento.
É relevante registrar que a importância como marco urbano foi reconhecida pelo tombamento realizado em 1992, pelo CONPRESP através da resolução 37/92, item 268, com nível de preservação 3 (proteção à area externa), como parte integrante do conjunto urbano do Vale do Anhangabaú.

Bibliografia: Informativo do Arquivo Histórico de São Paulo - Ricardo Mendes - Núcleo de Produção Editorial. http://www.arquiamigos.org.br/info/info33/i-ensaio3.htm

sábado, 17 de agosto de 2013

O Esplanada Hotel se diversifica para melhor servir.

No dia 27 de fevereiro de 1923, as primeiras páginas de jornais comoO Estado de S. Paulo e Correio Paulistano trazem em anúncio o destaque: abertura definitiva no dia 5. Nos dias precedentes, 3 e 4, o hotel promove jantares dançantes, em instalações ainda incompletas, como informa o mesmo anúncio.
Hotel Esplanada 1923


No dia seguinte, anúncio no
 Correio Paulistano, à primeira página, traz detalhes: inauguração dos salões, sábado, dia 3, com grande jantar de gala, contando com duas orquestras. No domingo, grande jantar dançante.

Em 10 de março, novo anúncio, à primeira página de
 O Estado de S. Paulo, informa sobre inauguração do “grande salão de festas no mesmo dia. À tarde, a partir das 16h30, o Esplanada oferece chá dançante a 5$000 por pessoa, com o “jazz-band sul-americano” Romeu Silva, contratado no Rio. No dia seguinte, jantar dançante por 20$000.

Uma semana depois, o hotel, no entanto, cancela por motivo de força maior os jantares dançantes programados para os dias 17 e 18 de março (OESP, 17.3.1923, p.2).
Lentamente, o Esplanada passa a reunir parte da vida social das classes abastadas paulistanas. Como outros hotéis há tempo faziam, o Esplanada agrega também outros gêneros de eventos. Um exemplo é o anúncio Às excelentíssimas senhoras, em agosto do mesmo ano (OESP, 17.8.1923, p.1). Nele, Elisa Giaccone Macceloni, da casa de moda Giaccone Macceloni & Cia, de Lucca e Florença, informa a inauguração na segunda, dia 20, de exposição que é constituída de tudo o que de mais fino foi visto até hoje em elegância, bom gosto e perfeição.
Tailleurs, toilettes pour soirées, manteaux, pellaria, lingeries, finissimos bordados a mão, etc
MAIS DE MIL DIFERENTES MODELOS
 (em letras garrafais, fechando o anúncio)
A partir do ano seguinte é longa a série de damas francesas com ofertas similares. Madeleine Doré, ainda em 1923, em anúncio com texto em francês (OESP, 11.11.1923, p.2), informa que ficará na capital por apenas dois dias, quando “liquidera sa superber collection à prix reduit” nos apartamentos 301-03.
Em setembro de 1923, surgem notas sobre os primeiros saraus promovidos, entre outros, pelo City Bank Club, Clair Club etc. Algumas vezes essas referências surgem em notas já mesclando informações sobre concertos no Teatro Municipal — proximidade privilegiada.

Nota em
 Indicador social, na edição de 30 de novembro de 1923, do jornal O Estado de S. Paulo, à página 2, parece inaugurar no Esplanada antiga prática local, com a abertura da exposição do pintor francês Luiz Tinayre. Em tempo, a mesma fonte indica um total de quatro mostras de pintura na cidade, além de uma exposição de prataria portuguesa.

O “grand monde” se diverte. Celebridades de todo tipo ali se reunem. Registro na coluna Notícias teatrais, publicada em O Estado de S. Paulo, de 21 de junho de 1924, à página 2, informa: “EMPRESA JOSÉ LOUREIRO — Acha-se nesta capital, hospedado no Esplanada Hotel, o conhecido empresário teatral sr. José Loureiro, que em São Paulo goza de muita simpatia”.

Bibliografia:Informativo do Arquivo Histórico de São Paulo -  Ricardo Mendes - Núcleo de Produção Editorial.
http://www.arquiamigos.org.br/info/info33/i-ensaio3.htm

