terça-feira, 21 de abril de 2015

A vida moderna exige bares e restaurantes espaços para conversar e debater.

A presença de cafés e bares ressaltados naquela lei demonstra também a importância que estes espaços assumiram na vida social de São Paulo. Os cafés, como ambiente de encontro, eram citados frequentemente na literatura que retratava a vida moderna ainda no século XIX, na Europa, quando milhares de pessoas invadiram as cidades industriais em busca de oportunidades de trabalho. São nestes espaços que os burgueses se reuniam
para conversar, debater ou observar a multidão que se deslocava pelas ruas. Diversos artistas da época retrataram o fenômeno como mostra uma passagem de Edgar Allan Poe: “Há não muito tempo, ao fim de uma tarde de outono, estava eu sentado ante, a grande janela do Café D.... em Londres(...). Com um charuto entre os lábios e um jornal ao colo, divertira-me durante a maior parte da tarde, ora espionando os anúncios, ora observando a promiscua companhia reunida no salão, ora espreitando a rua através das vidraças esfumaçadas.
Era esta uma das artérias principais da cidade e regorgitara de gente durante o dia todo. Mas, ao aproximar-se o anoitecer, a multidão engrossou e quando as lâmpadas se acenderam, duas densas e contínuas ondas de passantes desfilaram pela porta.
Naquele momento particular do entardecer, eu nunca me encontrara em situação simular e, por isso, o mar tumultuoso de cabeças humanas enchia-me de uma emoção deliciosamente inédita.
Desisti finalmente de prestar atenção ao que se passava dentro do hotel e absorvi-me na contemplação da cena exterior”.
Os cafés eram marcadamente um espaço de convivência social em diversas cidades europeias. Local de debate  e discussão que atraia a multidão presente nas praças, largos e ruas da cidade antes da industrialização. Assim, além das praças e avenidas, configuravam-se como espaços de encontros os locais de comércio e serviço onde as pessoas se dirigem para verem e serem vistas.

Bibliografia: Costa, Sabrina Studart Fontenele – relações entre o traçado urbano e os edifício modernos no Centro de São Paulo (1938 / 1960)


quarta-feira, 15 de abril de 2015

A lei incentivava novas áreas de convivência urbana.

O artigo 9º do decreto lei nº 41 buscava incentivar a criação de novas áreas de convivência no Centro. Espaços onde as pessoas pudessem circular ou permanecer. Recuos, galerias, colunatas pressupõem um projeto de paisagem urbana ao longo dessas vias. Prestes Maia havia sugerido, já nas aquarelas do Plano de Avenidas, a presença de edifícios monumentais, viadutos e equipamentos urbanos ao longo das vias, configurando uma paisagem urbana modernizada.
No início da década de 1940 o poder público buscava executar tais espaços com leis de incentivo e regulação das construções pela iniciativa privada como observado no já citado decreto-lei nº 41.
Avenida Ipiranga esquina São João- 1950
Neste sentido a avenida Ipiranga revelava-se a “menina dos olhos” do poder municipal à época da construção do Perímetro de Irradiação. Esta avenida apresentava uma relação direta com a ideia de velocidade que estava presente nas experiências das grandes capitais e também na proposta do Plano de Avenidas.
Os carros que passavam pela via poderiam ver o deslocamento de uma multidão de pessoas que passavam para trabalhar, estudar, comprar ou simplesmente passear pelas calçadas. Ali eram oferecidas aos transeuntes áreas de repouso e de permanência como cafés, bares e restaurantes.
É interessante essa ideia de associar os espaços de passagens das multidões aos espaços de velocidade dos carros pelas vias, uma vez que o discurso da arquitetura moderna defendida fortemente a separação entre os dois fluxos da maneira mais radical possível.
A separação dos fluxos de pedestres e de veículos esteve presente no discurso de Le Corbusier e foi reafirmada em outros momentos da história da arquitetura moderna. Até mesmo o VIII Congresso Internacional de Arquitetura Moderna (CIAM), quando a ideia da importância dos espaços públicos e monumentais na vida da cidade foi ressaltada pelos arquitetos modernos na vida da cidade e a tese da separação entre espaços para pedestres isolados dos eixos de circulação foi bastante defendida no Congresso Internacional de Arquitetura Moderna de 1952. Em contrapartida a isso, na região do Centro Novo, a criação destes espaços de parada e as calçadas ao longo das novas vias pressupunha uma relação entre as duas atividades. As pessoas caminhavam em paralelo as vias de carros.
A multidão e os veículos eram cada vez mais numerosos na cidade de São Paulo
. Nice L. Muller afirmava sobre o Centro de São Paulo: “basta percorrê-lo, em qualquer hora do dia, para que se observe o formigamento de suas ruas, o deslocamento apressado da massa de pedestres, o movimento ininterrupto de veículos nas vias em que ainda é permitida a circulação”.

