domingo, 26 de dezembro de 2010

Escola Normal Caetano de Campos – Praça da República

Em 1894, cinco anos após a proclamação da República, a Escola Normal de São Paulo foi instalada em edifício especialmente construído para esse fim na Praça da República. A escola depois foi chamada de Escola Normal da Praça da República; em seguida, de InstituCaetano de Campos 1895 Marc Ferrazto de Educação Caetano de Campos; posteriormente, de EEPSG Caetano de Campos. Hoje funciona no local a Secretaria da Educação do Estado de São Paulo.
A Escola Estadual Caetano de Campos nasceu em 1846, a partir das determinações do Ato Adicional de 12 de agosto de 1834, que conferia às províncias a atribuição de legislar sobre a instrução pública, inclusive criando estabelecimentos próprios para tal fim. Com essa responsabilidade, foram fundadas nas diversas províncias – Rio, Minas, Bahia e São Paulo – as primeiras Escolas Normais. Seu primeiro prédio foi junto à Catedral do Largo da Sé. Ao longo de sua história, a escola chegou a ser extinta duas vezes e mudou diversas outras de prédio; em 1875 instalou-se junto à Escola de Direito do Largo São Francisco, em um edifício que mais tarde sediaria a Câmara Municipal. Depois foi transferida para um sobrado na Rua do Carmo, para a Praça da República, para o antigo prédio do Colégio Porto Seguro, na Praça Roosevelt, e, finalmente, para a Rua Pires da Mota, no bairro da Aclimação, onde está até hoje.

A mudança para a Praça da República em 1894, bem como a sua saída em 1978, caracterizam momentos significativos no estudo da relação da escola com a cidade. A construção de um prédio escolar na Praça da República assumiu um significado especial nos rumos que a educação tomava no país e, em particular, na província de São Paulo, bem como afirmou o rumo de crescimento da cidade.

Se desde a colônia a educação esteve sob responsabilidade da Igreja ou de instituições religiosas, a construção da Escola Normal em terreno do antigo Largo dos Curros (atual Praça da República) marcou a orientação laica dos valores da Primeira República. Foi o governador da província de São Paulo (Francisco Rangel Pestana) que em 1890 autorizou a transferência de 200 mil cruzeiros que seriam dedicados à construção da Escola Normal.

O prédio novo da Escola Normal tornou-se um símbolo da República e fixou-se como referência e polo diEsc_NormalCaetano de Campos 1940fusor de teorias científicas e pedagógicas. O conceito de Escola Modelo era aplicado à Escola Normal, para os alunos de 11 a 14 anos como para as crianças menores, no jardim-de-infância que se situava nos fundos da edificação

Quando em 1894, se inaugurou o prédio, a escola era circundada de residências de alto padrão. O investimento público na educação consolidou uma direção de crescimento da cidade – a direção oeste.

No andar térreo do prédio funcionava a Escola Modelo; em um anexo localizava-se o curso complementar; ao fundo, em uma construção independente, ficava o jardim-de-infância, demolido em 1940 para a ampliação da Avenida São Luís.
O edifício ocupa uma das faces da Praça da República e é absolutamente simétrico. Esse fato não se deve exclusivamente a razões de composição arquitetônica. As duas alas simétricas serviam como divisão entre os sexos: a ala leste era feminina e a ala oeste, masculina. O prédio também tinha função monumental, era símbolo de um novo regime, a República, representação de uma nova maneira de pensar o futuro do país.

O final do século XIX foi marcado pelo fortalecimento da indústria e, portanto, estava nascendo à cidade industrial. A história do edifício da Praça da República confunde-se com a da cidade, tanto na sua expansão como na sua transformação e arquitetura.
Quando da construção da Estação República do Metrô o Jardim-da-infância foi demolido e o edifício ameaçado de demolição pela Companhia do Metrô de São Paulo.
A ameaça de demolição pôde ser contida por uma mobilização da sociedade. Porém, o edifício deixou de ser escola e passou a sediar uma Secretaria de Educação do Estado.

A resistência à demolição do prédio reuniu as forças democráticas da sociedade de 1978. Acreditamos, no entanto que o patrimônio não é apenas o edifício histórico é também seu uso.

Em 1894 o edifício da Caetano de Campos simbolizava os ideais recém-vitoriosos de formação da República.
O distrito República é hoje o mais denso no que diz respeito à moradia de toda a Regional da Sé. Sendo assim, uma escola na região, não seria obsoleta: ao contrário, teríamos um equipamento que poderia ser muito bem aproveitado e desfrutado pela população do local.

domingo, 19 de dezembro de 2010

Xavier de Toledo uma rua com inflexão

 

A Lei n° 1898 21 de julho1915 aprovou o novo alinhamento projetado para a rua Xavier de Toledo, lado par, no trecho entre as ruas Sete de Abril e Bráulio Gomes. No entanto, se fez necessário o lei nº 2.323 de 30 setembro de 1920 para aprovar o novo plano de alinhamento adotado para a rua Xavier de Toledo que passaria a ter a largura de 25m no trecho compreendido entre as ruas Barão de Itapetininga e Sete de Abril, com recuo dos prédios do lado da numeração par. Deste ponto, assinalado na planta pela letra altA, onde a rua Xavier de Toledo faz uma inflexão, a largura será traçada uma linha reta até o cruzamento com a rua São Luiz (Letra B), sempre com a largura de 25m. E de fato quem hoje travessa a rua tem problema de visibilidade do trânsito por causa de uma curva natural do terreno que faz com que a rua seja formada por duas retas. Uma entre as ruas Sete de Abril de Barão de Itapetininga e outra reta entre as ruas Bráulio Gomes de São Luiz.

Para executar esta obra a lei n° 2.359 de 02 de fevereiro de 1921 aprovou o acordo feito entre a prefeitura e os proprietários dos prédios n° 38,40 e 42, da rua Xavier de Toledo, necessários ao alargamento desta rua .Acordo celebrado com o prefeito e com Luiz Ribeiro Martins Vieira e sua mulher D. Julieta Reis Teixeira Vieira 25m,.

A Resolução n° 196 de 1921 aprova o acordo feito pela Prefeitura com José Velletri e sua mulher, para o recuo do prédio n° 16 da mesma rua Xavier de Toledo, de sua propriedade. Ficando os contratantes indenizados da construção e terreno com a área de 13,13m de frente por 12,40m de fundo, que será incorporado ao patrimônio público, e obrigando-se a reconstruir nova fachada sobre o futuro alinhamento.

A Lei nº 2.501 de 21 de junho de 1922 aprovou o acordo feito pela prefeitura com os proprietários do prédio nº 64 da rua Xavier de Toledo. E assim, uma após outra as desapropriações foram dado lugar a uma nova São Paulo.

domingo, 12 de dezembro de 2010

Transformações no centro de São Paulo na década de 20

Nos anos vinte a sociedade brasileira viveu um período de grande efervescência e profundas transformações.

O ano de 1922, em especial, aglutinou uma sucessão de eventos que mudaram de forma significativa o panorama político e cultural brasileiro. A semana de Arte Modalterna, a criação do Partido Comunista, o movimento tenentista, a criação do Centro Dom Vital, a comemoração do centenário da Independência e a própria sucessão presidencial de 1922 foram indicadores importantes dos novos ventos que sopravam, colocando em questão os padrões culturais e políticos da Primeira República.

A cidade de São Paulo não poderia ficar fora destes novos ventos e começou com a lei nº 2.445 de 05 de janeiro de 1922 que autoriza a Prefeitura a despender até a quantia de 427:752$000, com a execução de diversas obras no Viaduto de Santa Iphigenia. Obras de alargamento da via carretável, afastamento dos passeios laterais, reforma do calçamento e limpeza e pintura da estrutura de metal do viaduto.

A cidade se apontava para os novos tempos que se avizinhavam lei nº 2.451 de 14 de outubro1922 que autorizou a Prefeitura a modificar o emplacamento das ruas e prédios da cidade de São Paulo. Assim, a Prefeitura estava autorizada a modificar o emplacamento das ruas e prédios da cidade de São Paulo, de acordo com a presente lei, devendo a nova numeração começar a vigorar da data que for por ela designada, com antecedência de sessenta dias.

Também por força de lei municipal a Alameda Barão de Limeira passou a ter seu término na Av: São João e para isso a lei n° 2.491 de 30 de maio1922 declara de utilidade pública diversos prédios e terrenos situados às ruas General Osório, Conselheiro Nébias, Victoria, São João e Aurora. Depois foi a vez da lei n° 2.505 de 27 junho de 1922 que aprovou o acordo feito pela Prefeitura para a aquisição do prédio nº 176 da Avenida São João, necessário ao prolongamento da Alameda Barão de Limeira. Eram os passos largos dados em direção a tornar a São Paulo provinciana na metrópole eu hoje conhecemos.alt

Do ponto de vista econômico, a década de vinte foi marcada por altos e baixos.

