terça-feira, 7 de setembro de 2010

São João a Primeira Avenida

O desenvolvimento de São Paulo ocorreu no final do séc. XIX, com o crescimento do capital gerado pela economia cafeeira, somado a presença de imigrantes e migrantes como força de trabalho. O excedente do capital da lavoura cafeeira pagava a industrialização e a nascente estrutura de transporte que se apoiava nas ferrovias. (1)

A industrialização trouxe o aumento populacional e de atividades, tornando as relações econômicas e sociais mais complexas e mais exigentes.

Era urgente que a cidade deixasse de ser uma pequena cidade para se tornar uma metrópole. Porém, o incremento de atividades no espaço urbano implicou em grandes problemas, como a falta de habitações, saneamento, energia, estruturas de circulação e equipamentos de transporte.(2)

O Centro passou por uma remodelação no início dos 1900, período da implantação dos bondes elétricos pela Light and. Power Limited.

Para desenvolver os jovens loteamentos a oeste, não bastava isentar o loteador de pagar impostos, como o caso da lei 391 de 15 de abril de 1899 que “torna extensiva a isenção de impostos as ruas abertas pela Baronesa da Limeira, situadas no prolongamento da atual Rua São João.” Para que o progresso formasse bairro era preciso fazer com que os bondes chegassem até lá.

Nos primeiros tempos os caminhos foram sendo construídos de forma espontânea, sem planejamento, ligando a região central aos arredores. Assim, para dar as ruas o rumo dos novos tempos era preciso teA Linha do Bonde em 1915Fig 128r avenidas com trinta metros de largura e ruas com no mínimo 15 metros e de preferência que todas fossem retas formando um tabuleiro de xadrez como as cidades da Europa.

O então prefeito Antônio Prado começa desapropriando através da lei nº 515 10/05/1901 “declara de utilidade publica, para fim de serem desapropriados, as casas e terrenos necessários ao prolongamento da rua entre as do Senador Queiroz e São João.” Foi dada a largada para um novo tempo.

Má idéia? Boa idéia? Discutiu-se se falou. O São João ferveu. O veneno das águas do Acú ressurgiu, espalhou-e pelo ar.

A questão da abertura da Avenida envenenou todas as almas, todos os corações. Dos que eram pró abertura da avenida e dos que eram contra a ganância especulativa e as negociatas. Desapropriações escandalosas . Dinheiro a rôdo. Cada metro de terreno, os olhos da cara. Dos contra, pela insopitável indignação à vista de tanta exploração.

Tudo envenenado pelo valor das desapropriações.

Na Câmara o brilhante vereador Alcântara Machado, tempestuoso, violento, incisivo, falou sobre a extorsão dos cofres públicos contra a desenfreada especulação das célebres desapropriações.

Mas como tudo que é humano, o vendaval passou. A Avenida São João, sugiu embora tivesse custado milhares de contos de reis. (5)

A abertura da avenida foi um grande atrativo para o desenvolvimento urbano do outro lado do Vale do Anhangabaú. Afinal era a possibilidade de fazer as ruas em linhas retas.

Em 1911 começa o governo de Raymundo Duprat que juntou toda capacidade financeira e de negociação da sua administração para “rasgar” a Avenida São João entre a Praça Antônio Prado e a rua Lopes de Oliveira em Santa Cecília. Não foi uma obra para uma administração. Todos os imóveis do lado par da então rua tiveram de abrir espaço para nascente Avenida São João.

Pessoas importantes como Maria Rodovalho Cantinho, filha do presidente da Câmara Antônio Prost Rodovalho, teve de vender mil metros quadrados a administração municipal. Depois foi a vez de Dr. Plinio da Silva Prado e Joaquim Mendonça Filho também venderem os seus metros para que o futuro se fizesse verdade.

O alargamento teria como benefício adicional a interligação entre vários bairros que estavam nascendo como Bela Vista, Santa Cecília, Bela Cintra e Água Branca.

Através da lei nº 1596 de 27de setembro de 1912 é que passa a fazer parte das desapropriações uma “planta do alargamento da rua São João desde a Pça Antônio Prado até a rua Lopes de Oliveira” (Santa Cecília).

Outra situação interessante de ser observada que é que as primeiras desapropriações são pagas por unidade. Porém, um ou outro proprietário, mais esperto, cobra sua desapropriação por metro quadrado. É o caso da lei nº 1615 08 de novembro de 1912 que “aprova o acordo feito pela prefeitura sobre o prédio nº 108 da rua: São João. Área de 927m2 (550mil reis o metro quadrado) DR. Francisco de Pennaforte Mendes de Almeida, onde 259m2 serão efetivamenteAv São João 1916Fig 129 usados para o alargamento da Rua São João”. Os restantes 660 metros quadrados, o mais caro em toda a obra, seria vendido depois a outra pessoa por valor muito menor.

Em 1913 o prefeito é autorizado a negociar com letras da Câmara e o faz através da lei nº 1644 de 07de fevereiro de 1913 que “autoriza o Prefeito a adquirir o prédio nº 282 da rua São João”. E para esta aquisição o prefeito poderia usar “letras da Câmara com juros de 6% amortizáveis no prazo de 50 anos, resgatáveis antes, se convier aos interesses da municipalidade”. Já o prédio nº 192 a lei n° 1651 de 03 março de 1913 “autorizou o Prefeito a adquirir o prédio com pagamento feito em letras da Câmara com juros de 7% a.a.” Até esta data parecia capricho do administrador municipal as seguidas desapropriações na rua São João. Somente em 1913 é que o prefeito esclarece através da lei nº 1679 de 16 abril de 1913 que “ficam declarados de utilidades públicas, a fim de serem desapropriados, os prédios e terrenos necessários para a formação da Av: São João”.

Neste anos “inicia-se o alargamento da Avenida São João, pela demolição na praça Antônio Prado, da Confeitaria Castelões e da Chapelaria Alberto. Encontra o Mercadinho e derruba-o, e, ao sair do Largo do Paissandu, deixa de pé, por longo tempo, o primeiro prédio do lado par. Em 1933 atingiu a praça Marechal Deodoro, aberta nesse tempo, e seguiu até a rua Lopes de Oliveira” (4).

“Era os velhos prédios caindo por terra, demolidos pela picareta civilizadora”. E no lugar delas nasciam grandes espaços que passavam a fazer parte do que vinte anos depois viria a ser as grandes avenidas de São Paulo.(3)

Bibliografia

(1)Bomfim, Valéria Cusinato – Tese Espaços Edificados e Vazios na Área Central da Cidade de São Paulo e a Dinâmica Urbana - São Paulo -2004

(2) Brito, Monica Silveira- Tese Modernização e Tradição: Urbanização, propriedade da terra e crédito Hipotecário em São Paulo, na segunda metade do século XIX

(3) Revista Histórica nº 11 junho/julho e agosto de 2003.

(4) Americano , Jorge – São Paulo Naquele tempo 1915 –1935

(5)) Moura, Paulo Cursino- São Paulo de Outrora – Evocações da Metropole

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