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Os novos hotéis da cidade

Os novos hotéis da cidade, como o hotel Esplanada, eram mais do que um simples equipamento urbano destinado a viajantes que transitavam na cidade. Eram também locais de grandes discussões políticas e manifestações de vanguarda da sociedade paulistana.
Enquanto os lares das famílias tradicionais eram ocupados pelos acadêmicos, como nos mostra Gama, os futuristas se apressavam em ocupar espaços públicos. O salão de Maio foi a manifestação mais importante desta arte de vanguarda, em 1936. O primeiro aconteceu no salão vermelho do Hotel Esplanada.
lateral do Teatro Municipal Hotel Esplanada ao fundo
A exposição apresentou novidades mesmo para aqueles acostumados às exposições do Louvre ou outros museus europeus. Além disso, muitos hotéis tinham bares disputados pela sociedade paulistana os bares do Hotel Esplanada e Terminus eram chiques e frequentados pela alta sociedade. “O antigo Hotel Esplanada é um remanescente das grandes construções que compunham a área envoltória do Teatro Municipal, formando o mais famoso cartão postal da cidade”.
Ainda na área de influencia do Teatro Municipal se destacavam dois projetos de Ramos de Azevedo, os hotéis Central e Britânia ambos situados na Avenida São João. O Hotel Central foi instalado num belíssimo prédio projetado e construído em 1915, sendo uma das obras mais expressivas da capital naquele período e o primeiro hotel de quatro pavimentos na capital, segundo fontes obtidas no próprio hotel.
Nos anos 20 e 30 crescimento da hotelaria cresceu proporcionalmente ao crescimento da cidade. Em 1920 contava com 25 estabelecimentos e em 1923 já eram 49 hoteis no centro de São Paulo.
O fortalecimento da economia industrial no final dos anos 30 favoreceu a continuidade do crescimento da cidade e a sua importância no cenário nacional. Ficava claro que São Paulo necessitava de profundas transformações e estas não tardaram a despontar no planejamento urbano.
Uma das grandes transformações urbanas, nos anos 30, foi o concurso para o Novo Viaduto do Chá. Este concurso, além de tratar de questões específicas relativas a um equipamento urbano, também trouxe à tona novas considerações sobre a cidade como o crescimento, os novos eixos urbanos, as novas técnicas construtivas e a inserção do automóvel à vida do paulistano. Todas estas preocupações foram contempladas no concurso do Viaduto do Chá.
Inaugurado em 1938, o novo viaduto projetado por Elisário Baiana tornou-se marco na vanguarda construtiva e estética, consolidando o eixo do Teatro Municipal e rompendo com a arquitetura europeia repleta de ornamentos. Sua arquitetura de linhas retas, eixos definidos, sem adornos foi um dos primeiros exemplares do Art Déco na cidade.
Na escola urbana confirmou o crescimento da cidade rumo ao Centro Novo e ao eixo Ipiranga – São Luiz


Bibliografia: Monteiro Ana Carla de Castro Açlves – Os hotéis da Metrópole – O contexto histórico e urbano da cidade de São Paulo através da produção arquitetônica hoteleira (1940 – 1960)

sábado, 3 de agosto de 2013

Os hotéis rumam para o Novo Centro

Pela primeira vez o eixo hotelaria se deslocou definitivamente rumo ao Centro Novo e se consolidou nas proximidades de um elemento cultural e não dos principais acessos da cidade.
Esta experiência e necessidade da cidade de vincular a hospedagem a um fator cultural foi consolidada posteriormente pela arquitetura dos anos 40 e 50 com a integração dos hotéis aos equipamentos culturais, como cinemas, teatros e galerias.
Desta forma, o Teatro Municipal foi um marco para a vida paulistana. Ao redor uma nova cidade foi erguida, com novos espaços de convivência para uma sociedade faminta por uma vida urbana.
O projeto do teatro Municipal e do Hotel Esplanada foi, segundo Rolnik, um investimento milionário para a sua época. Foi o ponto alto de uma série de intervenções na área central, que além de melhorar o tráfego e acesso, produzir um novo produto cultural para a cidade.
Edifício Martinelli
Na década de 20 ocorreu a inauguração do luxuoso Hotel Terminus (localizado na atual Prestes Maia, onde está construído hoje o Edifício da Receita Federal) com mais de 250 quartos. Este hotel foi palco de encontros do grupo modernista que realizou a Semana de Arte Moderna de 1922, o Teatro Municipal.
Outro marco da arquitetura paulistana, o Edificio Martinelli, abrigou o Hotel São bento. Este buscava atingir a faixa de novos homens de negócios, estrangeiros e viajantes que vinham do interior e que até então não tinham muitas opções na cidade.
O moderno o Hotel Esplanada (atual sede do grupo Votorantin), inaugurado em 5 de março de 1923, foi projetada por Viret e Momorat e possuía 250quartos. Os arquitetos responsáveis já tinham obras premiadas em Paris e foram também os autores do projeto do Hotel Capacabana no Rio de Janeiros.
O edifício paulista constituía um belo exemplar da arquitetura eclética e disputava com o vizinho teatro municipal os elogios da época. Os seus detalhes arquitetônicos impressionam revelando o elaborado tratamento das fachadas. O hotel Esplanada por sua localização e refinamento arquitetônico, logo se tornou ponto de encontro da elite paulistana.

Bibliografia: Monteiro, Ana Clara Alves – Os Hotéis da Metrópole (1940 – 1960)