Se nos primeiros anos o declínio dos preços internacionais do café gerou efeitos graves sobre o conjunto da economia brasileira, como a alta da inflação e uma crise fiscal sem precedentes, por outro também se verificou uma significativa expansão do setor cafeeiro e das atividades a ele vinculadas. Passados os primeiros momentos de dificuldades, o país conheceu um processo de crescimento expressivo que se manteve até a Grande Depressão em 1929. A diversificação da agricultura, um maior desenvolvimento das atividades industriais, a expansão de empresas já existentes e o surgimento de novos estabelecimentos ligados a indústria de base foram importantes sinais do processo de complexificação pelo qual passava a economia brasileira.

Junto com estas mudanças observadas no quadro econômico processava-se a

ampliação dos setores urbanos com o crescimento das camadas médias, da classe trabalhadora e a diversificação de interesses no interior das próprias elites econômicas.

Em seu conjunto estas transformações funcionariam como elementos de estímulo a alterações no quadro político vigente colocando em questionamento as bases do sistema oligárquico da Primeira República(1).

(1)FERREIRA, Marieta de Moraes; PINTO, Surama Conde Sá. A Crise dos anos 20 e a Revolução de Trinta . Rio de Janeiro: CPDOC, 2006. 26f.

domingo, 28 de novembro de 2010

Largo do Arouche, entre a praça de tiro e o local aprazível

No início do século XIX, toda a área hoje conhecida como "Vila Buarque" era de propriedade do Tenente General José Arouche de Toledo Rendon que nasceu em São Paulo em 14 de março de1756 e faleceu em 26 de junho de 1834 também em São Paulo. Era o único filho varão do mestre-de-campo Agostinho Delgado Arouche. Mercado-das-Flores

O General Arouche foi o introdutor da cultura do chá na cidade de São Paulo, por volta de 1820, transformou toda a sua chácara numa imensa plantação com mais de 54 mil pés. Em 1811 Arouche oficiou a câmara nos seguintes termos: “Por não haver dentro da desta cidade nem em seus subúrbios uma praça em que se possa disciplinar os melicianos por brigadas, tomei a resolução da fazer desterrar e aplainar a Praça denominada da Legião, a custa dos melicianos desta cidade que voluntariamente querem para isso concorrer com porção módica. Esta dita praça foi por mim demarcada quando por ordem do senado retalhei, arruei e demarquei a Cidade Nova. Então lhe pus o nome de Praça da Legião, na espera de eu este Corpo com sua gente a procurasse para exercícios das suas três armas”. Assim ficou implantado em sua propriedade uma praça para exercícios militares que englobava os atuais "Largo do Arouche" e "Praça da República".

No seu interior no largo havia uma pequena lagoa que foi aterrada nos últimos anos do século XIX. Nesse sentido, a antiga "praça da Legião" passou a ser conhecida também como "Tanque do Arouche". Em 1865 o vereador Malaquias Rogério de Salles Guerra, ao realizar uma revisão dos nomes das ruas de São Paulo, alterou aquela denominação para "Campo do Arouche". A partir de sua urbanização e calçamento em finais do século XIX, adotou-se informalmente o nome de "Largo do Arouche". Em 1910 (Lei 1.312 de 26/04) parte do largo, entre as ruas do Arouche e Sebastião Pereira passou a chamar-se "Praça Alexandre Herculano". Em 1913, através da Lei 1741 de 18 de setembro, revogou-se a Lei 1.312 e todo o espaço voltou a ter a denominação de "Largo do Arouche".

O córrego do Carvalho era formado pelo transbordamento do Tanque do Arouche como explica Afonso Antônio de Freitas “formavam córrego atravessando o Largo do Arouche e correndo entre as ruas Maria Thereza e Sebastião Pereira na direção da atual rua Frederico Steidel hoje Avenida São João e alameda Helvetia indo formar nova e mais volumosa lagoa entre a alameda Glete, Barão de Limeira e alameda Nothmann a qual transvasava para em seguida formar o córrego do Carvalho”. Hoje em frente à Secretaria de Educação do Estado e a Academia Paulista de Letras há um dreno de água cristalina lembrando a todos que ali há uma nascente.

Uma mudança na estrutura geográfica do largo foi feita para lei nº 2.798 de 18 de dezembro de 1924 quando foi autorizada “a abertura de uma rua que, partindo do Largo do Arouche, vai até a avenida São João”. A lei nº 2.884 de 10 de julho de 1925 cumpre a determinação da lei anterior eaprova o acordo feito para a aquisição de uma área sita entre os nºs 92 e 100 do largo do Arouche. O acordo foi feito “com d. ºMaria Athayde Bittencourt, constante do termo lavrado na diretoria de Patrimônio, em 19 de maio de 1925, para aquisição de uma área de 345 metros quadrados de terreno situado entre os nºs 92 e 100 do largo do Arouche, pela quantia de 80.000$000, área que se faz necessária a abertura de uma rua entre a avenida São João e o referido largo.

Já a lei 2.989 de 27 de julho de 1926 autoriza a abertura da rua, “em diagonal, na parte alta do largo do Arouche”, onde hoje esta a ligação entre o Largo do Arouche e a AV: São João.

Hoje o Largo do Arouche junto com a Praça da República formam um dos lugares mais agradáveis e aprazíveis do Distrito República no Centro de São Paulo.

Bibliografia:

Jorge, Clóvis de Athayde - Consolação uma reportagem histórica

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

A Praça da República é do povo

A Praça da República já foi palco de desfiles militares de 7 de setembro e 15 de novembro. Também serviu de palco para muitos outro eventos de cunho religioso das festas de Santa Cruz da rua do Pocinho, viela remanescente de 1847.

O presidente estadual Bernardino José de Campos Junior, ao decidir-se pela construção da Escola Normal Caetano de Campos, a partir de 1892, concorreria para a reurbanização da área e seu futuro.

Em 1897 o Circo Universal foi ali instalado com seus circos de cavalinhos, roda gigante e carrosséis mecânicos. A praça era o espaço preferido das trupes que passaram pela cidade no final do século XIX.

A cidade começava a crescer e a praça servia de pasto para animais e pouca gente se habilitava a construir suas casas naquele terreno baldio. Mesmo com as ruas Barão de Itapetininga e 24 de Maio terminando na sua proximidade.

O espaço começa a tomar a feição de praça quando a lei nº 300 de 26 de janeiro de 1897

autoriza vários melhoramentos na Praça da República. No entanto, a lei n° 542 de o8 de outubro de 1901autoriza o prefeito a mandar executar os serviços de melhoramentos e embelezamentos da Pça da República. E o seu aspecto muda completamente com algumas construções abeiradas na sua extensão pelo lado da atual avenida Vieira de Carvalho.

Reformada a partir de 1909, tornou-se ampla, arruada, arborizada e gramados onde se proibia pisar, sob pena de multa.

Em 1911 Bento Ribeiro dos Santos Camargo, poeta e teatrólogo residente na rua Bento Freitas, instalou na praça uma montanha russa que resultou em total fracasso financeiro.

Em 1919, quase esquina com a rua do Arouche foi construído um espaço para patins sobre rodas sobre. Foi outro fracaço financeiro e o espaço em 1921 se tornou o Cine República. Esta mesma construção em 1936 foi ocupado pela Recebedoria Federal que ao mudar para a rua Florêncio de Abreu, deixou o local vazio e, vez por outra era arrendado para clubes que ali promoviam bailes de carnaval. Em 1952 este espaço voltou a ser cinema com 2.254 lugares de poltronas estofadas. Em 1978 este cinema foi demolido e em seu lugar aberto o escritório do canteiro de obras metropolitano

A praça da Republica sempre foi reduto dos alunos do Colégio Caetano de Campos que não raro gazeteavam aulas pelos seus caminhos.

Hoje a escola é a Secretaria Estadual de Educação. Na sua frente e em uma das suas laterais estão as entradas para a estação República do Metro. Aos finais de semana a praça recebe a feira de artesanato mais tradicional da cidade e uma vez ao ano a feira cede espaço para a Virada Cultural.

Bibliografia: Jorge, Clovis de Athayde - Consolação uma reportagem histórica

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Igreja da Consolação

Foi em 1799 que a Irmandade de Nossa Senhora da Consolação e São João Batista idealizou a construção de uma primeira capela, a beira da trilha - atual Rua da Consolação. Este primeiro templo foi decorado por Edmundo Cagni em 1885 e contava com trabalhos realizados pelo pintor Oscar Pereira da Silva, representando “A visita de Santa Isabel. A Natividade e Apresentação do Senhor. O pintor Benedito Calixto proveu o recinto eclesiástico com telas sobre São Thomas de Aquino, São Boaventura, São Tarcisio e Santa Thereza, além de cenas dos Discípulos de Emaus, que é uma passagem bíblica.

O local, então isolado, era propício ao tratamento de doentes acometidos pelo mal de Hansen (lepra), um dos objetivos primordiais da irmandade.