Bibliografia: Costa, Sabrina Studart Fontenele – relações entre o traçado urbano e os edifício modernos no Centro de São Paulo (1938 / 1960)


quinta-feira, 2 de abril de 2015

A Cinelândia Paulista começou na Avenida Ipiranga

Os cinemas localizados na Avenida Ipiranga também utilizavam as colunatas como esse espaço de transição entre o público e o privado. O Cine Marabá (1944) apresentava pilotis à frente como sugeria a legislação. O pé direito alto e os elementos ornamentais com motivos marajoara da entrada criam um espaço de transição entre o edifício e a rua.
Cine Maraba na Av: Ipiranga
Ainda na Avenida Ipiranga, localizava-se um edifício de grande relevância nesse contexto: o Cine Ipiranga e Hotel Execelsior (1941). O edifício, projetado por Rino Levi apresentava em seu embasamento um cinema, enquanto um hotel se distribuía em sua torre.
O conjunto totalizava 22 andares e dispunha de entradas isoladas para os diversos usuários. Um foyer com uma colunata na frente marcava o acesso ao edifício criando um espaço de transição entre o edifício e a rua.
Naquele espaço era possível marcar encontros, reunir pessoas, ou decidir por um filme enquanto se aguardava o início de uma sessão.
A monumentalidade é garantida pelo pé direito alto no acesso, típica dos edifícios de cinema da época que remetiam ao glamour e fantasia dos filmes que ali apresentavam.
Os cinemas faziam parte de um conjunto de equipamentos urbanos que estavam associados à mudança no modo de vida da sociedade. Assistir aos filmes mais recentes, estar em dia com as novidades cinematográficas, reconhecer as melhores salas eram atividades associadas a um modo de vida moderno, fazendo parte da vida social desta população urbana e atraindo um público cada vez maior e mais heterogêneo.  Segundo Sevecenko, “o cinema, assim como os bondes e os estádios, alinha multidões de estranhos enfileirados ombro a ombro num arranjo tão fortuito e normativo como alinha de montagem”.
A região onde se implantou o Cine Ipiranga, nas proximidades do cruzamento da avenida homônima e da São João, seria caracterizada pela presença de várias salas, tornando a região conhecida como ”Cinelândia Paulista”.

Bibliografia: Costa, Sabrina Studart Fontenele – relações entre o traçado urbano e os edifício modernos no Centro de São Paulo (1938 / 1960)


domingo, 8 de março de 2015

O governo tinha a intenção de criar espaços de convivência.

O decreto lei nº 41, de 3 de agosto de 1940, do prefeito Prestes Maia demonstrava claramente a intenção do governo municipal de criar espaços de convivência. O uso de colunatas, arcadas e recuos nas entradas dos edifícios era um artifício arquitetônico quem garantia proteção no caso de intempéries e sinalizam a probabilidade de ter um espaço permeável nos térreos.
Fachada do Hotel Excelsior - São Paulo
Além disto, espaços para pausa eram criados em determinados pontos do percurso. Assim, dentro de um edifício com limites urbanos muito bem definidos, pelos lotes com o desenho da cidade Histórica, eram criados lugares que possibilitavam as trocas e sociabilidades entre os usuários da região central, funcionando como espaços semipúblico ao longo das grandes vias.
A presença de colunatas era comum nos edifícios do centro Novo. Entre eles, destacam-se os cinemas que buscavam atrair o público passante, seja pela presença de cartaz e anúncios de filmes em suas entradas, seja pela presença de elementos arquitetônicos que tornassem agradável sua estadia e permitissem ver o movimento nas ruas.
No Largo do Paissandu, por exemplo, o Cine Paissandu (1958) apresentava em seu pavimento térreo uma série de pilotis com pé direito duplo que realizava a transição entre a rua e o espaço interno do edifício, criando um espaço de espera fortemente conectado com a calçada, numa área de interesse a verticalização.
O edifício, projetado pela firma Severo e Villares S.A, era composto pela torre de escritórios acima e pelo cinema com 2.100 lugares – recuado do volume vertical.
Os cinemas localizados na Avenida Ipiranga também utilizavam as colunatas como esse espaço de transição entre o público e o privado. O Cine Marabá (1944) apresentava pilotis à frente como sugeria a legislação. O pé-direito alto e os elementos ornamentais com motivos marajoara da entrada criam um espaço de transição entre o edifício e a rua.
Ainda na Avenida Ipiranga, localiza-se um edifício de grande relevância nesse contexto: o Cine Ipiranga e Hotel Excelsior (1941). O edifício, projetado por Rino Levi, apresentava em seu embasamento um cinema, enquanto um hotel se distribuía em sua torre.

