quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Viaduto do Chá da idéia a execução (1885 a 1892)

Enganam-se aqueles que pensam que aos 15 dias do mês de novembro de 1889 dormimos em um Império e acordamos em uma República. Não foi bem assim, que as mudanças aconteceram. A República era o desconhecido, o novo, a vanguarda. No entanto, não tinha máquina administrativa para se firmar e se autoconclamar. As necessárias mudanças administrativas pós-proclamação da república (1890 a 1892) refletiam-se na administração dos municípios. A mesma instabilidade política e administrativa acontecia no que como passar do tempo se tornaria as três esferas de governo, União, Estados e Municípios, pois ainda estavam em busca de um modelo político, administrativo que substituísse a organização herdada do império. Dentre os desafios de maior importância para esta mudança estava, a criação de um poder executivo municipal e estadual mais consistente.



A transição demorou alguns anos e na cidade de São Paulo se efetivou quando, da posse do primeiro prefeito Antônio da Silva Prado.


O desenvolvimento da cidade de São Paulo nos últimos vinte anos do século XIX aconteceu graças ao crescimento do capital oriundo da economia cafeeira, e contaram com a presença de imigrantes e migrantes como força de trabalho para a industrialização. Some-se a isso a estrutura de transporte existente nas três ferrovias, Sorocabana, Santos- Jundiaí e a Central do Brasil. Como conseqüência de todas estas novidades foi inevitável o aumento populacional e de atividades e a cidade de São Paulo passou a ter relações econômicas e sociais mais complexas.


São Paulo da última década do século XIX era uma cidade que começava a caminhar rapidamente em direção a ser uma metrópole.


Os profissionais que estudaram na Europa, voltaram a sua terra natal com idéias modernas e passaram a exigir do poder público e de toda a sociedade ações mais arrojadas, que colocassem a cidade de São Paulo mais próximo do que eles se acostumaram a viver nas cidades européias. Através deste ambiente social a idéia de Jules Martin apresentada a Assembléia Legislativa do Estado em 27 de janeiro de 1885 de unir a Rua Direita com Barão de Itapetininga através de um viaduto de ferro e sobre as margens do ribeirão do Anhangabaú, fazer um aterro boulevard, caiu certeira como marco para o desenvolvimento de uma nova cidade.


O projeto de Jules Martin foi aprovado pelos deputados e o governo fez um contrato de sessão de privilégio na construção da obra com o idealizador. Uma ação normal, pois nem todas as idéias tornavam-se realidade naquela São Paulo ainda pequena e que começava a enriquecer.


Em 09 de fevereiro do mesmo ano, 1885, o dono da idéia autorizado pelo estado de direito, ainda que não de fato, celebra um contrato com o Dr João Pinto Gonçalves no segundo cartório de notas da capital.


O estado só assinou o contrato autorizando de fato Jules Matin a tornar realidade a sua idéia em 18 de maio de 1888.


Para que esta concessão de Jules Martin mudasse de mão ele, ganhou seis contos de reis no momento da assinatura do contrato do Dr. João Pinto Gonçalves e outros seis contos de reis em ações da companhia ou empresa que se formasse para a execução da obra. Caso se conseguisse o sócio capitalista para a execução da obra o Sr Jules Martin ganharia mais oito contos de reis de gratificação.


A "S/A Companhia Paulista do Viaducto do Chá" iniciou em 1888 com 121 acionistas que investiram em média nove contos de reis. Para presidente os acionistas elegeram o Dr. Pomphilo Manuel Ferreira de Carvalho. Para a formação da empresa os acionistas depositaram seus valores em três diferentes casas bancárias e integralizaram o valor inicial de vinte e cinco contos de reis.


Nos estatutos da Cia Viaduto do Chá os negócios da Cia seriam dirigidos por três diretores eleitos pela Assembléia Geral dos quais, um seria presidente. Esta seria a diretoria provisória que vigorou pelos os quatro anos da construção da ponte de ferro. Os diretores eram remunerados anualmente com a importância nunca superior a um conto de reis por ano.