O primeiro patrono construtor da Consolação foi o coronel Jesuino José Pascoal, que iniciou a construção em de 5 de julho de 1890 a terminou em 4 de maio de 1899.
Com a necessidade de sua ampliação e o ardente desejo de seus paroquianos, a Igreja da Consolação compraria terreno de propriedade da senhora Veridiana Valéria da Silva Prado sobre o qIgreja da Consolaçãoual havia hipoteca da Prado Chaves & Cia, empresa exportadora de café. A área compreendia 38 metros de frente para a rua da Consolação; 32 metros, em linha quebrada com os terrenos de Henrique Cappelano. O preço acertado foi de quarenta contos de reis e a lavratura do documentos foi feito em 13 de março de 1909, no 2º Tabelião ao livro de notas 222, folhas 33 e seguintes. Ao ato compareceram o coronel Francisco Antônio de Souza Queiroz, vice presidente do Banco do Comércio e Industria de São Paulo; o conselheiro Antônio da Silva prado, procurador da outorgante além do pároco, padre Virgílio Morato Gentil de Andrade.

Apesar da compra do terreno tonou-se necessário a ampliação do terreno, porque a área adquirida confrontava com o Seminário das Educandas do Sagrado Coração de Jesus. Para resolver a questão, fez-se requerimento a câmara, solicitado o avanço da frente da igreja até o leito da rua da Consolação enquanto os paroquianos solicitavam ao pároco que o novo templo fosse construído no mesmo local.

A matriz provisória seria benta em 14 de agosto de 1909, mercê da provisão dada por Dom Duarte e Silva.

A obra da Igreja da Consolação obedece ao estilo neogótico, com amplos vitrais cúpula que foi decorada pelo artista alemão Hans Bauer, cobrindo uma área pictórica de 500metros quadrados.

Bibliografia : Consolação uma reportagem Histórica – Clóvis de Athayde Jorge

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Anhangabaú, a rua que virou avenida e foi transformada em bulevar

A rua Anhangabaú era o outro lado a continuidade da rua Formosa só que em direção ao viaduto de Santa Ifigênia. Foi uma rua projetada conforme descrito pela lei n°560 de dezembro de 1901 onde o executivo municipal ficou autorizado “a abrir a projetada rua Anhangabaú”.

No ano de 1904 através da lei nº 743 ficou declarada de utilidade pública os prédios e terrenos necessários ao prolongamento da travessa do Paissandu atual rua Abelardo Pinto até a rua Anhangabaú, hoje parque de mesmo nome. Em 1906 a administração municipal foi autorizada a realizar melhoramentos na rua. Em março de 1910 os acordos para desapropriação começam a se efetivar.praca_pedro

Quando se faz necessário remover o mercado da rua São João para outro local tendo em vista a necessidade de alargamento para que a rua São João se tornasse avenida, uma das sugestões foi a lei nº 1326 de junho de 1910 que declarava de utilidade pública os terrenos da rua Anhangabaú necessários a construção do novo mercado que substituiria o da rua São João. No mesmo ano a lei nº 1339 de 27 de julho autorizava o prefeito “a adquirir o domínio direto do terreno da rua Anhangabaú, de propriedade do Dr. Antônio Melchert por onde deve passar o viaduto de Santa Ifigênia. Já a lei nº1364, de 25 de novembro de 1910 autorizou o Prefeito a indenizar o  proprietário do prédio nº 49 da rua Anhangabaú. A lei nº 1445 de 12 de agosto de 1911 declarou de utilidade pública parte do prédio nº 37 da rua Anhangabaú e parte do prédio de nº 19 a 23 da rua do Lucas. Onde mais tarde se instalaria parte da Praça Pedro Lessa.

As desapropriações para adequar o centro de São Paulo a novos tempos eram caras e apenas algumas, de proprietários mais habilidosos nas artes de comerciar imóveis, é que aparecia a negociação com preço por metro quadrado. Temos como exemplo o caso do “acordo feito com o Sr Antônio A.Leite Penteado e Antônio Paes para o prolongamento das ruas Anhangabaú e Senador Queiroz respectivamente a um custo de 25mil reis o metro quadrado.”

Em junho de 1913 a lei municipal nº 1711autoriza o prefeito a adquirir do respectivo proprietário um terreno com 1.173,50cm, necessários para o prolongamento da rua Anhangabaú.”. Esta desapropriação custou aos cofres da municipalidade “cinqüenta mil reis o metro quadrado”. Exatamente o dobro do metro quadrado pago a Antônio Leite Penteado e Antônio Paes.

O melhor referencial encontrado para se ter certeza da localização da extinta rua Anhangabaú está na resolução nº 66 de 1917 onde denomina-se “Praça do Correio” a praça em forma retangular, situada na Av: São João, no ponto de conjunção com as ruas Formosa, Seminário e Anhangabaú.

Na verdade a rua Anhangabaú só existiu entre 1904 e 1940 quando deu lugar ao Bulevar do Valle do Anhangabaú.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Nas vizinhanças da Praça da República no sec. XX

Quem passa apreçado pela Avenida Ipiranga entre a Avenida São Luiz e a Avenida da Consolação não pode imaginaaltr a transformação que este pedaço de São Paulo passou no começo do século XX.

As ruas acanhadas e os sobrados tiveram de abrir passagem para que as ruas se transformassem em retas que se cruzam e permitir que as avenidas nascessem. Quem conta bem esta história é Jorge Americano em seu livro São Paulo nesse tempo (1915-1935). Atrás da Escola Normal Caetano de Campos, que hoje se transformou na Secretaria Municipal de Educação, existia o Jardim de Infância, onde o autor estudo e hoje sede cada vez mais espaço para as estações do metrô. 

“A que é hoje Avenida Ipiranga de ponta a ponta, era estreita e tinha dois nomes. A parte que se conta da esquina da Rua 24 de Maio para o lado da Estação da Luz, chamava-se Rua Ipiranga. A parte que se conta da Escola Caetano de Campos para trás chamava-se rua Epitácio Pessoa, seguia em direção à Igreja da Consolação e fazia uma curva para a direita, tornando-se paralela com a Rua da Consolação, trecho este que ainda lhe conserva o nome”.Esc_NormalCaetano de Campos 1940

Para quem não conhece hoje a Avenida Ipiranga termina na Avenida da Consolação. Porém, para que este trecho fosse aberto se fizeram necessárias muitas desapropriações. Graças a elas é que a Rua Epitácio Pessoa é hoje uma pequena rua entre a Avenida Ipiranga e a Rua Rego Freitas.

“A rua São Luiz, estreita, ensombrada de jacarandazinhos, com lindos jardins de casas residenciais, parava na Rua Epitácio Pessoa, interrompida pela área do Jardim de Infância, traseira à Escola Caetano de Campos”.

A Avenida São Luiz ainda hoje tem no meio os jacarandás que hoje são arvores frondosas que pontuam de verde o árido concreto de seus edifícios na sua maioria com arquitetura da segunda metade do século XX. Lago e Jd da praça da rep.1920

As transformações neste pedacinho de São Paulo começaram com a lei n° 272 de 28 de agosto de1896, onde foi autorizado “melhoramento na rua do Ipiranga, na parte compreendida entre a rua São Luiz e Araújo”. Hoje a rua Araújo é uma pequena rua que principia na Praça da República exatamente em frente ao Jardim de Infância do Colégio Caetano de Campo e termina trezentos metros acima na Praça Darci Penteado. Alias esta praça também fez parte da idéia de “europeizar”, a malha urbana do centro de São Paulo. Por causa desta proposta de tornar europeu o centro de São Paulo é que as ruas passaram a ter treze metros de largura e as avenidas trinta metros. Claro que esta evolução não acompanhou as calçadas, onde os pedestres continuam caindo nos buracos e nas diferenças dos calçamentos, é só não olhar direito para o chão.alt

Para acompanhar toda esta transformação a lei n°542 de 08 de outubro de 1901 “autoriza o prefeito a mandar executar os serviços e melhoramentos e embelezamentos da Praça da República.” Claro que no correr dos tempos a praça tem sido sistematicamente reformada e adequada aos novos tempos das estações do metrô, sem perder o charme das feiras de artesanatos nos finais de semana. Porém, recebendo todos os anos a “Virada Cultural Paulista”, onde a praça se tona um grande lixo ao termino de cada show.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Praça Júlio de Mesquita. A hospedagem da Bella Époque

A principal conseqüência da Lei de Terras de 1850 para as cidades brasileiras foi constituir e legitimar a mercantilização do solo, mediante o ativo posicionamento do Estado em favor dos interesses particulares e especulativos. O estado não viveu apenas, o papel de

“garantidor” das relações jurídicas, mas como promotor e legitimador das transformações.

O regime republicano invadiu a cidade e os proprietários das chácaras, tanto no centro quanto na periferia, parcelaram suas terras, numa febre desesperada para venda de terrenos a crédito

No final do Império já existia na cidade de São Paulo um mercado de loteamento e comércio de terrenos urbanos organizado em termos profissionais desde, pelo menos, a iniciativa de Glette e

Nothmann de parcelamento da chácara Mauá e abertura do loteamento dos Campos

Elíseos, em 1870.