Bibliografia: Costa, Sabrina Studart Fontenele – relações entre o traçado urbano e os edifício modernos no Centro de São Paulo (1938 / 1960)


domingo, 1 de março de 2015

Criação de Espaços de Convivência

Galeria Nova Barão. Rua Barão de Itapetininga
Centro Novo de São Paulo
Na década de 1940, um fluxo alto e constante de pessoas deslocava-se na região do Centro Novo, gerando encontros inesperados e inusitados, foi uma ideia bastante difundida  entre os mais diversos grupos. Ali as nova e velhas gerações de intelectuais interagiam, como apresentado na acima. Pessoas que trabalhavam, habitavam e se divertiam nos novos edifícios. Uitos destes apresentavam uma característica nova, a permeabilidade, que seria a possibilidade de circular e penetrar pelos espaços do pavimento térreo. Outro atributo presentes em alguns edifícios da região, em especial nos edifícios modernos, era a continuidade espacial – a capacidade prolongada para o interior dos edifícios a vida urbana que acontecia fora, nos espaços públicos. No que se refere a permeabilidade, tal ideia de realizar um  percurso por dentro das quadras cortando caminho e atraindo pessoas para os interiores não era nova. Como será apresentado, foi uma ideia bastante difundida nos espaços urbanos europeus do século XIX.
Na região do Centro Novo, os espaços projetados nos térreos de alguns edifícios modernos funcionaram como áreas de circulação e de permanência do público que se deslocava apressado por diversas ruas e encontravam nas cafeterias, cafés, bares, restaurantes ou livrarias, um local para uma pausa descanso ou troca de ideias.
Vale ressaltar que tais percursos abertos pelos interiores dos edifícios de Centro Novo foram incentivados pelo poder público. O decreto – lei nº 41, de 3 de agosto de 1940, do prefeito Prestes Maia, atuava sobre a Avenida Ipiranga e suas construções, incentivado diretamente a criação de espaços de fluidez e passagem nos térreos dos edifícios dispostos ao longo desta via, conforme descrito abaixo:
Art.9 – As construções com mais de 20 pavimentos deverão ter ao nível              do passeio público reentrância ( portal, galeria, colunata ou arcada aberta), ocupando, no mínimo, 1/3 da frente do lote, com profundidade e superfície nunca inferior, respectivamente a 3,5ms e 30m2
Parágrafo único – estudará a Prefeitura a concessão oportuna de favores especiais para os prédios que não possuírem corpos elevados e cujos pavimentos térreos apresentem recuos, galerias, colunatas ou  arcadas, equivalentes a uma ampliação dos passeios, utilizáveis para mesas de café, bares, etc...
É importante compreender nessa lei a presença do termo “favores especiais”, demonstrando o grande interesse do governo municipal para a construção de tais espaços de convivência incentivando-os ao atralá-los ao desejo da iniciativa privada em construir edifícios cada vez mais altos em prol de uma maior rentabilidade econômica.
Bibliografia: Costa, Sabrina Studart Fontenele – relações entre o traçado urbano e os edifício modernos no Centro de São Paulo (1938 / 1960)


quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Prédios com localização privilegiada no Centro Novo de São Paulo