Após o cumprimento das determinações legais a diretoria celebrou um novo contrato com Dr. João Pinto Gonçalves e Victor Nothman onde a quantia da abertura da empresa passava a ser depositada e gerenciada na casa bancaria Victor Nothmann & Cia em 15 de setembro 1888.


Em outubro de 1888 a Cia Viaduto do Chá lavra outra escritura no mesmo cartório já com os acionistas Dr. João Pinto Gonçalves e Victor Nothmam. Nesta ocasião o presidente da empresa era João Pereira Monteiro. No ato ficou estabelecido que para a construção e fornecimento de todos os materiais, o valor ficaria em trezentos contos de reis sendo que cento e sessenta e oito contos de reis seriam pagos em ações. Dezesseis contos seriam depositados pelo presidente e os senhores Pamphido Manoel Ferreira de Carvalho e Francisco Marcondez de Souza na Casa Victor Nothmam & Cia em nome da Cia Viaduto do Chá. O montante corresponderia ao primeiro pagamento que a companhia faria para a realização das obras. A integralização deste valor equivaleria a mil e seiscentas ações da empresa. Este valor não correspondia a desapropriações e indenizações que a companhia teria de fazer em razão das obras. O prazo de execução da obra era de quatorze meses a contar da data da desapropriação definitiva. Até a primeira década do século XX, o Barão de Itapetininga e depois seus herdeiros foram os donos da chácara do Chá que incluía o Vale do Anhangabaú, região conhecida como o Morro do Chá, onde se cultivavam hortaliças e chá. De sua casa, onde hoje está a Praça do Patriarca a Baronesa de Limeira só saiu com força policial.


Assim, é verdadeiro dizer que a primeira obra urbana de São Paulo foi custeada pela iniciativa privada, tendo em vista não existir poder executivo na cidade entre 1889 e 1892. A ausência de um poder executivo municipal fica clara na matéria do Jornal Correio Paulistano de 08 de novembro de 1892 a notícia sobre a inauguração do viaduto. “No último dia 06 do corrente, nesta Capital, a festa inaugural do Viaduto de Chá, que foi entregue ao trânsito do publico, estabelecendo pronta comunicação do centro com um de seus mais pitorescos bairros.


O programa primeiramente apresentado pela comissão dos festejos foi executado fielmente, havendo extraordinária concorrência de pessoas de todas classes sociais que abrilhantaram dignamente a festa de inauguração. Esta importante obra só foi possível graças a iniciativa particular.


Dentre as pessoas que compareceram ao ato inaugural, noturno estavam o Ilustríssimo senhor Dr Bernardino de Campos presidente do estado, Rubião Junior, Alfredo Maia e Siqueira Campos secretários de Estado.


Durante todo o dia foi enorme a concorrência de famílias que foram visitar a nova obra, concorrência que se prolongou até altas horas da noite, quando o viaduto estava festivamente iluminado, apresentando então aspecto deslumbrante.


A parte metálica feita pela casa Harkot, em Dinsburg, Alemanha, chegou a esta capital em maio de 1889 pelo vapor “Pascale”.


A ponte mede na sua totalidade 240m, sendo 180m parte de ferro e 60m em aterro sobre a rua Barão de Itapetininga, deixando por baixo vastos armazéns para depósito.


A largura do viaduto é de 11m sendo 10m para o centro e 0,50cm para cada um dos dois passeios.

O trânsito de veículos será feito ao passo dos animais, indo de um lado e voltando de outro para não se encontrarem. Todo o assoalho é de pranchões de 10cm de grossura, de pinho do Paraná embebido de uma substância especial para a sua conservação; o resto é de madeira de peroba deste estado. A altura máxima do viaduto é de 20m sobre o rio Anhangabaú, sendo o ponto inteiramente de nível deixando para entrar na rua Itapetininga uma parte em declive de 3 a 4%.
     
Os pilares estão construídos sobre estacas de 7m de comprido em número de 125 por cada pilar e estão cobertos por uma camada de um metro de concreto.
Com ou sem executivo municipal o fato é que o viaduto lá estava fincado como marco de um novo tempo para a cidade.





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