Por outro lado, a forte instabilidade do mercado internacional de café, sujeito a crises de superprodução e conseqüente desvalorização do produto, forçou à diversificação de investimentos, inclusive em terras urbanas cuja demanda era incrementada pelo intenso fluxo imigratório. Simultaneamente, do atrelamento da economia agroexportadora ao sistema financeiro, fonte dos financiamentos para o plantio e a comercialização do café, em relação ao qual o Estado servia, em última instância, como elemento garantidor, decorreu a institucionalização, no governo Bernardino de Campos (1902-4), da hipoteca de imóveis urbanos - praticada,mas pouco usual até então: “Além das atividades industrial e comercial, o imóvel urbano vai ser considerado para investimento, seja como bem hipotecável para crédito agrícola ou industrial, seja como fonte segura e rentável para garantir o fazendeiro de perdas futuras, seja para o próprio intermediário do café ou mesmo para o comissário” (Barbosa, 1987, p. 200). É neste senário econômico que se negociam as primeiras desapropriações para o alargamento da Avenida São. João ( Vide texto sobre a Primeira Avenida de São Paulo neste Blog)

Nesse contexto, adquirem novo sentido as reformas urbanas das primeiras décadas

do século XX, pois não obstante o incremento populacional da cidade e os problemas de infra-estrutura urbana dele decorrentes, como a falta de saneamento, habitação, transporte e áreas de lazer (para muitos dos quais o poder público encontrará solução na regulamentação), o urbanismo será empregado, no mais das vezes, como técnica para o “embelezamento” da cidade, com base em modelos europeus, de maneira a valorizar a propriedade urbana e estimular novas formas de aplicação de capital (Barbosa, 1987, p. 186): “a cidade estava se aprontando, se embelezando para que seus imóveis tivessem mais que um valor de uso, mas um valor substancial de troca” (Barbosa, 1987, p. 193). Um bom exemplo destes tempos de mudança está na desapropriação e na construção da Praça Júlio de Mesquita. Lei n.º.º 2.491 de 30 maio de1922alt

declara de utilidade pública diversos prédios e terrenos situados às ruas General Osório, Conselheiros Nébis, Victoria, São João e Aurora, para prolongamento da alameda Barão de Limeira. Os artigos da lei declaram: “de utilidade pública para serem adquiridos por desapropriação judicial ou amigável “ad referendun” da Câmara os prédios e respectivos terrenos da rua General Osório, nº 141 e 14alt3 e dos de 

n.º.º 147 e 149 da mesma rua; as partes dos terrenos dos prédios da rua Conselheiro Nebias , n.º.º 19,21, 35,37 e 41, os respectivos prédios terrenos da rua Victoria, nº 101 a 109, 148 a 154; os prédios e respectivos terrenos da Rua de São João, n.º.º 176,180, 182, 184, 198, 200 e 202, os prédios e respectivos terrenos da mesma rua nº 222 a 236, a parte do  prédio e respectivos terrenos da rua altAurora, n.º.º 100 e o prédio e respectivo terreno n.º.º102 da mesma rua, imóveis esses que são necessários para o prolongamento da alameda Barão de Limeira até a Av: São João, alargamento desta avenida e abertura de uma praça no final do dito prolongamento ao entroncar-se com a avenida praça essa limitada pelas ruas Victoria e Aurora, e a que se refere ao art 4° da lei n.º.º 1.596 de 27 de setembro de 1922.

Assim, a desapropriação de uma vasto espaço que viabilizaria a seqüência do alargamento da Avenida São João também colocaria um pouco de beleza e valorização dos imóveis.

Depois desta reforma a jovem praça passou a ser um lugar aprazível para que se construíssem hotéis. E lá estão eles no entorno da Praça ainda hoje com as suas arquiteturas de época bem conservadas.

Bibliografia

Di Monaco, Flavio Eduardo O Banquete do Leviatã: direito urbanístico e transformações da zona central de São Paulo (1886-1945) Tese de doutorado apresentada a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo - 2007

 

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

As Ruas a caminho do Centro Novo

No começo do século XIX os caminhos ainda eram construídos de forma espontânea, sem planejamento, ligando a região central aos arredores da cidade de São Paulo. A Câmara da cidade, reiteradas vezes, pediu pela participação dos moradores na construção dos caminhos, os quais se recusavam a participar ou enviar mão-de-obra.

O desenvolvimento da cidade levou a população a ocupar as terras que ficavam além do rio Tamanduateí, Anhangabaú, Pinheiros e Tietê. Este avanço para além dos rios exigiu a criação de pontes a fim de facilitar o deslocamento dos moradores destas regiões para o centro da cidade.

Até 1892 na região central destacava-se a Ponte do Lorena, sobre o Anhangabaú , que ligava a Ladeira do Piques com a Ladeira da Memória, atual Praça das Bandeiras. O caminho que ligava São Paulo a Aldeia de Pinheiros era conhecido como estrada do Araçá, hoje avenidas Consolação e Rebouças. Após 1892 o Viaduto do Chá passou a ligar os dois lados da cidade. Durante todo o final do século XIX e início do século XX a paisagem urbano a do centro de São Paulo, passou a ser sistematicamente modificada adaptada, construindo uma cidade nova para uma nascente riqueza do café e da indústria.

O crescimento da vila e posteriormente da cidade fizeram com que as ruas existentes fossem melhores preparadas, bem como a abertura de novas ruas e becos que facilitavam o acesso dos moradores aos campos e ao litoral.

Assim, a Lei nº 208 de 09/03/1896 autoriza concerto e calçamento de diversas ruas. No §1º - Retificação dos níveis do passeios do Largo do Arouche, entre as ruas Dona Maria Theresa e Sebastião Pereira, Rego Freitas e Amaral Gurgel. No § 3º Calçamento a paralelepípedos da travessa do Paissandu e da rua Barão de Itapetininga, entre o Viaduto do Chá e a rua Conselheiro Crispiniano.

A lei nº 272 de 28 de agosto de 1896 autoriza melhoramentos em diversas ruas. Entre elas na rua do Ipirangacircolo-italiano, na parte compreendida entre a rua São Luiz e Araújo

Na lei nº 397 20 de maio de1899 ficou determinado que passem a denominar-se rua Dr Rodrigo Silva a da rua Tabatinguera e rua Coronel Xavier de Toledo travessa e rua do Paredão.

Já na lei n.º° 412 08 de agosto de1899 ficou autorizado os melhoramentos e embelezamentos da parte baixa do largo do Arouche

A lei n° 413 08 de agosto de1899 autoriza as desapropriações de um terreno ocupado por um jardim à rua Major Diogo,canto da Santo Antônio um terreno e rancho existente na entrada da rua Leite de Moraes em junção com a rua Voluntários da Pátria, um terreno e parte da casa na rua Araújo, esquina da Consolação pertencente a João Antônio de Oliveira Neto.

A lei n° 300 de 1897 autoriza melhoramentos na Pça da República autorizado pelo presidente da câmara Antônio Proost Rodovalho

Na lei n° 385 21 de março de 1899 fica autorizado ao prefeito a mandar construir passeios na saída do Viaduto do Chá ao lado da rua Barão de Itapetininga;

A Lei n° 413 08 de agosto de 1899 autoriza o prefeito a desapropriar um terreno e parte da casa na rua Araújo , esquina da rua da Consolação

Lei n° 443 de 18 de dezembro de1899 autoriza o prefeito a melhorar a rua Xavier de Toledo.

A lei nº 451 de 13 de fevereiro de1900 autoriza o prefeito a mandar calçar a rua São Luiz

A lei nº 458 17/04/1900 autoriza o prefeito a desapropriar em terreno á rua do Ipiranga, esquina da rua Rego Freitas, para a regularização das mesmas ruas.

sábado, 18 de setembro de 2010

Nova Luz entre Zumbis e Demolição

O administrador público derruba constrói, e vai cavando e levantando a seu bel prazer sem consultar quem vive no lugar.

Agora é a vez da “Nova Luz”, que deveria chamar-se “ Nova Demolição”. Sim porque, a prefeitura para Nova Luz crack_tltomar uma atitude contra a degradação humana, zumbis do crack, que é o maior problema do bairro, está demolindo, demolindo e demolindo prédios que poderiam ser aproveitados. É a continuidade da filosofia bota abaixo e faz de novo. Sem pensar nos custos múltiplos que isso tem. E pensar que São Paulo no começo do Século XX já fazia este tipo de mudança.

“Seguiu pela esquerda (Como é estranho! Não entendo mais nada. Ah! sobrou uma face da Rua Bráulio Gomes, a que tem a capelinha na esquina da Rua Xavier de Toledo. Mas, será possível? A capelinha também desapareceu!”) 

Quis orientar-se ao entrar na rua da Consolação (“Está ali a mureta da ladeira que vai para o Piques”).

Mas a Biblioteca Municipal Mário de Andrade atrapalho-o ( “terá sumido o arvoredo do Jardim do Nicolau Sousa Queirós? Não. Ainda estão as palmeiras perto daquela estátua. Camões?”).