Localizado em local privilegiado do percurso é a sede do Jornal O estado de São Paulo (1946). Implanta-se no encontro da rua Major Quedinho com uma via que pertence ao Perímetro de Irradiação do Plano de Avenidas de Prestes Mais: no local onde a Av São Luiz se prolonga com o viaduto Nove de Julho.
Parte alta do prédio do jornal O Estado de São Paulo 
Sua localização mostrasse privilegiada por ser num ponto de confluência de outras duas vias importantes: a avenida da Consolação e a rua Martins Fontes, que se prolongará com a Rua Augusta. Esta localização privilegiada possibilitou a sua altura acima dos gabaritos estabelecidos no perímetro.
O projeto de Jacques Pilon e Franz Heep apresentava um programa audacioso com três diferentes funções era distribuído em um conjunto. Seguindo as regras impostas pelo Código de Obras, sua forma se dava a partir da organização de três diferentes atividades: a sede dos escritórios do jornal, um hotel com 240 apartamentos e uma rádio com auditório com capacidade para 450 pessoas – cada um com acesso diferente.
As funções presentes ali faziam parte de um programa novo na cidade vinculado à comunicação e à hospedagem, essenciais ao centro de negócios que configurava a metrópole, tendo sido inclusive o hotel realizado em função de incentivos fiscais por conta das comemorações do IV Centenário da Cidade.
O edifício em questão ressalta sua verticalidade pelo uso de um relógio que atrai olhar para o topo do prédio. Além disto, o volume curvo- parte mais alta do conjunto ressalta a monumentalidade do edifício tirando proveito da sua posição geográfica, ponto focal da Av: São Luiz.
Da mesma maneira, o edifício Barão de Iguape (1956) ganhou grande evidência urbana com sua implantação em frente à Praça Patriarca.
Localizado no ponto focal do eixo formado pelo Viaduto do Chá – rua Barão de Itapetininga – e pela Praça da república, colocava-se exatamente como a legislação de Prestes Maia supunha: como objeto de valor no contexto urbano, sendo possível alturas mais elevadas ( o prédio tem 33 andares) e estudos para aprovação da Prefeitura .
O projeto foi objeto de estudo da firma americana Skidmore, Owing and Merrill, sendo desenvolvido o executivo pelo escritório de Jacques Pilon.
A torre apresenta um desenho associado ao International Style, sem relação direta com o lugar onde se implanta.


Bibliografia: Costa, Sabrina Studart Fontenele – relações entre o traçado urbano e os edifício modernos no Centro de São Paulo (1938 / 1960) 

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Arquitetos modernos construíram a cidade de São Paulo

Salas de cinema, teatros, museus, edifícios-galerias apresentavam-se como programas já existentes, mas numa escala diferenciada. Estes novos espaços eram objetos de estudo dos arquitetos modernos que participavam de maneira mais ativa da construção da cidade legal.
Neste contexto os espaços produzidos pelos arquitetos modernos com recursos da iniciativa privada eram cada vez mais fundamentais para a construção da paisagem urbana. Ao iniciar o desenho urbano que deveria acompanhar as principais vias. A intenção era contribuir para a consolidação da imagem da cidade moderna evocada pelas grandes avenidas que estavam em execução e pelos grandes edifícios que deveriam compor o perfil das vias.
Edifício Itália visto do Edifício Copan - São Paulo
Neste sentido, mostrava-se fundamental também a construção de edifícios com caráter monumental que se destacassem na malha urbana.
Prova disto, era a existência de um artigo no Decreto-lei nº 92 que determinava que nos pontos focais ou de grande interesse arquitetônico das vias do circuito se novas avenidas poderiam ser admitidas alturas além dos limites previstos . 25% da área do lote se este for interno, 30% se for esquina, e 35% se for isolado de todos os lados por ruas. Esta altura máxima era o dobro dessas mínimas obrigatórias estabelecidas – 39 metros – para a avenida Ipiranga, um trecho da São João, Largo do Paissandu, Praça Julio de Mesquita, Largo do Arouche, Praça da república e rua Vieira de Carvalho.
Esta questão dos pontos focais como área de interesse já se apresentava no já citado texto do Plano de Avenidas. Lá se defendia que “os novos edifícios públicos devem de preferência procurar as boas artérias e pontos focais, e não as artérias os edifícios para polos à mostra”. Isto demonstrava que as vias do Plano seriam executadas em função de uma maior eficiência na circulação de veículos, enquanto que o surgimento de perspectivas visuais da cidade moderna ocorreria numa segunda etapa com a implantação de edifícios seguindo a nova legislação.
Neste sentido, a presença do Edifício Itália na paisagem do Centro Novo ganhou destaque pela sua relação com as novas vias do circuito do anel central. O edifício atingiu a altura de 151 metros (45 andares) e foi considerado por muitos anos o edifício mais alto da América Latina e o mais alto do mundo em estrutura de concreto armado.

Bibliografia: Costa, Sabrina Studart Fontenele – relações entre o traçado urbano e os edifício modernos no Centro de São Paulo (1938 / 1960)