quinta-feira, 12 de agosto de 2010

O Viaduto dos Três Vinténs

Quando da Proclamação da República, em 1889, São Paulo era uma cidade de 100 mil habitantes; em 1895 já contava com 150mil e entrou no século XX com 200 mil.
Para se chegar aos bairros novos de Campos Elíseos e à Chácara Nothman era mais rápido atravessar o Viaduto do Chá. Seguindo reto pela rua Barão de Itapetininga dava-se na Praça da República e desta para a Lagoa do Arouche, hoje Largo do Arouche. Pela esquerda, Vila Buarque, Higienópolis. Para a direita, Campos Elíseos , Barra Funda e a Chácara do primeiro prefeito de São Paulo, Antônio da Silva Prado.(1:100) “Do viaduto do Chá viam-se os bairros industriais do Bom Retiro e da Luz”. “Sobre a estrutura metálica do viaduto atravessavam vigas de madeira de lei, cruzadas longitudinalmente pelos trilhos dos bondes de tração animal. Nos passeios laterais, o piso era de tábuas de madeira, deixando vãos de um a dois centímetros, que entonteciam os que sofrem de vertigem das alturas. Toda a estrutura do viaduto trepidava quando passavam os bondes”. (1:124)


Entregue à população, o viaduto tinha portões e guaritas de madeira em suas extremidades. Pela passagem de pedestre era cobrado um pedágio de três vinténs. O jornal O Correio Paulistano comenta em sua edição de 1897 "O viaduto é conhecido como viaduto dos três vinténs. Veículos de tração animal trafegavam normalmente; era proibido, porém, o trânsito de carros com eixo fixo”. O pedágio logo se tornou alvo de crítica da população. A luta popular foi encabeçada pelo vereador Dr. Gomes Cardim que em 1896 realizou um abaixo assinado contra a continuidade da cobrança dos três vinténs por pedestre que passasse pela ponte e para tanto argumentou: “Pelo viaduto somente transita quem paga o pedágio. Mudar o imposto como foi concebido e executar outro mais geral, fazendo que não recaia mais nos transeuntes, mas sobre todos os veículos, que transitem por ali ou não, muros, cercas, calçadas, anúncios, terrenos etc, tenham ou não relação com o viaduto. É a maior iniqüidade porque importa a concessão de um ônus tão equitativo quanto possível entre todos, desigual, vexatório e de mais gravame, que forçosamente levantará justos clamores da maioria da população”. (2)

Depois de muita briga, abaixo assinados da população, tribuna dos vereadores e defesa dos investidores da empresa o intendente de finanças foi autorizado pelo prefeito, Antônio da Silva Prado e pelo presidente da câmara Antônio Prost Rodovalho através da lei nº 276 de 30 de setembro de 1896 a encampar o Viaduto do Chá , pelo preço de 750 contos de reis, sendo o pagamento feito com títulos da Câmara ao juro de 6% ao ano e 1% de amortização. Em contra partida a municipalidade estava autorizada a aumentar 20% os impostos de viação isentando-se carroças sem molas que não poderiam trafegar pelo viaduto.


A grande verdade é que a municipalidade acabou assumindo o caminho para irreversível desenvolvimento. Não havia saída, era comprar ou comprar porque o pedágio não podia continuar e os investidores tinham o direito de cobrar para deixar passar. Assim, a única saída foi a municipalidade comprar o Viaduto

(1) – Americano, Jorge São Paulo naquele tempo – 1895 -1915


(2) – Contrato de Encampação do Viaduto do Chá – 1896 – AHMSP
A Lei 276 de 30 de setembro de 1896 encampou o Viaduto do Chá aos próprios municipais da jovem administração do município de São Paulo.




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