Deus mais uns passos e reconheceu, na esquina, outras árvores (“Estas, seguramente, são do jardim do Nicolau Sousa Queirós”)

Olhou para o lado oposto (“Era a casa de José Carlos de Macedo Soares, na esquina da Rua Major Quedinho.Na outra esquina o Colégio Sagrado Coração de Jesus, para meninas. Mas sumiu a casa de José Carlos, sumiu o colégio, e sumiu a rua Major Quedinho! Ah! não! ao menos a rua Major Quedinho está ali adiante”)”.(1)

Estas são observações de um morador de São Paulo a quase 90 anos. Assim estamos nós em relação ao trecho proposto como Projeto Nova Luz. 

Será que vamos encontrar alguma Avenida Casper Líbero quanto terminar as obras do metrô linha Amarela? Por hora o que existe são buracos e tapumes.

Entre a Brigadeiro Tobias e Av Prestes Maia, mais crateras que em algum momento poderá ressurgir em uma nova estação de Metrô.

Na rua Mauá entre a rua dos Protestantes e General Couto de Magalhães mais uma demolição grandiosa. No aviso a indicação:

“Estamos construindo a futura sub-prefeitura da Luz”. Mas o pior, o pior mesmo está em Frente a Estação de Trens Júlio Prestes.

Lá os zumbis da “cracolândia” conseguiram um espaço murado para se ferir e se matar pela droga sem que ninguém veja.

A velha rodoviária está demolida e fica entre os muros dos prédios seus vizinhos. Um espaço aberto para o unovaluz1so da droga como a saída do “Minhocão” em frente a Rua Barão da Joatinga em Santa Cecília.

Encaminhamento das questões sociais não dá voto. Não fica para posteridade e não facilita o desvio de verba. Então, é melhor demolir e reconstruir do que buscar saída para as fábricas de zumbis do crack que aumentam a cada dia.

(1) Americano, Jorge – São Paulo nesse tempo 1915-1935

terça-feira, 7 de setembro de 2010

São João a Primeira Avenida

O desenvolvimento de São Paulo ocorreu no final do séc. XIX, com o crescimento do capital gerado pela economia cafeeira, somado a presença de imigrantes e migrantes como força de trabalho. O excedente do capital da lavoura cafeeira pagava a industrialização e a nascente estrutura de transporte que se apoiava nas ferrovias. (1)

A industrialização trouxe o aumento populacional e de atividades, tornando as relações econômicas e sociais mais complexas e mais exigentes.

Era urgente que a cidade deixasse de ser uma pequena cidade para se tornar uma metrópole. Porém, o incremento de atividades no espaço urbano implicou em grandes problemas, como a falta de habitações, saneamento, energia, estruturas de circulação e equipamentos de transporte.(2)

O Centro passou por uma remodelação no início dos 1900, período da implantação dos bondes elétricos pela Light and. Power Limited.

Para desenvolver os jovens loteamentos a oeste, não bastava isentar o loteador de pagar impostos, como o caso da lei 391 de 15 de abril de 1899 que “torna extensiva a isenção de impostos as ruas abertas pela Baronesa da Limeira, situadas no prolongamento da atual Rua São João.” Para que o progresso formasse bairro era preciso fazer com que os bondes chegassem até lá.

Nos primeiros tempos os caminhos foram sendo construídos de forma espontânea, sem planejamento, ligando a região central aos arredores. Assim, para dar as ruas o rumo dos novos tempos era preciso teA Linha do Bonde em 1915Fig 128r avenidas com trinta metros de largura e ruas com no mínimo 15 metros e de preferência que todas fossem retas formando um tabuleiro de xadrez como as cidades da Europa.

O então prefeito Antônio Prado começa desapropriando através da lei nº 515 10/05/1901 “declara de utilidade publica, para fim de serem desapropriados, as casas e terrenos necessários ao prolongamento da rua entre as do Senador Queiroz e São João.” Foi dada a largada para um novo tempo.

Má idéia? Boa idéia? Discutiu-se se falou. O São João ferveu. O veneno das águas do Acú ressurgiu, espalhou-e pelo ar.

A questão da abertura da Avenida envenenou todas as almas, todos os corações. Dos que eram pró abertura da avenida e dos que eram contra a ganância especulativa e as negociatas. Desapropriações escandalosas . Dinheiro a rôdo. Cada metro de terreno, os olhos da cara. Dos contra, pela insopitável indignação à vista de tanta exploração.

Tudo envenenado pelo valor das desapropriações.

Na Câmara o brilhante vereador Alcântara Machado, tempestuoso, violento, incisivo, falou sobre a extorsão dos cofres públicos contra a desenfreada especulação das célebres desapropriações.

Mas como tudo que é humano, o vendaval passou. A Avenida São João, sugiu embora tivesse custado milhares de contos de reis. (5)

A abertura da avenida foi um grande atrativo para o desenvolvimento urbano do outro lado do Vale do Anhangabaú. Afinal era a possibilidade de fazer as ruas em linhas retas.

Em 1911 começa o governo de Raymundo Duprat que juntou toda capacidade financeira e de negociação da sua administração para “rasgar” a Avenida São João entre a Praça Antônio Prado e a rua Lopes de Oliveira em Santa Cecília. Não foi uma obra para uma administração. Todos os imóveis do lado par da então rua tiveram de abrir espaço para nascente Avenida São João.

Pessoas importantes como Maria Rodovalho Cantinho, filha do presidente da Câmara Antônio Prost Rodovalho, teve de vender mil metros quadrados a administração municipal. Depois foi a vez de Dr. Plinio da Silva Prado e Joaquim Mendonça Filho também venderem os seus metros para que o futuro se fizesse verdade.

O alargamento teria como benefício adicional a interligação entre vários bairros que estavam nascendo como Bela Vista, Santa Cecília, Bela Cintra e Água Branca.

Através da lei nº 1596 de 27de setembro de 1912 é que passa a fazer parte das desapropriações uma “planta do alargamento da rua São João desde a Pça Antônio Prado até a rua Lopes de Oliveira” (Santa Cecília).

Outra situação interessante de ser observada que é que as primeiras desapropriações são pagas por unidade. Porém, um ou outro proprietário, mais esperto, cobra sua desapropriação por metro quadrado. É o caso da lei nº 1615 08 de novembro de 1912 que “aprova o acordo feito pela prefeitura sobre o prédio nº 108 da rua: São João. Área de 927m2 (550mil reis o metro quadrado) DR. Francisco de Pennaforte Mendes de Almeida, onde 259m2 serão efetivamenteAv São João 1916Fig 129 usados para o alargamento da Rua São João”. Os restantes 660 metros quadrados, o mais caro em toda a obra, seria vendido depois a outra pessoa por valor muito menor.

Em 1913 o prefeito é autorizado a negociar com letras da Câmara e o faz através da lei nº 1644 de 07de fevereiro de 1913 que “autoriza o Prefeito a adquirir o prédio nº 282 da rua São João”. E para esta aquisição o prefeito poderia usar “letras da Câmara com juros de 6% amortizáveis no prazo de 50 anos, resgatáveis antes, se convier aos interesses da municipalidade”. Já o prédio nº 192 a lei n° 1651 de 03 março de 1913 “autorizou o Prefeito a adquirir o prédio com pagamento feito em letras da Câmara com juros de 7% a.a.” Até esta data parecia capricho do administrador municipal as seguidas desapropriações na rua São João. Somente em 1913 é que o prefeito esclarece através da lei nº 1679 de 16 abril de 1913 que “ficam declarados de utilidades públicas, a fim de serem desapropriados, os prédios e terrenos necessários para a formação da Av: São João”.

Neste anos “inicia-se o alargamento da Avenida São João, pela demolição na praça Antônio Prado, da Confeitaria Castelões e da Chapelaria Alberto. Encontra o Mercadinho e derruba-o, e, ao sair do Largo do Paissandu, deixa de pé, por longo tempo, o primeiro prédio do lado par. Em 1933 atingiu a praça Marechal Deodoro, aberta nesse tempo, e seguiu até a rua Lopes de Oliveira” (4).

“Era os velhos prédios caindo por terra, demolidos pela picareta civilizadora”. E no lugar delas nasciam grandes espaços que passavam a fazer parte do que vinte anos depois viria a ser as grandes avenidas de São Paulo.(3)

Bibliografia

(1)Bomfim, Valéria Cusinato – Tese Espaços Edificados e Vazios na Área Central da Cidade de São Paulo e a Dinâmica Urbana - São Paulo -2004

(2) Brito, Monica Silveira- Tese Modernização e Tradição: Urbanização, propriedade da terra e crédito Hipotecário em São Paulo, na segunda metade do século XIX

(3) Revista Histórica nº 11 junho/julho e agosto de 2003.

(4) Americano , Jorge – São Paulo Naquele tempo 1915 –1935

(5)) Moura, Paulo Cursino- São Paulo de Outrora – Evocações da Metropole

O Mercadinho da Rua São João

As feiras livres só surgiram em São Paulo com a primeira guerra mundial. Existiam, no começo do século XX, o “Mercadinho” e o “Mercado Grande”.

Quem saísse da Praça Antônio Prado descendo pela ladeira de São João, no lugar hoje fronteiriço ao Correio, a Rua de São João, com 10m de largura, tinha do lado esquerdo o Teatro Politeama, paredes e telhado de folhas de zinco, e do lado direito o “Mercadinho de São João”, paredes e telhado de folhas de zinco.

O mercadinho era um quadrado, de 50metros por 50 metros, uma entrada central em cada face.Bondes na Av Sao Joao

Havia frutas, cereais, legumes, verduras, lingüiças frangos, toda a pequena produção das chácaras dos arredores da cidade, e um setor de peixe, vindo de Santos. Nada de artigos que não fossem comestíveis, a não ser as cestinhas e peneiras tecidas em taquara e os potes e moringas de barro. Só comestíveis bacalhau seco, mas não produtos enlatados. (1)

No final do século XIX mais precisamente em 18 de junho de 1897 é sancionada pela câmara a lei que autoriza “a construção de um Mercado no lugar onde está situado o mercado da rua São João. As obras ora autorizadas, a cuja execução se obriga o concessionário, constam das seguintes; a) Demolição de todas as casas da travessa do Seminário Indispensáveis a formação da grande praça onde será construído o mercado; b) Nivelamento das ruas Formosa, Seminário e São João pela rua que esta última tem, sobre a cobertura do rio Anhangabaú”. No mesmo ano a Lei nº 305 “Concede permissão para a construção de um lugar onde esta situado o Mercado da rua São João”. Dois anos depois o Ato n° 23 21/03/1899 aprova, as plantas e os desenhos das obras de construção de um novo mercado, onde existe o da rua São João, contratados com o engenheiro Jesuíno de Mattos”.

O crescimento vertiginoso de São Paulo a partir da década de 1870 foi fruto do grande crescimento da economia cafeeira da chegada dos imigrantes. De 1886 a 1900, a população cresceu mais de cinco vezes.

A região central vivia um desenvolvimento acelerado principalmente nas ruas São João, Formosa, Anhangabaú, Ponte do Lorena, sobre o Anhangabaú, que ligava a Ladeira do Piques com a Ladeira da Memória, atual Praça das Bandeiras. Sanear as várzeas do ribeirão do Anhangabaú e ampliar a rua São João exigia que o Mercadinho de São João fosse demolido e substituído e foi o que aconteceu através da lei nº 1050 de 02 de outubro de 1907.

Dez anos depois a lei nº 2052 10 de fevereiro de 1917 “autoriza a montagem de todo material do antigo “Mercadinho de São João”, no local onde funciona o mercado rural de Pinheiros, no distrito do Butantan”.

Assim, o Mercadinho da Rua São João não só se mudou, mas também morreu, pois hoje, antigo mercado de Pinheiros deu lugar as obras do metrô Linha a Amarela, e pelo menos no tradicional largo da Babata o Mercado de Pinheiros morreu.

Bibliografia

Americano, Jorge – São Paulo naquele tempo 1895 -1915

Revista Histórica nº 11 junho/julho/agosto 2003

domingo, 29 de agosto de 2010

Meio Metro de Homem Bacalhau

Personagens das ruas de São Paulo do final do século XIX

Os meninos o chamam de “Meio Metro”, seu nome de batismo é Rufino. Era um pretinho de um metro e quarenta de altura, com uns cinqüenta anos de idade. Com todo este tamanho não se pode dizer que é um anão, mas também não é um homem alto. Assim, o fato de ter um metro e meio é tudo que vale na sua vida social.

“Meio Metro”, seria para si mesmo antes um homem alto do que baixo. HomemBacalhau

Um dia quando ia pela rua a molecada o gritou “Meio Metro” e ele estava ofendido. Quando a molecada se aproximou, Meio Metro achou mais conveniente embravecer muito, senão se afastariam, e lhe faltaria auditório para demonstrar sua superioridade.

E não perdeu a oportunidade e foi logo dizendo:

- Vocês são uns meninos malcriados. Vocês conhecem Padre Cícero? Em dia de procissão na Sé, está tudo arrumado desde cedo dentro da igreja.

Gente começa a perguntar para Padre Chico: - Padre Chico, a procissão não sai? – Padre Chico responde: - Espera um pouco. Gente pergunta outra vez: - A procissão não sai? – Padre Chico responde: - Onde está Rufino? Rufino não chegou? Então a procissão não sai. Rufino é que abre a porta da frente da igreja. Enquanto Rufino não Chega a procissão não sai.

Quer pessoa maior que isso?

O homem teria sessenta anos. Quando distava meio quarteirão, já se via a barba longa, descendo até a cintura.

Mais perto, via-se que não acabava ali. Estava enrolada no braço esquerdo.

O homem parava, e quando perguntavam pelo comprimento da barba, ele a soltava até os pés, muito fina e de poucos fios na extremidade.

Abaixava o rosto e a barba tocava o chão.

Então tirava o chapéu e estendia a barba para o grupo que se formava ao seu redor. Os curiosos davam-lhe alguns vinténs. O homem dizia “Deus lhe pague”, punha o chapéu na cabeça, enrolava a barba no braço esquerdo e seguia.

Padre Bacalhau parece que enlouqueceu. Não podia dizer missa. Magro, que não podia ser mais magro. Pequeno recurvado. Cruzava as mãos sobre as costas, e sobre a mísera roupa, uma capa, azul por fora, vermelha por dentro, batendo na canelas.Ia silencioso, magro e recurvado, com as mãos nas costas. O meninos gritavam – Padre Bacalhau – Padre Bacalhau!

Ele não respondia. Caminhava, caminhava. Não sabemos onde morava, nem onde comia. Mas quando ele passava a molecada gritava. Padre Bacalhau, Padre Bacalhau e ele não respondia e continuava caminhando com as mãos nas costas.(1)

(1) Americano, Jorge – São Paulo naquele tempo 1895-1915.

domingo, 22 de agosto de 2010

O Sonho da Galeria de Cristal

Gráfico de origem francesa, Victor André Jules Martin, aprendeu as artes gráficas na Escola de Belas-JUles MartinArtes de Marselhesa. Veio para o Brasil aos 34 anos. Trazia uma carta de apresentação para o Visconde de Ouro Preto. Pouco demorou na Corte, Rio de Janeiro. Veio para São Paulo, onde por dois anos residiu, com a esposa e dois filhos, em Campo Largo de Sorocaba, na  fazenda de um irmão, onde instalou a primeira máquina de algodão. Depois se mudou para a capital em 1870. A princípio, a sua gráfica não tinha nome. Porém, em 1875 recebeu a visita de D. Pedro II, e aí Jules resolveu dar-lhe o nome de "Imperial Litografia".

Mantinha uma litografia com gravuras que impressionava a todos, a “Imperial Lithografia a Vapor”, foi instalada na Rua Boa Vista, depois foi transferida para a Rua São Bento. Nas vitrines de seu negócio apresentava com originalidade impressionante as suas idéias. Havia no número 63 da Rua São Bento, parede e meia totalmente decorada com suas gravuras. Jules Martin será conhecido como autor e editor de estampas sobre a cidade.

Costumava, também, apoiar fotógrafos com a venda de fotografias, como ocorreu em 1876 ao expor fotografias tiradas por Walter Bradley. Outro fotografo ajudado telo gráfico foi Renouleau que se tornou seu genro. Apesar de todo este envolvimento com a imagem seu trabalho memorável foi a idéia de unir um lado e outro da cidade através de um viaduto metálico, o Viaduto do Chá. A maior construção metálica que a cidade já vira. Ligava o antigo centro da cidade com uma área nova em expansão para oeste, vencendo o vale do Anhangabaú. Até a implantação do viaduto o vale era uma depressão profunda a marcava a paisagem com plantações de chá, horta na Chácara do Chá e vegetação esparsa.

Apesar da vitória e da lucratividade gerada através da conclusão do Viaduto do Chá sua grande frustração foi sem dúvida não ter conseguido erguer as "Galerias de Cristal", importando uma forma de construção comercial que estava no auge na Europa.

Não podemos dizer que ele não lutou para realizar seu sonho. Em 12 de setembro de 1896 através da lei nº 275 consegue que a prefeitura de São Paulo o autorize a construir as “Galerias de Cristal”. Para tanto a Lei lhe facultava: Art.... 1º - Fica declarada de utilidade pública a desapropriação da área necessária á construção de duas galerias de 8m de largura, abetas no perímetro central da cidade, conforme a planta apresentada por Jules Martin, partindo uma galeria do Largo do Rosário com direção a uma nova rua projetada entre as ruas do Comércio e 15 de novembro e cruzamento outra galeria da Rua de São Bento á rua Quinze de Novembro, abertas ao trânsito durante todo dia e noite. Art...º 2- Fica concedido a Jules Martin, ou a quem suas vezes fizer autorização para proceder à construção das mencionadas galerias com isenção de impostos cuja cobrança está afeta á Câmara Municipal, durante cinco anos, a começar da data da conclusão das galerias.....

Parágrafo Único – Toda a despesa com as desapropriações correrão por conta de Jules Martin ou quem suas correrão por conta de Jules Martin ou quem suas vezes fizer.

Apresentou desenhos, de vista interior projetando a passagem com 14m de altura e cobertura abaulada em metal e vidro.

Foi desta mesma forma só que com concessão feita pelo estado que Jules Martin conseguiu colocar o sonho do viaduto de ferro que unia um lado e outro da cidade em pé. No entanto as “Galerias de Cristal”, não teriam o mesmo sucesso. Em 21 de julho de 1899, Jules Martin consegue autorização para construção de suas “Galerias de Cristal” por seção. Quem sabe com esta divisão a obra se tornaria mais barata, e por isso teria mais probabilidade de reunir capitais para se tornar realidade. A Resolução do prefeito municipal de número 87 concede a Jules Martin, prazo para apresentar plantas definitivas das Galerias de Crystal de dois anos para apresentar as plantas definitivas. O ato de número 83 de 19 de maio de 1900: Declara haver a Câmara concedido a prorrogação de dois anos requerida por Jules Martin, dos prazos constantes do contrato de 03 de novembro de 1899 para a construção das Galerias de Crystal. A lei de número 631 de 02 de abril de 1903: Prorroga até o fim do ano de 1904 o prazo concedido a Jules Martin para a construção de uma Galeria de Cristal. O que não aconteceu já que ele veio a falecer neste em 1906

Galeria de Cristal

Martin era um homem empreendedor e colocou sua arte para fazer o primeiro mapa da Província de São Paulo. Foi ele quem instalou, nesta capital, o primeiro motor a gás. Foi introdutor de muitas máquinas novas para incremento da indústria. Foi quem lançou a zincogravura. Foi o autor do projeto da estátua de José de Bonifácio “o Moço”, que está no Largo de São Francisco. Foi ainda autor de um projeto de estrada de ferro para São Sebastião, de que obteve privilégio, mas que não realizou por falta de capital. Foi vencedor de um projeto para a construção de um Teatro Municipal, ou Estadual, na Praça da República. Foi autor de um projeto para a construção da Estação da Luz, que, em grande parte, foi aproveitado. Enfim, o homem demonstrava sua inventividade.
Jules Martin faleceu em 18 de setembro de 1906 aos 74 anos, levando a satisfação de ter executado o seu sonho de unir um lado e outro da cidade e a frustração de não ter tido o mesmo sucesso com suas “Galerias de Crystal”.

Bibliografia:

http://www.abril.com.br/especial450/materias/viaduto

Boletim do Arquivo Municipal de São Paulo número 22

Leis e Actos do Município de São Paulo – 1896 a 1904

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Viaduto Santa Ifigênia

A história do Viaduto Santa Ifigênia começa quando é publicada a  lei municipal nº 503 de 15 de janeiro de 1900  onde “Freid & Ekman ganham da prefeitura a concessão, por oitenta anos, para construção, uso e gozo de um viaduto ligando o Largo de São Bento ao de Santa Ifigênia”.  A única condição imposta pela lei era que “o viaduto estivesse sempre livre e gratuito para o trânsito de pedestres”. Afinal, a experiência dos três vinténs cobrados dos pedestres no Viaduto do Chá havia deixado marcas desagradáveis na população. Este seria o segundo viaduto construído sob o vale do Anhangabaú.

A construção do viaduto não começa a ser feita pelos donos da concessão devido ao alto custo das desapropriações e as obras de engenharia para a contenção da encosta do lado do Seminário de São Bento. Todos os capitalistas que apostaram na construção do Viaduto do Chá, não quiseram arriscar seu dinheiro na construção de um outro viaduto, iniciativa privada já havia financiado a construção do Viaduto do Chá,  e antes do termino da construção serem desapropriados pela prefeitura. Assim, só restou a prefeitura arcar com o ônus das desapropriações e custo da obra e estrutura. Por isso, a lei municipal de 1.262 de 19 de novembro de 1909 autoriza ao prefeito municipal, Antônio da Silva Prado, “a despender a quantia de quinhentos contos de reis com a construção do viaduto Santa Ifigênia”.

O Prefeito Antônio da Silva Prado, após dez anos consecutivos de mandato é  vencido pelo prefeito eleito Raymundo Duprat. E este segundo prefeito tem a autorização através da lei municipal nº 1375 de o7 de fevereiro de 1911 de “desapropriar o terreno de propriedade de Carlos Schorcht, necessário a passagem do Viaduto de Santa Ifigênia”. Na segunda desapropriação é que se vê porque esta obra não andou no tempo de prefeito Antônio da Silva Prado, afinal a desapropriação autorizada pela lei nº 1382 de 17 de fevereiro de 1911 selava o “acordo”, certamente muito bom para o proprietário, que era uma das maiores fortunas de São Paulo na época, Antônio Alvares leite Penteado, “para aquisição de terrenos medindo 402metros quadrados, sendo 116 metros quadrados para a passagem do Viaduto Santa Ifigênia”. Outro “acordo”, feito foi com João Pinto Villela, “para indenizá-lo, pelas servidões a que fica sujeito o prédio á rua Anhangabaú, nº 37, para a passagem do Viaduto Santa Ifigênia”, lei nº 1468 de 06 de novembro de 1911.

Os custos da obra continuam com a lei 1471 de 07 de novembro de 1911 que “aprova o acordo feito pela prefeitura, para aquisição de um terreno de 506 metros quadrados sito no Largo de São Bento, terreno necessário a construção do Viaduto Santa Ifigênia e obras complementares”. Apesar do custo das desapropriações, quando somados, não serem baixo o custo unitário maior foi o da lei nº 1499 de 06 de fevereiro de 1912 que autorizava o prefeito a gastar vinte e sete contos de reis com a construção de um muro de arrimo no terreno do Convento de São Bento, ao lado da entrada do Viaduto Santa Ifigênia no largo de São Bento e embelezamento da área contigua a embocadura do viaduto no Largo de São Bento com aproveitamento de subterrâneos”.Viaduto de Santa Iphigenia 1913

O Viaduto de Santa Ifigênia foi inaugurado pelo prefeito Raymundo Duprat em 26 de setembro de 1913. Sua estrutura de ferro foi fabricada na Bélgica e trazida ao Brasil para ligar o Largo de São Bento ao de Santa Ifigênia.

Em maio de 1922 a Lei nº 2.445 autoriza a prefeitura a despender 427 contos de reis na execução de diversas obras no Viaduto Santa Efigênia. Estas obras eram: alargamento do leito carroçável, afastamento dos passeios laterais, reforma do calçamento, limpeza e pintura da estrutura de metal do viaduto.

sábado, 14 de agosto de 2010

O Barão de Itapetininga

Nasceu a 16 de novembro de 1799, filho do Coronel Joaquim José dos Santos e de Antônia Josefa Mandes da Silva e recebeu o nome de Joaquim José dos Santos Silva. Foi proprietário rural e empresário.

Casou-se com Ana Eufrosina Pereira Mendes ou Ana Pereira dos Santos, deste primeiro casamento nasceu, Maria Hipólita dos Santos Silva, casou-se com  Amador Rodrigues de Lacerda, Barão de São João do Rio Claro. No segundo casamento casou-se com Joaquim Egídio de Sousa Aranha, Marquês de Três Rios

O Barão de Itapetininga casou-se em 1861 com Corina de Sousa Castro, a qual, enviuvando do Barão de Itapetininga, casou-se com Francisco Xavier Pais de Barros, Barão de Tatuí, de cujo casamento nasceu a filha Antônia dos Santos, que se casou com Eduardo da Silva Prates, Conde de Prates.

Joaquim José dos Santos Silva recebeu o título de  Barão de Itapetininga de Dom Pedro II em  23 e dezembro de 1863. Sua propriedade mais célebre era a "Chácara do Cadete Santos depois Chácara do Chá",  compreendendo as ruas Formosa, Barão de Itapetininga, Sete de Abril e Vinte e Quatro de Maio. Desta propriedade após sua morte resultaram as ruas: Sete de Abril, Barão de Itapetininga, 24 de maio, Dom José de Barros e rua Marconi.

Durante muitos anos, até sua morte, o Barão de Itapetininga, agiotando parte de sua fortuna, foi credor e financiador de várias realizações provinciais. A Câmara, sua principal devedora,a ele recorria para livrar-se das aperturas financeiras e chegou a avolumar empréstimos superiores a 300 contos de reis, ao longo de vários exercícios fiscais.” (Jorge p. 82(1)

O Barão de Itapetininga foi síndico da irmandade de Santa Tereza e recolhia o dízimos dos fieis, conforme escritura de Quitação de 04 de outubro de 1855, lavrada no 2º Cartório de Notas.

Em 1856 o Barão de Itapetininga residia na Rua Nova de São João onde o devedor Conselheiro Dr. Carlos Casemiro dos Campos foi para lavrar uma escritura de quitação de hipoteca de Hum Conto de reis que devia desde 08 de junho de 1847.

A 27 de abril de 1858 o Barão de Itapetininga lavra uma escritura de transferência de “hypoteca” a Joaquim Martins de Vasconcelos de Abreu da devedora Joaquina Escolastica. Nesta ocasião continuava residindo na Rua Nova de São João.

A principal escritura lavrada no 2º Cartório de Notas foi a fiança que o Barão de Itapetininga, Joaquim José dos Santos Silva recebe de José Francisco dos Santos, seu tio, para que o Barão exerça o emprego de tesoureiro da fazenda desta Província. “Cargo para que fora interinamente nomeado e do qual para exercer oferecia fiador a José Francisco dos Santos, conforme artigo 72 da carta de lei de 04 de outubro de 1831”.

A propriedade do Barão, Chácara do Chá Chácara do chafoi herdada de seu tio Francisco Xavier dos Santos, o mesmo que lhe ofereceu fiança para que fosse tesoureiro da fazenda da Província. Os limites desta propriedade são: Córrego Anhangabaú, Largo da Memória, Rua Sete de Abril, Rua Ipiranga e Praça da República até a “Rua Nova de São João”, atual Av : São João e desta até o leito do córrego do Anhangabaú. 

Durante toda a sua vida não permitiu a desapropriação de sua Chácara, em parte ou no todo, para abertura de ruas, afinal ele era o maior credor da municipalidade. Após sua morte em 11 de junho de 1876 é que suas herdeiras foram desapropriadas, com benefício fiscais, para abertura da rua Formosa, Barão de Itapetininga, Viaduto do Chá e Vinte e Quatro de Maio.

(1) Jorge, Clóvis de Athayde - Consolação uma reportagem histórica

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

O Viaduto do Chá é um Problema Municipal

Para a Prefeitura de São Paulo que comprou a Cia “Viaducto” do Chá foi um grande problema. A primeira medida foi mandar substituir o madeiramento do viaduto, “exceção feita a 40 dormentes da parte central, que se achavam em bom estado bem como a pintura a óleo no material metálico”, foi o que autorizou a lei nº. 359 de 1897. Apesar da encampação ter sido feita em setembro de 1896 só em maio de 1897 pelo ato do prefeito de nº 16 é que o Viaduto do Chá foi franqueado ao público, “não podendo por ela transitar senão pessoas a pé ou à cavalo e veículos de condução pessoal”. Porém, a Cia de Viação Ferro Carril de São Paulo, que possuía bonde movido a tração animal, “conseguiu o direito exclusivo de trafegar as suas linhas pelo viaduto”.



A Lei n° 304 , autoriza concessão para bondes elétricos. Sendo a primeira linha a partir da rua 25 de março em direção à freguesia da Penha de França e a partir do mesmo ponto em direção ao bairro da Água Branca e prolongamentos, e por este motivo o Viaduto do Chá precisou ser reconstruído.


"Quando se estabeleceu a tração elétrica, foi feito um estudo de resistência dos materiais, que resultou na construção de uma laje de cimento armado no vão central do viaduto. Nos passeios laterais foram substituídas as tábuas de madeira por lajes pousadas na estrutura metálica que oscilavam quando pisadas, como mesa de restaurante sobre assoalho mal nivelado. Entre as lajes, vãos permitiam enxergar para baixo, de sorte que a oscilação, os vãos e a pouca confiança no concreto armado convertiam em suplício a travessia do viaduto. Eu mesmo, sempre inclinado a confiar na ciência e na técnica, tive receio, nos primeiros tempos. Toda a estrutura do viaduto trepidava quando passava o bonde elétrico"(1:124)


“Atirar-se do Viaduto do Chá sobre a Rua Formosa era um processo de suicídio bastante acreditado.Juntava gente na grade para ver de cima. Juntava gente em baixo,na R Formosa. Vinha a ambulância.


Certa vez, um homem, que trazia um guarda-chuva na mão, atirou-se mais ao centro do Viaduto, sobre a chácara da Baronesa de Itapetininga. Ao saltar, abriu-se o guarda-chuva, virou o avesso e atenuou a queda. Caiu sobre um monte de areia fofa, colocada ali havia pouco. Levantou-se coxeando. Virou pelo direito o guarda-chuva, com as varetas quebradas. O povo em cima começou a vaiar. Acudiu o chacareiro. Trocaram palavras, o homem foi seguindo, coxeando, acompanhando o chacareiro, que lhe abri o portão da Rua Formosa. Estendeu a mão, despediu-se do chacareiro. Fora do portão já o esperava um policial. Falaram e foram andando juntos, o homem coxeando, com o guarda-chuva debaixo do braço”.(1:125)


Lei nº 1.230, de 26/08/1909” autoriza a rescisão do contrato de arrendamento dos terrenos existentes nos baixos do Viaducto do Chá.”


Lei n° 1304 de 17/03/1910 autoriza o calçamento a “asphalto” da zona que circunda o futuro Theatro Municipal.


Art1º - Fica o Prefeito autorizado a mandar fazer o calçamento de “asphalto” da zona que circunda o Theatro Municipal, e o de recalçamento do Viaduto....


Lei nº 1331 de 06/06/1910 aprova o plano de melhoramento da zona denominada pelo Viaduto do Chá


Em 1910, o Vale do Anhangabaú foi todo ajardinado, transformando-se no Parque do Anhangabaú, com edifícios de arquitetura européia dos dois lados do vale.


Lei nº 1457 de 09/09/1911aprova a secção do plano Bouvard relativa aos melhoramento das ruas Libero Badaró e Formosa e da parte do Vale do Anhangabaú, compreendida entre a rua de São João e o largo Riachuelo, e declara de utilidade pública diversos prédios.


Era a São Paulo dos barões do café que estava nascendo e construindo a passos largos um novo tempo.

(1) – Americano, Jorge São Paulo naquele tempo – 1895 -1915

O Viaduto dos Três Vinténs

Quando da Proclamação da República, em 1889, São Paulo era uma cidade de 100 mil habitantes; em 1895 já contava com 150mil e entrou no século XX com 200 mil.
Para se chegar aos bairros novos de Campos Elíseos e à Chácara Nothman era mais rápido atravessar o Viaduto do Chá. Seguindo reto pela rua Barão de Itapetininga dava-se na Praça da República e desta para a Lagoa do Arouche, hoje Largo do Arouche. Pela esquerda, Vila Buarque, Higienópolis. Para a direita, Campos Elíseos , Barra Funda e a Chácara do primeiro prefeito de São Paulo, Antônio da Silva Prado.(1:100) “Do viaduto do Chá viam-se os bairros industriais do Bom Retiro e da Luz”. “Sobre a estrutura metálica do viaduto atravessavam vigas de madeira de lei, cruzadas longitudinalmente pelos trilhos dos bondes de tração animal. Nos passeios laterais, o piso era de tábuas de madeira, deixando vãos de um a dois centímetros, que entonteciam os que sofrem de vertigem das alturas. Toda a estrutura do viaduto trepidava quando passavam os bondes”. (1:124)


Entregue à população, o viaduto tinha portões e guaritas de madeira em suas extremidades. Pela passagem de pedestre era cobrado um pedágio de três vinténs. O jornal O Correio Paulistano comenta em sua edição de 1897 "O viaduto é conhecido como viaduto dos três vinténs. Veículos de tração animal trafegavam normalmente; era proibido, porém, o trânsito de carros com eixo fixo”. O pedágio logo se tornou alvo de crítica da população. A luta popular foi encabeçada pelo vereador Dr. Gomes Cardim que em 1896 realizou um abaixo assinado contra a continuidade da cobrança dos três vinténs por pedestre que passasse pela ponte e para tanto argumentou: “Pelo viaduto somente transita quem paga o pedágio. Mudar o imposto como foi concebido e executar outro mais geral, fazendo que não recaia mais nos transeuntes, mas sobre todos os veículos, que transitem por ali ou não, muros, cercas, calçadas, anúncios, terrenos etc, tenham ou não relação com o viaduto. É a maior iniqüidade porque importa a concessão de um ônus tão equitativo quanto possível entre todos, desigual, vexatório e de mais gravame, que forçosamente levantará justos clamores da maioria da população”. (2)

Depois de muita briga, abaixo assinados da população, tribuna dos vereadores e defesa dos investidores da empresa o intendente de finanças foi autorizado pelo prefeito, Antônio da Silva Prado e pelo presidente da câmara Antônio Prost Rodovalho através da lei nº 276 de 30 de setembro de 1896 a encampar o Viaduto do Chá , pelo preço de 750 contos de reis, sendo o pagamento feito com títulos da Câmara ao juro de 6% ao ano e 1% de amortização. Em contra partida a municipalidade estava autorizada a aumentar 20% os impostos de viação isentando-se carroças sem molas que não poderiam trafegar pelo viaduto.


A grande verdade é que a municipalidade acabou assumindo o caminho para irreversível desenvolvimento. Não havia saída, era comprar ou comprar porque o pedágio não podia continuar e os investidores tinham o direito de cobrar para deixar passar. Assim, a única saída foi a municipalidade comprar o Viaduto

(1) – Americano, Jorge São Paulo naquele tempo – 1895 -1915


(2) – Contrato de Encampação do Viaduto do Chá – 1896 – AHMSP
A Lei 276 de 30 de setembro de 1896 encampou o Viaduto do Chá aos próprios municipais da jovem administração do município de São Paulo.